23 Outubro 2024
A informação é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 23-10-2024.
Em sua décima catequese sobre o Espírito Santo, ainda realizada na Praça São Pedro em sua audiência geral de quarta-feira, 23 de outubro, o Papa quis trazer à reflexão o que chamou de "algumas migalhas da doutrina do Espírito Santo desenvolvida na tradição latina, para ver como ilumina toda a vida cristã e o sacramento do matrimônio em particular".
"O que o Espírito Santo pode ter a ver com o matrimônio? Muito, talvez o essencial, e estou tentando explicar por quê! O matrimônio cristão é o sacramento da entrega um ao outro, do homem e da mulher", destacou Francisco, que também afirmou que "a união humana é, portanto, a primeira e mais básica realização da comunhão de amor que é a Trindade".
No entanto, acrescentou, "ninguém diz que essa unidade seja uma meta fácil, e menos ainda no mundo de hoje; mas esta é a verdade das coisas como o Criador as quis e, portanto, está em sua natureza".
Nesse sentido, indicou que "as consequências dos matrimônios construídos sobre a areia estão, infelizmente, à vista de todos, e são sobretudo os filhos que pagam o preço", razão pela qual fez um pedido:
"Não seria má ideia que, junto com a informação jurídica, psicológica e moral que se dá, se aprofundasse nessa preparação 'espiritual' dos noivos para o matrimônio. 'Entre marido e mulher, não ponhas o dedo', diz um provérbio italiano. No entanto, há um 'dedo' que se deve colocar entre marido e mulher, e é precisamente o 'dedo de Deus': o Espírito Santo!", concluiu o Papa.
Na hora das saudações aos diferentes grupos de peregrinos presentes na Praça São Pedro, o Papa, ao se dirigir à comunidade de língua árabe, fez uma menção especial aos que chegaram do Líbano, pedindo "a intercessão dos novos santos, os frades franciscanos e os irmãos Massábki".
Além disso, ao se referir ao matrimônio e à família em sua catequese, em sua saudação aos peregrinos poloneses, Francisco lembrou a figura de João Paulo II, "o Papa das famílias".
Finalmente, de maneira solene, o Papa pediu: "Irmãos e irmãs, rezemos pela paz. Hoje, de madrugada, recebi as estatísticas dos falecidos na Ucrânia... A guerra não perdoa. A guerra é um fracasso desde o início. Rezemos pela paz, para que Deus nos a conceda a todos, e não nos esqueçamos de Myanmar, da Palestina, que está sofrendo ataques desumanos; não nos esqueçamos de Israel, não nos esqueçamos de nenhuma nação que está em guerra...".
Igualmente, Francisco lembrou, como fez em outras ocasiões, que "os investimentos que hoje dão mais lucros estão nos armamentos. Rezemos pela paz todos juntos", pediu antes de se recolher em oração.
Texto integral da catequese do Papa
"Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Na última vez, explicamos o que, do Espírito Santo, proclamamos no credo. No entanto, a reflexão da Igreja não se deteve nessa breve profissão de fé. Ela continuou, tanto no Oriente como no Ocidente, através da obra de grandes Pais e Doutores. Hoje, em particular, gostaríamos de reunir algumas migalhas da doutrina do Espírito Santo desenvolvida na tradição latina, para ver como ilumina toda a vida cristã e o sacramento do matrimônio em particular.
O principal iniciador dessa doutrina é Santo Agostinho. Parte da revelação de que "Deus é amor" (1 Jo 4,8). Agora bem, o amor pressupõe o que ama, o que é amado e o próprio amor que os une. O Pai é, na Trindade, o que ama, fonte e princípio de tudo; o Filho é o que é amado, e o Espírito Santo é o amor que os une [1]. O Deus dos cristãos é, portanto, um Deus "único", mas não solitário; a sua é uma unidade de comunhão e de amor.
Nessa linha, alguns propuseram chamar o Espírito Santo, não a "terceira pessoa" singular da Trindade, mas sim "a primeira pessoa plural". Ele, em outras palavras, é o Nós divino do Pai e do Filho, o vínculo de unidade entre pessoas distintas [2], o próprio princípio da unidade da Igreja, que é precisamente um "somente corpo" resultante de várias pessoas.
Como eu dizia, hoje gostaria de refletir com vocês, em particular, sobre o que o Espírito Santo tem a dizer à família. O que o Espírito Santo pode ter a ver com o matrimônio? Muito, talvez o essencial, e estou tentando explicar por quê! O matrimônio cristão é o sacramento da entrega um ao outro, do homem e da mulher. Assim o pensou o Criador quando "criou o homem à sua imagem [...]: macho e fêmea os criou" (Gn 1,27). A união humana é, portanto, a primeira e mais básica realização da comunhão de amor que é a Trindade.
Os cônjuges devem formar também uma primeira pessoa do plural, um "nós". Apresentem-se um ao outro como um "eu" e um "tu", e apresentem-se diante do resto do mundo, incluindo as crianças, como um "nós". Que bonito é ouvir uma mãe dizer a seus filhos: "Vosso pai e eu...", como disse Maria a Jesus quando o encontrou aos doze anos no templo (cf. Lc 2,48), e ouvir um pai dizer: "Vossa mãe e eu", como se fossem um. Quanto os filhos precisam dessa unidade dos pais e quanto sofrem quando falta!
No entanto, para corresponder a essa vocação, o matrimônio precisa do apoio daquele que é o Dom, ou melhor, o doador por excelência. Onde entra o Espírito Santo, renasce a capacidade de se dar. Alguns pais da Igreja latina afirmavam que, sendo o dom mútuo do Pai e do Filho na Trindade, o Espírito Santo é também a razão da alegria que reina entre eles, e não temiam utilizar, ao falar dele, a imagem de gestos próprios da vida conjugal, como beijos e abraços.
Ninguém diz que essa unidade seja uma meta fácil, e menos ainda no mundo de hoje; mas esta é a verdade das coisas tal como o Criador as quis e, portanto, está em sua natureza. É claro que pode parecer mais fácil e rápido construir sobre areia do que sobre rocha; mas a parábola de Jesus nos diz qual é o resultado (cf. Mt 7,24-27). Neste caso, portanto, nem mesmo precisamos da parábola, porque as consequências dos matrimônios construídos sobre areia estão, infelizmente, à vista de todos, e são sobretudo os filhos que pagam o preço.
De tantos cônjuges, é preciso repetir o que Maria disse a Jesus em Caná da Galileia: "Não têm vinho" (Jo 2,3). O Espírito Santo, no entanto, é quem continua realizando, no plano espiritual, o milagre que Jesus fez naquela ocasião, ou seja, transformar a água da rotina em uma nova alegria de estarem juntos. Não se trata de uma ilusão piedosa: é o que o Espírito Santo fez em tantos matrimônios, quando os noivos decidiram invocá-lo.
Não seria má ideia, portanto, que, junto com a informação jurídica, psicológica e moral que se dá, se aprofundasse nessa preparação "espiritual" dos noivos para o matrimônio. "Entre marido e mulher, não ponhas o dedo", diz um provérbio italiano. No entanto, há um 'dedo' que se deve colocar entre marido e mulher, e é precisamente o 'dedo de Deus': o Espírito Santo!"
[1] Cf. S. Agustín, De Trinitate, VIII,10,14)
[2] Cf. H. Mühlen, Una mystica persona. La Iglesia como misterio del Espíritu Santo, Città Nuova, 1968. [3] Cf. san Hilario de Poitiers, De Trinitate, II, 1; san Agustín, De Trinitate,
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Francisco denuncia na audiência geral que "a Palestina está sofrendo ataques desumanos" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU