25 Setembro 2024
"‘Deus me livre’ digo eu ao elevado teor machista que corre nas veias desse cidadão! O problema é que essa linha de raciocínio não se restringe ao ex-executivo da G4. É linear e estrutural em nossa sociedade. Lugar comum falar a respeito? Pode até ser, mas precisamos refutar essa ideia estapafúrdia sempre que ela vem à tona", escreve Katia Luane, produtora de conteúdo, em artigo publicado por Alter Conteúdo, 24-09-2024.
Ela comenta a recente declaração do (agora) ex-CEO da G4 Educação, Tallis Gomes, um homem de 37 anos com cabeça secular. "Gomes enfatizou que ‘Deus me livre de mulher CEO’. Em suas palavras, ‘salvo raras exceções, mulheres em cargos de liderança passam por um processo de masculinização’".
Desqualificar, oprimir, intimidar, assediar, humilhar e violentar as mulheres são armas recorrentes que os homens sacam para se desfazer do sexo feminino. E os machos garantem que gostam de mulher! Gostar até gostam, mas gostam de desfrutar do corpo feminino como quem bebe cerveja e joga futebol – expressões máximas do universo masculino.
Em nossos círculos sociais conhecemos vários tipos de homens. Poucos, porém, me arrisco a observar, valorizam a jornada de suas respectivas mulheres. Isso porque eles não reconhecem que podemos ser múltiplas e eficientes no que nos empenhamos a fazer.
Muitas mulheres encaram a chamada tripla jornada – cuidam dos filhos e trabalham dentro e fora de casa. Pesquisa do IBGE, intitulada ‘Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil’, mostrou que mulheres que trabalham fora de casa dedicam cerca de 80% a mais do seu tempo do que os homens nos trabalhos domésticos.
Essa observação é para abordar a recente declaração do (agora) ex-CEO da G4 Educação, Tallis Gomes, um homem de 37 anos com cabeça secular. Gomes enfatizou que ‘Deus me livre de mulher CEO’. Em suas palavras, ‘salvo raras exceções, mulheres em cargos de liderança passam por um processo de masculinização’.
‘Deus me livre’ digo eu ao elevado teor machista que corre nas veias desse cidadão! O problema é que essa linha de raciocínio não se restringe ao ex-executivo da G4. É linear e estrutural em nossa sociedade. Lugar comum falar a respeito? Pode até ser, mas precisamos refutar essa ideia estapafúrdia sempre que ela vem à tona.
O problema dos homens em relação ao sucesso das mulheres é que eles não aguentam encarar a nossa força e a nossa pluralidade. Eles não aguentam o fato de sermos muito mais do que corpos e rostos bonitos.
Os homens não aguentam que podemos ser mulheres 360º e sermos muito além de mães de seus filhos. Por isso nos agridem com palavras e força bruta quando dizemos não aos seus caprichos. Eles nos matam!!!! No primeiro semestre deste ano, cinco mulheres foram assassinadas por dia no Brasil, segundo dados do Laboratório de Estudos de Feminicídio (LESFEM), da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Voltando às declarações do ex-presidente da G4 (‘Deus me livre de mulher CEO’), Luiza Helena Trajano, uma das empresárias mais respeitadas do país, que atuou como CEO da rede Magazine Luiza e atualmente preside o Conselho de Administração do grupo, rebateu em seu LinkedIn: ‘Às mulheres, peço que não deixem que posicionamentos como esse abalem seus desejos e opções. Quem te irrita, te domina. Não deixemos a irritação nos dominar. O que interessa é que juntas somos mais fortes’.
Esse é o caminho: lutarmos por uma igualdade de gênero no mercado de trabalho, por salários justos e não inferiores aos dos homens no exercício da mesma função. Lutarmos para que nossa eficiência não seja deturpada como processo de masculinização. Buscarmos o reconhecimento que nos é devido.
Tenho fé e esperança por uma sociedade antimachista.
Deus me livre que as netas das minhas amigas, ao chegarem ao mundo, encontrem homens que acreditam que lugar de mulher é em casa cuidando dos filhos e lavando suas cuecas!
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Eles não aguentam. Artigo de Katia Luane - Instituto Humanitas Unisinos - IHU