16 Abril 2024
Os ingleses levaram a fama de construírem um império em que o sol jamais se punha. Mas foram os portugueses que primeiro conseguiram a façanha. “Após chegarem à Índia, os lusos alcançariam o Brasil, a China, o Japão e a Austrália. Tornar-se-iam, com isto, o primeiro povo do mundo a desembarcar nos cinco continentes (Europa, África, Ásia, América e Oceania)”, lembra o escritor e jornalista Eduardo Bueno no seu livro Brasil, terra à vista, editado pela L&PM em 2022.
A reportagem é de Edelberto Behs.
Esses senhores, “donos” do mundo, foram considerados “bárbaros” pelos governantes de Caliculte, na costa ocidental da Índia, onde Pedro Álvares Cabral, depois de “descobrir” o Brasil, ancorou sua frota em 13 de dezembro de 1500, seis meses e quatro dias após zarpar de Lisboa. O caminho marítimo fora explorado pelo navegador português Vasco da Gama, que chegou à Índia em 27 de maio de 1498.
Os portugueses da expedição cabralina fediam, assim “como os demais europeus do século XVI, tomavam de um a dois banhos por ano”, conta Bueno. Já em Calicute, as casas tinham lagos de água onde seus moradores se banhavam, de duas a três vezes por dia. No Brasil, os portugueses aprenderam a tomar banho com as comunidades indígenas.
A descoberta de um caminho para as Índias era de interesse fundamental para os portugueses no comércio de especiarias. De tão corriqueiras hoje, não se tem noção o quanto eram valorizadas na época dos descobrimentos. A pimenta, relata Bueno, chegou a ser uma espécie de moeda especulativa, “como o dólar nos dias de hoje. ‘Caro como a pimenta’ era uma expressão usual na Europa”. As especiarias, “além de suas aplicações medicinais, ajudavam a preservar os alimentos, em especial a carne”, muito consumida na Europa.
Para se ter uma ideia da importância desse comércio e da rota marítima ultrapassando o cabo da Boa Esperança, no sul da África, para alcançar a Índia, Cabral, por exemplo, foi regiamente pago pelo serviço: “o comandante-mor ganhou dez mil cruzados. Como cada cruzado equivalia a 3,5 gramas de ouro, Pedro Álvares embolsou 35 quilos do metal para comandar a segunda armada da Índia”. Navegar por águas antes nunca alcançadas gerava medo e insegurança. Tripulação tinha que ser bem paga.
A frota de Cabral, com nove naus, três caravelas e uma nave da mantimentos, foram capitaneados por capitães de origem nobre. Mas pelo menos 10% dos tripulantes da frota de Cabral, integrada por 1,5 mil pessoas, “eram crianças entre 9 e 15 anos de idade. Algumas haviam sido recrutadas compulsoriamente, mas a maioria fora alistada pelos próprios pais, que embolsavam o soldo dos meninos”.
Bueno relata que antes de zarparem de Lisboa, os marujos assinavam seu testamento e recebiam um ano de salário adiantado. Não era para menos. “A cada três navios que partiam de Portugal, uma era ‘comido pelo mar’, expressão utilizada na época que significava o naufrágio ou o fato de uma nau simplesmente ficar à deriva e perder-se da frota numa calmaria ou numa tempestade”. Dos 1,5 mil homens da tripulação de Cabral, cerca dois terços retornaram a Portugal.
Os portugueses, como mestres navegadores, preparados pela Escola de Sagres, deixaram registradas medidas aplicadas na navegação que são usadas até os dias de hoje. A capacidade dos navios, explica Bueno, era medida pelo número de tonéis a bordo, origem da expressão “tonelagem”.
“Para calcular a velocidade de seus navios, os marujos jogavam ao mar um pedaço de madeira amarrado a uma corda cheia de nós. Então cotavam o número de nós que passavam por entre os dedos durante meia hora, medindo o tempo com uma ampulheta. Até hoje a velocidade dos navios é medida em ‘nós’”.
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Portugueses já foram os “donos” do mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU