24 Fevereiro 2024
"Todas as homenagens que prestemos à sua memória serão insuficientes para retribuir o que lhe devemos", escreve Luiz Eduardo Soares, antropólogo, cientista político e escritor. Ex-secretário nacional de segurança pública. Autor, entre outros livros, de Desmilitarizar: segurança pública e direitos humanos (Boitempo). A nota foi publicada por A Terra é Redonda, 22-04-2024.
Amigos e amigas, perdemos, ontem, 21 de fevereiro, um gigante: Luiz Jorge Werneck Vianna, aos 86 anos. Uma vida inteira dedicada a pensar o Brasil e a mudar esse país tão desigual e violento. Foi ele que me recebeu no partido comunista brasileiro nos anos 1970, na clandestinidade. Foi ele quem me ensinou a analisar a conjuntura, distinguir tática e estratégia, reler Karl Marx e Antonio Gramsci com os olhos postos no presente, sem dogmatismos.
Sua coragem, sua independência, seu espírito crítico, sua devoção à causa coletiva – sonhando um socialismo renovado, aberto e brasileiro – foram e são exemplos para a minha geração e as seguintes. Em tudo que fazia punha toda a sua paixão. Era lucidez, inteligência, compromisso e paixão.
Um erudito discreto, mas transgressor, uma usina exuberante de afeto e generosidade, às vezes disfarçada pela aspereza dos rompantes. Não conheço ninguém mais ético no desempenho de sua função acadêmica, ninguém mais avesso a cálculos carreiristas e a acomodações pusilânimes, ninguém mais íntegro.
Tive o privilégio extraordinário de ser seu aluno, amigo e companheiro, e de aprender com ele, mesmo quando divergíamos. Nos últimos tempos, quando problemas de saúde o limitavam, ele se mantinha otimista, absolutamente confiante em um futuro radicalmente democrático e socialista, apesar de tudo. Luiz Jorge Werneck Vianna parte, nos deixa desolados e muito mais pobres, mas, como talvez dissesse: parte cheio de esperança no trabalho da história.
Todas as homenagens que prestemos à sua memória serão insuficientes para retribuir o que lhe devemos. Ele nos deixa como herança, à qual temos o dever de não renunciar, sua comovente fé laica nas classes populares e no potencial criador da política, aliada ao pensamento crítico. Querido Werneck, o enorme contingente de seus alunos, colegas, camaradas e amigos, enquanto tivermos força, estaremos na luta e, de pé, ouvindo seu nome, diremos, juntos: presente!
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Luiz Jorge Werneck Vianna (1938-2024) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU