02 Março 2024
Estado registrou mais de 2 mil focos de fogo no mês.
A reportagem é de Priscila Pacheco, publicada por Observatório do Clima, 28-02-2024.
Dados divulgados nesta quarta-feira (28) pelo serviço climatológico europeu Copernicus mostram que as emissões de CO2 por queimadas em Roraima atingiram o nível mais alto para fevereiro em 22 anos. Estima-se que até o dia 27 o fogo no estado jogou na atmosfera 2,3 megatoneladas de CO2, o que representa mais da metade do total emitido pelo país inteiro em queimadas (4,1 megatoneladas) no mesmo período.
Os focos de fogo de fevereiro em Roraima somavam 2.001 até terça-feira (27), um número 12 vezes maior do que o registrado no mesmo mês em 2023. Os dados disponibilizados pelo INPE apontam que este é o pior fevereiro desde 1999, primeiro ano completo da série histórica de monitoramento iniciada no segundo semestre de 1998. A primeira posição para o mês era de 2007, quando 1.347 focos foram registrados. Em comparação com todos os meses do ano, fevereiro de 2023 fica atrás apenas de março de 2019, que teve 2.433 focos. Os incêndios atuais já atingiram Terras Indígenas, como a Yanomami.
O estado já apresentava uma tendência de aumento de queimadas desde agosto do ano passado em comparação com períodos anteriores. Agosto, setembro, outubro e novembro de 2023, por exemplo, tiveram os piores registros para cada mês. Dezembro e janeiro de 2024 não registraram os maiores números em comparação com o mesmo período de outros anos, mas ficaram acima da média.
O caso de Roraima faz com que toda a Amazônia brasileira também tenha o pior fevereiro. O número total de focos no bioma alcançou 2.940. O fevereiro que ocupava a primeira posição era o de 2007 com 1.761 focos de incêndios em toda a Amazônia brasileira.
Venezuela, Brasil e Colômbia ocupam as primeiras posições com 47,71%, 21,67% e 20,75%, respectivamente, do número total de queimadas
A mudança do clima também tem estimulado as chamas no Canadá mesmo diante da neve. O país que teve uma temporada histórica de incêndios florestais e foi responsável por 22% das emissões de carbono globais por este tipo de evento no ano passado, conta com quase 150 focos de fogo ativos no momento.
A Colúmbia Britânica, no oeste do país, aparece na liderança com 93 incêndios em ação. No início do mês, David Eby, primeiro-ministro da província, manifestou preocupação e disse que o acontecimento anormal parece um alerta precoce para o resto do Canadá sobre o que está por vir com as mudanças climáticas. A vizinha Alberta vem em segundo lugar com 53 focos ativos. Há alguns dias, o governo de Alberta declarou que a temporada de incêndios de 2024 começou mais cedo. Oficialmente, o período é de 1 de março a 31 de outubro.
A maioria dos incêndios são resquícios do ano passado, os chamados zumbis. Especialistas explicam que os zumbis no solo são comuns, mas a quantidade atual preocupa. “Nós já vimos isso antes, mas nunca nessa escala. Tenho acompanhado o fogo no Canadá e no exterior desde o final dos anos 1970. Eu nunca vi nada assim”, disse ao The Washington Post Michael Flannigan, especialista em incêndios florestais e professor da Universidade Thompson Rivers, na Colúmbia Britânica.
O Canadá passa por um inverno mais seco e com temperaturas acima da média em muitas regiões. O serviço canadense de previsões climáticas mostra que o país deve continuar com temperaturas anormais nos próximos meses.
Ane Alencar, diretora de ciência do IPAM, explica que a temporada de queimadas em Roraima é no começo do ano. Porém, o atual crescimento dos números é anormal. “A tendência dos focos, não só do Brasil, mas de outros países como Colômbia, Venezuela, aumentou bastante neste período. Tudo leva a crer que essa anomalia é por conta do clima”, diz.
A Venezuela, por exemplo, é a líder de queimadas na América do Sul em fevereiro. Segundo o Copernicus, os incêndios florestais na Venezuela já emitiram 5,2 megatoneladas de CO2 neste mês. A Colômbia pediu ajuda internacional para combater os incêndios florestais em janeiro. A floresta Amazônica está presente nos dois países.
Estudos recentes já mostram que, além do fenômeno El Niño, as mudanças climáticas intensificaram as temperaturas e a estiagem na América do Sul. No ano passado, comunidades na Amazônia brasileira ficaram isoladas por causa da seca dos rios. Os incêndios no Chile também foram intensificados pela anomalia do clima.
Ane Alencar explica que a sequidão contribui para o alastramento do fogo. “Os incêndios acontecem com base em três fatores. O primeiro é que precisa ter o que queimar, o material combustível. O segundo é que precisa ter um clima favorável para que aquele fogo se espalhe. E o terceiro é quem inicia esse fogo”, comenta. “Se tem mais chuva, o fogo tem mais dificuldade em avançar”, completa. Roraima tem nove municípios em estado de emergência por causa da seca severa.
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Incêndios em Roraima batem recorde de emissões em fevereiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU