28 Junho 2024
- Uma mulher envergonhada e temerosa se aproxima secretamente de Jesus, confiante de que será curada de uma doença que há muito a humilha.
- A cura ocorre quando ela consegue se libertar da lei para confiar em Jesus... Naquele profeta, enviado por Deus, há um poder capaz de salvá-la...
- Seria anacrônico apresentar Jesus como um feminista moderno... Sua mensagem é mais radical: a superioridade do homem e a submissão da mulher não vêm de Deus.
- A relação entre homens e mulheres ainda é doente, mesmo dentro da Igreja.
O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, publicado por Religión Digital, 24-06-2024.
Eis o artigo.
Uma mulher envergonhada e temerosa se aproxima secretamente de Jesus, confiante de que será curada de uma doença que há muito a humilha. Arruinada pelos médicos, sozinha e sem futuro, ela vem a Jesus com muita fé. Ele só busca uma vida mais digna e saudável.
No pano de fundo da história um problema sério pode ser adivinhado. A mulher sofre de perda de sangue: uma doença que a obriga a viver em um estado de impureza ritual e discriminação. As leis religiosas a obrigam a evitar o contato com Jesus e, no entanto, é justamente esse contato que poderia curá-la.
A cura ocorre quando essa mulher, educada em categorias religiosas que a condenam à discriminação, consegue libertar-se da lei para confiar em Jesus. Nesse profeta, enviado por Deus, há um poder capaz de salvá-la. Ela "notou que seu corpo estava curado"; Jesus "percebeu o poder salvífico que dele havia saído".
Esse episódio, aparentemente insignificante, é mais um expoente do que está constantemente registrado nas fontes evangélicas: a ação salvífica de Jesus, sempre empenhado em libertar as mulheres da exclusão social, da opressão masculina na família patriarcal e da dominação religiosa no seio do povo de Deus.
Sua mensagem é mais radical: a superioridade do macho e a submissão da fêmea não vêm de Deus. É por isso que entre seus seguidores eles devem desaparecer. Jesus concebe seu movimento como um espaço sem dominação masculina.
Seria anacrônico apresentar Jesus como um feminista moderno, comprometido com a luta pela igualdade de direitos entre mulheres e homens. Sua mensagem é mais radical: a superioridade do homem e a submissão da mulher não vêm de Deus. É por isso que entre seus seguidores eles devem desaparecer. Jesus concebe seu movimento como um espaço sem dominação masculina.
A relação entre homens e mulheres permanece doente, mesmo dentro da Igreja. As mulheres não conseguem perceber com transparência "o poder salvífico" que vem de Jesus. É um dos nossos grandes pecados. O caminho da cura é claro: suprimir as leis, costumes, estruturas e práticas que geram discriminação contra as mulheres, fazer da Igreja um espaço sem dominação masculina.
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Um espaço sem dominação masculina. Artigo de José Antonio Pagola - Instituto Humanitas Unisinos - IHU