26 Setembro 2024
O Relatório sobre Migrações Mundiais 2024 destaca o “estereótipo sexual” que mulheres brasileiras enfrentam em Portugal, estigmatizadas como trabalhadoras de sexo, o que as coloca em riscos de sofrerem assédio sexual e violência de gênero.
A reportagem é de Edelberto Behs.
O chefe de Missão da Organização Internacional para as Migrações (OIM) em Portugal, Vasco Malta, confirmou à ONU News que esse tipo de preconceito ainda persiste no país. Essa realidade, disse, “faz com que essas mulheres tenham dificuldade em encontrarem uma habitação condigna”, e são vítimas de preconceito, xenofobia e racismo.
A psicóloga Mariana Braz, que vive em Portugal há sete anos, conheceu essas dificuldades, tanto que lançou, em 2020, junto com outas quatro mulheres, o projeto Brasileiras Não Se Calam, uma página no Instagram, com mais de 54 mil seguidoras, que recolhe relatos de assédio e discriminação contra brasileiras não só em Portugal, mas em todo o mundo.
Ela informou à ONU News que o projeto já recebeu centenas de relatos de brasileira que vivem na Espanha, Alemanha, Inglaterra, Japão e do Egito. Mariana arrola que a discriminação acontece nos mais diversos espaços, desde os transportes públicos, local de trabalho, até nas universidades.
A história que mais a deixou impactada foi relatada por uma adolescente brasileira em Portugal que foi vítima de assédio sexual por parte de colegas na escola. A menina procurou a direção da escola para relatar o acontecido e acabou sendo culpabilizada “porque é brasileira e foi para a escola de calça jeans”.
Muitos dos relatos, afirma Mariana Braz, “estão ligados a um suposto corpo colonial que é enxergado como podendo ser tocado sem consentimento, que é visto como exótico, como promíscuo e, por isso, supostamente sempre disponível para o ato sexual”. Esses preconceitos, lamenta, forma construídos ao longo dos séculos, com início na colonização do Brasil, e que se mantêm até hoje no imaginário social português.
Leia mais
- Por que precisamos entender mais sobre o assédio?
- Assédio no transporte e sobrecarga de trabalho: pesquisa mostra como é ser mulher em São Paulo
- Mulheres denunciam assédios, homens desconversam
- “Violência e misoginia nas plataformas web: assim triunfa a cultura do estupro”. Entrevista com Lucia Bainotti e Silvia Semenzin
- Quando a violência masculina duplica
- Violência de gênero: quando o Estado abandona a vítima e nutre ciclo de ataques. Entrevista especial com Márcia Soares
- Cartilha aborda alternativas para combater a violência de gênero digital
- Brasil vive epidemia de violência de gênero
- Conselho Mundial de Igrejas – CMI debaterá violência de gênero
- “O feminismo punitivo não estabelece uma conexão entre a violência de gênero e a violência sistêmica”. Entrevista com Françoise Vergès
- Violência de gênero: quando o Estado abandona a vítima e nutre ciclo de ataques. Entrevista especial com Márcia Soares