19 Junho 2024
"O livro não se limita a descrever e analisar fatos ocorridos há seis décadas; ele reflete, com ferramentas teóricas distintas, como os desdobramentos daqueles eventos se deram no tempo e foram ressignificados - sobretudo no governo Bolsonaro", escreve Nelson Lellis, doutor em Sociologia Política pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Bolsista pós-doc em Políticas Sociais (UENF).
O livro intitulado A Igreja e a política: católicos e catolicismos em metamorfose (2024), organizado por Sílvia Fernandes e Nelson Lellis, chega no momento em que se reflete os 60 anos da ditadura civil-empresarial-militar no Brasil. Para além dos aspectos próprios da política, as questões que tangenciam a esfera religiosa são caras quando o assunto é interpretar o período em questão. Há importantes registros sobre o envolvimento da Igreja Católica enquanto instituição, bem como de personagens católicos que participaram ativamente daquele cenário, mas esse livro conjuga história com seu desenvolvimento teológico e político, o que ajuda a organizar tanto sua ala conservadora quanto grupos progressistas que tornam a Igreja ainda mais plural.
“A Igreja e a política: católicos e catolicismos em metamorfose” (2024) por Sílvia Fernandes e Nelson Lellis (Foto: Reprodução)
A Igreja e a política relê documentos, interpreta a relação complexa da Igreja com diferentes setores da ditadura, relembra eventos como as marchas católicas que foram, incialmente, uma resposta ao comício de João Goulart – que tratava sobre seu programa político de reforma (combatido pela direita) e era interpretado por religiosos como um discurso “esquerdista”; a obra também menciona e discute personagens como Evaristo Arns, Hélder Câmara, Antônio Fragosa, Pedro Casaldáliga, e um capítulo específico sobre Frei Tito de Alencar Lima, importante nome da militância político-social e da defesa de causas sociais.
O livro não se limita a descrever e analisar fatos ocorridos há seis décadas; ele reflete, com ferramentas teóricas distintas, como os desdobramentos daqueles eventos se deram no tempo e foram ressignificados - sobretudo no governo Bolsonaro. Portanto, trata-se de um trabalho hermenêutico sobre uma relação (Igreja e política) que, na prática, não aparenta apresentar esferas bem definidas, ampliando, inclusive, a forte participação de evangélicos na política profissional e sua influência na sociedade brasileira. Certamente, A Igreja e política tem muito a nos dizer sobre o passado (naquela relação com a ditadura), sobre o presente (na ressignificação de movimentos) e oferece caminhos para se discutir o que há de vir, mas sem profecias, apenas por observar como os eventos têm ocorrido e como católicos e catolicismos se metamorfoseiam.
Prefácio – Cecília Mariz
Introdução – Sílvia Fernandes e Nelson Lellis
Capítulo 1. Primeiro como tragédia e a segunda como farsa: as marchas católicas e a urdidura do discurso conservador no Brasil – Aline Alves Presot e Paulo Gracino Júnior
Capítulo 2. Catolicismo e política: históricas dissonâncias e novas roupagens – Sílvia Fernandes
Capítulo 3. Distanciamentos e aproximações entre católicos integristas e o Centro Dom Bosco – Leonardo de Almeida Tavares dos Reis
Capítulo 4. Política Católica: da resistência ao diálogo com o mundo – Edebrande Cavalieri
Capítulo 5. Progressismo na Igreja Católica: um diálogo possível? – Jamile Baiense de Souza Gonzaga
Capítulo 6. Decorrências do pontificado de Francisco no Brasil – André Ricardo de Souza
Capítulo 7. Ascensão da direita cristã brasileira: ecumenismo político sim! ecumenismo eclesial não! – Brenda Carranza e Marina Basso Lacerda
Capítulo 8. ORVIL e as Marchas Religiosas como protesto, triunfo e movimento – Leonardo Gonçalves de Alvarenga, Nelson Lellis e Vanessa Palagar
Capítulo 9. Memórias e resistência na militância religiosa contra o regime ditatorial no Brasil: O caso de Frei Tito de Alencar Lima – João Marcus Figueiredo Assis
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'A Igreja e a política: católicos e catolicismos em metamorfose'. Artigo de Nelson Lellis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU