09 Abril 2024
Lidia Maggi é teóloga e pastora batista: seu ministério, sua vocação, é fazer conhecer as Escrituras. Ela vem de uma família complicada, cresceu em um orfanato batista onde encontrou “casa” e uma educação religiosa, baseada na palavra de Deus, o canto. Quando criança queria se tornar esposa de um missionário, e depois entendeu que ela mesma poderia ser missionária. E se casou com um pastor, que por sua vez se tornou missionário da palavra.
A entrevista é de Monica Mondo, publicada por Donne Chiesa Mondo, abril de 2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mas para levar a Palavra, para ter a responsabilidade de uma comunidade enraizada em Cristo, é preciso ter uma ligação com ele, orar.
Para mim, orar significa falar com Deus, pensar nele não só como uma energia, uma força, mas como uma pessoa que, portanto, comunica, fala. O fundamento da nossa fé é a palavra, que se fez carne. A oração não é apenas espaço contemplativo, meditativo, mas sobretudo diálogo com um Outro. A imagem de Deus é a de alguém que se comunica.
Mas como se escuta essa voz de Deus? Muitas vezes se corre o risco de ouvir a nossa própria voz.
Assumo que é Outro de mim e quebra o meu monólogo, as minhas listas de compras.
É um corretivo para a nossa necessidade de transbordar. Antes de tudo, Deus fala a mim assim, através da Palavra que leio e interpreto conforme a minha responsabilidade. Uma palavra que não é uma voz no minha cabeça, mas está enraizado na Bíblia.
A oração é reconhecer que você não está sozinho. Mas às vezes parece uma ilusão.
Refiro-me a uma confiança que nunca é certeza de que exista um interlocutor. Mas a oração é a dimensão que me ajuda a acertar as contas com o Outro. Muitas vezes é intercessão, onde estão presentes os rostos que amo, com os quais me preocupo e isso me arranca da solidão. Estou no mundo com as suas labutas, que levo diante de Deus.
Nenhuma racionalização pode explicar essa certeza de não estar sozinhos.
Mas até mesmo o amor e a amizade podem parecer ambíguos e não totalmente demonstráveis. No entanto, são verdadeiros, reais para nós.
Ter um alguém a quem se dirigir significa não ser suficientes para si mesmos.
É uma experiência reveladora para todos, mas chegamos a ela através da nossa fragilidade. Na oração entendemos que o fato de não bastar a nós mesmos é a nossa beleza, a nossa força, que nos abre para os outros e nos faz sentir a sintonia com o universo. A oração é reconhecer-se precários.
A oração é pergunta, pedido, às vezes exigência. Sempre esquecemos de agradecer.
A dimensão do agradecimento é uma conquista, é a oração da “adultez”. O obrigado não surge espontaneamente, mas ao reconhecer com espanto as coisas belas e boas recebidas da vida, o privilégio de viver aqui, hoje.
No entanto, oramos especialmente quando estamos mais desesperados.
Porque queremos entender, comunicar a nossa dor. Pela minha experiência aprendi que oramos nas situações mais desesperadoras não para que sejam resolvidas, mas para não ficar sozinhos e então a esperança sempre existe: existe um Deus que me sustenta e há pessoas ao meu redor a quem posso pedir ajuda. A esperança sempre nasce do desespero. Quem é feliz espera pouco.
É preciso tempo e um método para aprender a orar.
Cada um deve encontrar o seu ritmo, mas esse empenho é importante. Em primeiro lugar, o tempo a recortar cada dia para pensar nas grandes questões da vida que deixamos de lado; depois, um espaço tranquilo e alguns ritos que mostram o cuidado, a atenção por um ambiente acolhedor e protegido.
Nós mulheres sabemos a importância dos pequenos gestos para nos sentirmos à vontade, uma cadeira confortável, o telefone desligado, uma janela para olhar para fora... É preciso uma pedagogia da oração, uma gramática, o instinto do momento não basta. Lembremo-nos, porém, de que não estamos diante de um Deus excessivamente sofisticado. Gosto muito de uma frase de Lutero: "A blasfêmia do desesperado é mais cara a Deus do que a oração do piedoso".
Israel no Egito, escravo, era tão sofredor que se lamentava de modo desarticulado, mas Deus transformou esse choro em oração e daquela experiência nasce Israel. Deus não é exigente demais.
Existem orações que parecem ser mais nossas, que nos ajudam a meditar, a lembrar. O Pai Nosso nos une, somos cristãos.
O Pai Nosso e os Salmos. Porque estar em contato com as próprias emoções é importante, mas é preciso as palavras certas e os Salmos são palavras de outros que posso sentir como minhas. Sempre me comove pensar que Jesus, o meu Senhor, especialmente nos últimos momentos de sua paixão recebeu conforto na grande estrada dos Salmos. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste” (21) e “Pai, nas tuas mãos confio o meu espírito” (30).
Acrescento também que deveríamos aprender uma ginástica espiritual, associar as ações mais corriqueiras à oração, inserindo-a nas dobras da vida cotidiana. Um coração que ora faz pequenos exercícios cotidianos, não precisa de grandes maratonas.
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Pensar em Deus como uma pessoa. Entrevista com Lidia Maggi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU