19 Setembro 2024
Levantamento do IPAM estima que o desmatamento do Cerrado entre janeiro de 2023 e julho de 2024 emitiu mais de 135 milhões de toneladas de CO2.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 19-09-2024.
O desmatamento do Cerrado no último ano e meio foi responsável por emissões de gases de efeito estufa quase equivalentes às da indústria brasileira. Essa é a conclusão de um novo estudo divulgado pelo IPAM, que estimou que a perda de vegetação nativa no bioma lançou mais de 135 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera entre janeiro de 2023 e julho de 2024, quase o mesmo que as emissões de todo o parque industrial nacional, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima (OC).
Os dados foram obtidos a partir de imagens de satélite do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) Cerrado. O levantamento identificou que as perdas de formações savânicas, a mais predominante no bioma, representaram 65% do total de emissões associadas ao desmatamento, com cerca de 88 milhões de toneladas de CO2.
A savana do Cerrado é a mais rica e biodiversa do planeta. No entanto, como o IPAM lembrou, sua preservação esbarra em problemas crônicos da política ambiental, que costuma priorizar a proteção de formações florestais em detrimento de outros tipos de ecossistemas.
O fato de que mais de 60% da vegetação remanescente do Cerrado estar em áreas privadas também é um obstáculo. “Pelo Código Florestal, essas propriedades podem legalmente desmatar até 80% da vegetação nativa em seus terrenos. É um cenário sensível para a proteção do bioma, que expõe a lacuna de políticas de incentivo para evitar o desmatamento, ainda que legal, e demanda também mais fiscalização para averiguar o desmate ilegal”, explicou Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM responsável pelo SAD Cerrado.
De acordo com o estudo, as emissões decorrentes do desmatamento no Cerrado se concentraram na região do Matopiba, a fronteira agrícola que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Ao todo, 80% das emissões vieram de perda de vegetação na região, um total de 108 milhões de toneladas de CO2, o equivalente a 50% das emissões totais do setor de transportes, segundo dados do SEEG.
Não coincidentemente, esses estados lideraram a relação dos maiores emissores de CO2 decorrentes do desmatamento do Cerrado. O Maranhão, líder de desmate no período analisado (301 mil hectares), liberou 35 milhões de toneladas de CO2. Segundo na lista, com 273 mil hectares desmatados, o Tocantins emitiu 39 milhões de toneladas de CO2.
Agência Brasil, Brasil de Fato, CNN Brasil, g1 e R7, entre outros veículos, repercutiram essas informações.
Leia mais
- Fogo queimou 88 milhões de hectares do Cerrado nos últimos 39 anos
- Cerrado é bioma mais devastado do Brasil
- Dia do Cerrado: bioma rivaliza com Amazônia em número de incêndios
- 'Deixar Caatinga e Cerrado fora da Constituição foi estratégico para setores econômicos conservadores', diz Alexandre Pires
- Agronegócio alimenta crise climática, que pode inviabilizar 74% das terras agrícolas na Amazônia e no Cerrado
- Cerrado e Pantanal: biomas mais perderam superfície de água no Brasil
- Cerrado perde 53% da superfície de água natural em 38 anos
- Cerrado enfrenta a pior seca em pelo menos 700 anos
- Desmatamento no Cerrado vai chegar a 12 mil km² em 2024, caso ritmo se mantenha
- Código Florestal é insuficiente para a proteção do Cerrado, diz Marina Silva
- Cerrado supera Amazônia e se torna o bioma mais desmatado do país, mostra MapBiomas
- Desmatamento e irrigação de lavouras fazem rios do Cerrado minguarem
- 70% dos brasileiros ignoram que Cerrado é fonte nacional de água
- Crise climática vai encolher produção e aumentar emissões no Cerrado
- Cerrado: o que será do megacorredor da onça-pintada
- Relatório liga crimes no Cerrado a gigantes da moda europeus
- Crise do clima encolherá produção e aumentará emissões no Cerrado
- 81% do desmatamento no Cerrado em 2023 foi concentrado em cinco bacias hidrográficas
- Desmatamento no Cerrado vai chegar a 12 mil km² em 2024, caso ritmo se mantenha
- Desmatamento no Matopiba põe em risco o abastecimento de água de mais de 300 cidades
- 93% das bacias do Cerrado devem ter redução na disponibilidade de água