15 Abril 2024
Dos 12 municípios com fábricas da empresa mais citados em seus relatórios anuais, 11 tiveram aumento de inscritos no Bolsa Família entre 2013 e 2023.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 12-04-2024.
Uma das maiores produtoras de proteína animal do mundo, a JBS, tem hoje uma receita anual que gira em torno de R$ 350 bilhões, apesar das constantes acusações de envolvimento da empresa com desmatamento. A cifra é maior que o PIB de 19 estados e do Distrito Federal. No entanto, enquanto as contas bancárias da companhia não param de crescer, o mesmo não se pode dizer de seus trabalhadores e das cidades onde instalou unidades. Um processo marcado por concentração de renda e agravamento da fome e da pobreza nos municípios onde opera.
A conclusão é do estudo “Alimentando a desigualdade: os custos ocultos do monopólio industrial da carne”, de Raisa Pina, pesquisadora visitante do King’s College London e do Centro Latino-Americano da Universidade de Oxford. O estudo traça um retrospecto das políticas públicas e decisões governamentais, fundamentais para levar o pequeno açougue em Anápolis (GO) à liderança global no processamento de proteínas animais e mostra a disparidade entre os resultados da JBS e os ganhos socioeconômicos, destaca Mariana Costa n’O Joio e O Trigo, matéria que foi reproduzida pelo Nexo.
Segundo a pesquisa, a JBS tem mais de 100 mil funcionários recebendo, em média, R$ 1,7 mil mensais, pouco acima do salário mínimo [R$ 1.412], informa a Agência Pública. Na outra ponta, cada um dos seus cinco principais executivos fatura o equivalente a R$ 2 milhões por mês, relata o Gigante 163.
Com salários tão baixos, dificilmente os funcionários da JBS têm condições de movimentar o comércio local e fortalecer a economia dos municípios onde a companhia está presente. Isso é comprovado pelo aumento de pedidos de Bolsa Família em 11 das 12 cidades onde opera entre 2013 e 2023. Nesse mesmo período, houve um aumento de 303% na receita da companhia.
O sucesso empresarial da JBS, a despeito dos baixos salários e do empobrecimento dos municípios onde está, contou com um importante apoio do BNDES, graças a uma política de empréstimos a juros mais baixos que os do mercado. O banco hoje é detentor de 20,8% das ações da JBS, o segundo maior acionista após a própria família Batista, que até hoje exerce o controle da empresa.
Na última década, a empresa recebeu aportes da ordem de R$ 31 bilhões do banco público. Um dos pontos para justificar esse tipo de investimento por parte de empresas estatais é o retorno social. Mas, dos 12 municípios analisados, apenas São Miguel do Guaporé (RO) diminuiu em 41% a dependência do Bolsa Família.
“Existe um paradoxo claro: o Brasil tem a maior empresa de alimentos do mundo e, ao mesmo tempo, vê a fome da população aumentar. Considerando os investimentos públicos e a participação do Estado na governança da empresa, esse paradoxo não pode ser naturalizado”, afirmou Raisa.
Falando em BNDES e JBS, o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu arquivar o processo que analisava as condutas de executivos e funcionários do banco em operações de financiamento à companhia entre 2005 e 2014. O Globo lembra que o apoio à JBS foi um dos destaques na chamada “política de campeões nacionais”, como ficou conhecido o apoio do BNDES, na gestão de Luciano Coutinho, para a formação de grandes grupos empresariais nacionais. A fiscalização do TCU, que demorou mais de 10 anos, reconheceu a legalidade e o benefício financeiro para o banco das operações de financiamento da JBS na aquisição da Pilgrim’s Corporation e Bertin S.A. e apontou que o grupo J&F, controlador da JBS, recebeu em investimentos da BNDESPAR o total de R$ 8,1 bilhões, que, segundo a corte, geraram benefícios econômicos de R$ 22,9 bilhões ao banco estatal. Correio Braziliense, Veja, Metrópoles e CNN noticiaram o arquivamento pelo TCU.
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Cidades onde JBS se instalou tiveram aumento da pobreza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU