20 Julho 2024
Experiência espiritual cristã e novas formas de espiritualidade: nasce desse confronto um percurso que explorará as diferentes questões, linguagens e percursos que dão corpo à busca de sentido que sempre habitou o coração do homem. “A espiritualidade hoje. Forma, estilos, práticas” é o título do seminário-laboratório de teologia espiritual promovido para o ano acadêmico 2024-2025 pelo ciclo de licenciatura da Faculdade Teológica do Triveneto. O evento será conduzido pelos professores Marzia Ceschia e Daniele La Pera, que entrevistamos.
A entrevista com Marzia Ceschia e Daniele La Pera, é de Paola Zamperi, publicada por Settimanna News, 11-07-2024.
Marzia Ceschia e Daniele La Pera, o que as mulheres e os homens contemporâneos procuram?
O homem e a mulher de todos os tempos estão em busca de sentido, de um significado que resista à fragilidade, à vulnerabilidade que todos nós experimentamos, e que seja capaz de revelar o valor inequívoco, insuprimível de nossa própria existência. Procurar o sentido é também procurar os critérios que orientem nossas escolhas, que funcionem como pontos de luz, como indicadores.
Hoje, a crise dos quadros de referência, a exaltação do indivíduo e de suas necessidades, a precariedade das experiências em múltiplos âmbitos da vida humana (desde o relacional até o laboral, e o religioso), a pretensão da técnica de responder a perguntas que anteriormente eram consideradas estritamente religiosas (como a de uma vida “eterna”) tornam essa busca mais difícil, às vezes até dramática.
Quais os caminhos de sentido, quais as linguagens e experiências que caracterizam a necessidade de dar significado, sentido, orientação à existência?
Primeiramente, é importante notar que hoje o termo “espiritualidade” abarca questões muito diversas, com uma grande variedade de linguagens e percursos. Comparado ao passado, as experiências espirituais são mais percebidas como experiências individuais, que não necessitam de mediações ou de confrontos institucionais. Nem exigem uma relação com uma transcendência.
A busca de sentido tende a se resolver em uma construção de significados imanente – sempre reformulável – que pode fazer coincidir o “espiritual” com o bem-estar subjetivo. Não há, portanto, pontos de chegada absolutos, definitivos, mas itinerários não normativos, que podem, de tempos em tempos, incluir aspectos de diferentes religiões e espiritualidades. O indivíduo é a medida.
A experiência espiritual cristã se depara com a tendência atual de uma espiritualidade não religiosa, distante das formas da tradição cristã. Que imagem de Deus, do divino, do religioso as novas espiritualidades veiculam?
Este será um dos temas de investigação do seminário-laboratório, no qual se exercerá um estudo sem preconceitos e capaz de escuta. A questão da imagem de Deus e do divino é de interesse fundamental, tanto aquela transmitida pelas religiões tradicionais quanto aquela veiculada pelas novas espiritualidades, com atenção para captar continuidade e descontinuidade entre uma e outra.
As novas espiritualidades preferem o interesse por um estilo de vida mais do que por uma relação pessoal com Deus. O divino é percebido mais nos termos de “energia”, de abordagem ao sagrado, um sagrado de contornos móveis, que não inclui apenas o “religioso”, mas pode conotar o saber científico, o psicológico, vários âmbitos e momentos da vida pessoal. Um sagrado indubitavelmente fluido e plural, em suma.
Quais são os pontos de contato e quais as divergências entre as formas e práticas não religiosas e a perspectiva cristã?
Certamente, entre os pontos de contato está a busca de um sentido para a existência, tanto quanto para a morte, e a tensão para identificar percursos, caminhos de liberdade e crescimento pessoal.
A perspectiva cristã não pode, obviamente, fugir do Deus de Jesus Cristo e de uma relação pessoal-obediencial com o Pai no Espírito. É uma espiritualidade que se encarna dentro de uma resposta, um consentimento livre à autocomunicação de Deus, sujeito primeiro da experiência, para entrar em uma relação transformadora que, no Verbo Encarnado, encontra seu critério e na comunhão-comunidade sua verificação.
Quais provocações as novas espiritualidades lançam à Igreja hoje?
A atual busca espiritual merece ser profundamente escutada pela Igreja, em primeiro lugar para se converter a uma vida cada vez mais autenticamente evangélica.
Muitos hoje recorrem a práticas e cultos alternativos, não apenas a religiões e filosofias orientais, mas também, por exemplo, ao mundo variado das medicinas e terapias não convencionais: mais do que temer ou criticar essa tendência, é importante verificar a qualidade do testemunho cristão, mas também os conteúdos formativos que talvez tenham dado pouco espaço justamente àquilo que as pessoas procuram em outros lugares.
Sobre a experiência da oração, da meditação, da concepção integral do corpo, da mística, a tradição cristã tem muito a contar. Séculos de experiência a compartilhar. Ouvindo a sede, a pergunta dos homens e mulheres de nosso tempo, a Igreja pode realmente tirar "do seu tesouro coisas novas e coisas antigas" (Mt 13,52). Conhecer, dialogar e discernir é o desafio e também o caminho a percorrer.
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A espiritualidade hoje. Formas, estilos, práticas. Entrevista de Marzia Ceschia e Daniele La Pera - Instituto Humanitas Unisinos - IHU