07 Novembro 2024
"Essa conta é incomensurável! Será possível alguma restauração da alma de crianças, futuros adultos, que as bombas sobre Gaza provocam?", escreve Edelberto Behs, jornalista.
Se sobrasse uma ponta de esperança e expectativa sobre o futuro de Gaza e seus habitantes, a decisão do Knesset acaba com qualquer ilusão. Em 28 de outubro, o parlamento de Israel aprovou, por 92 a 10, projeto de lei que nega meios essenciais para o funcionamento da Agência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) e outro que proíbe a operação da agência no território soberano israelense, leia-se, também a Faixa de Gaza. As medidas devem entrar em vigor em 90 dias.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, frisou que a UNRWA é a principal fonte de entrega de ajuda humanitária. As consequências serão “devastadoras”, se a decisão de Knesst for aplicada.
Fica cada vez mais evidente que Israel quer acabar com palestinos em Gaza, onde a população já passa sede e fome. É impressionante que um povo que sofreu o que sofreu no decorrer da história – passou fome e sede no deserto, viu sua população na diáspora, foi massacrada como “ratos” pelo nazismo – use os mesmos recursos contra palestinos.
Relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) aponta o estrago que a ação israelense gerou em Gaza a partir de outubro do ano passado. A produção da construção caiu 96%, a produção agrícola 93%, a manufatura 92% e a produção do setor de serviços 76%, enquanto a taxa de desemprego chegou a 81,7% no primeiro trimestre de 2024, um percentual com potencial para se manter ou aumentar conforme a continuidade das operações militares.
Segundo a Unctad, se o conflito acabasse hoje, Gaza levaria 350 anos apenas para restaurar o PIB que tinha em 2022!
Esses dados são mensuráveis. O que dizer das consequências psicológicas, físicas, educacionais, morais que pais, jovens, adolescentes, crianças vivenciam no seu cotidiano de tiroteios, bombas destruindo edifícios, aviões e drones sobrevoando a região, o que ficará registrado no seu DNA para as próximas gerações?
“O que as crianças, as famílias, têm a ver com a guerra? Elas são as primeiras vítimas”, disse o Papa Francisco no final da audiência geral, na Praça de São Pedro, na quarta-feira, 30 de outubro. As crianças “estão pagando com suas vidas e o futuro”, declarou a diretora geral do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Catherine Russell.
Essa conta é incomensurável! Será possível alguma restauração da alma de crianças, futuros adultos, que as bombas sobre Gaza provocam?
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Uma conta sem conta. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU