07 Março 2024
"É verdade que muitas vezes ardemos de coragem quando a dor é de um outro e a nós cabe o ato nobre, mas sempre extrínseco, da consolação", escreve o cardeal italiano Gianfranco Ravasi em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 03-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Segundo um aforismo cruel, sempre temos coragem suficiente para enfrentar o sofrimento alheio.
O título é enigmático, V13, mas a solução do enigma é trágica. Trata-se, de fato, da síntese cifrada de uma data, sexta-feira, 13 de novembro de 2015, quando Paris foi abalada por uma série de atentados terroristas que culminaram no massacre de Bataclan, com uma macabra soma de 130 mortos e 350 feridos graves. Todas as manhãs, durante dez meses, o popular escritor francês Emmanuel Carrère acompanhou as audiências do processo, registrando os depoimentos das vítimas, os desabafos dos arguidos e as intervenções da corte. Numa etapa de seu relato, traduzido pela Adelphi ano passado, ele insere o “cruel” aforismo que citamos.
Na verdade, diante de tanta violência extrema e de uma montanha de sofrimento, o autor confessa ter "começado a chorar do nada". Contudo, é verdade que muitas vezes ardemos de coragem quando a dor é de um outro e a nós cabe o ato nobre, mas sempre extrínseco, da consolação.
É fácil imaginar, num nível certamente mais modesto, as nossas visitas aos doentes e as palavras de conforto sinceras, mas necessariamente distantes, em comparação com a tempestade que assola a pessoa que sofre.
Incutir confiança e coragem é um gesto nobre, mas um pouco óbvio. Muito diferente é o som daquelas palavras entre quem as profere e quem as ouve. Por isso, talvez, em muitos casos, é mais importante a escuta silenciosa do lamento do doente, segurar a sua mão, o testemunho de uma presença. Ela é sempre marcada pela situação vital diferente, mas tenta evitar a retórica consoladora cujos acordes dissonantes são imediatamente percebidos pelo sofredor.