14 Fevereiro 2024
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 07-02-2024.
"Em seu livro, abordo de forma abrangente e crítica o desenvolvimento da moral sexual da Igreja. Gostaria de mostrar por que a Igreja frequentemente adotou uma posição sexualmente hostil e como podemos superar esta visão negativa." Este é o objetivo explícito do teólogo e padre Martin M. Lintner, que com sua obra "Ética das relações cristãs: desenvolvimentos históricos - fundamentos bíblicos - perspectivas atuais" (Herder), assegura que a instituição eclesiástica, "com sua rígida moral sexual, dificultava desnecessariamente a vida das pessoas e causava graves problemas de consciência".
"E a partir daí, pretende 'fazer uma contribuição teologicamente sólida e construtiva na área da ética sexual e dos relacionamentos. Vejo meu livro como uma oferta de diálogo ao Magistério sobre temas que até o presente momento têm levado a conflitos dolorosos entre a teologia e o Magistério, nos quais a Igreja claramente perdeu credibilidade'.
'Para simplificar, foram os Padres da Igreja, ou seja, clérigos ou religiosos predominantemente celibatários, que moldaram a moral sexual da Igreja ao longo dos séculos. A ideia de que o desejo sexual é inerentemente pecaminoso remonta a Agostinho. Ele o associa diretamente à queda do homem. No entanto, ele teve que aceitá-lo como um mal menor porque, pelo menos nos homens, está indissoluvelmente ligado ao ato de procriação através das relações sexuais', aponta este professor em entrevista com Katholisch.
'Uma visão com efeitos perversos. No entanto, esta perspectiva meramente reprodutiva tem tido efeitos perversos, como o próprio Lintner tem constatado durante seu ministério pastoral. 'Me deparei com pessoas idosas que me falaram deste dilema, porque se sentiam culpadas porque - como aprenderam na catequese - 'abusaram do matrimônio' e se envergonham de ter relações sexuais ou de trocar afetos quando são mais velhas', ou seja, quando já não podem mais se reproduzir."
"Ouvir algo assim em uma confissão - continua o sacerdote - me dá raiva e tristeza ao mesmo tempo. Porque penso: o que fizemos com as pessoas ao impor uma moral sexual tão estritamente regulada? Que fardo impusemos a elas, capaz de roubar-lhes a alegria e a espontaneidade ao abordar sua sexualidade? Como estávamos focados na reprodução, desconfiando de tudo o que tivesse a ver com a atração erótica!", aponta o moralista.
Nesse sentido, Litner, a quem Roma negou o nihil obstat no ano passado para assumir as funções de decano da Universidade de Filosofia e Teologia de Brixen, também aborda a questão do celibato, para reiterar que se trata de uma prática que não existia nas comunidades primitivas e que foi implementada na Igreja no século XII.
"Na Igreja primitiva, os líderes comunitários podiam se casar, mas apenas uma vez, provavelmente para se diferenciar de práticas que existiam na época, como a promiscuidade ou o casamento após a separação. Até mesmo a própria Igreja destaca que o modo de vida celibatário não é essencial para o sacerdócio. No entanto, é considerado um modo de vida sacerdotal apropriado, em referência, por um lado, a Jesus, que, de acordo com o testemunho dos Evangelhos, viveu celibatário, e, por outro lado, à tarefa sacerdotal de estar completamente dedicado à sua comunidade", aponta.
"O celibato sacerdotal obrigatório não foi estabelecido definitivamente na Igreja latina até o século XII. Isso tinha a ver não apenas com a interpretação negativa dos atos sexuais, que tornariam impuro um sacerdote ao celebrar os sacramentos na pessoa de Cristo, mas também com questões muito práticas e seculares, como as obrigações sucessórias em relação aos filhos, que a Igreja queria prevenir".
Perguntado se o celibato ainda faz sentido hoje, Litner aposta por torná-lo opcional. "Não porque eu não acredite que esse modo de vida faça sentido (eu também o escolhi como sacerdote) nem porque eu acredite que com ele poderíamos resolver a escassez de padres, mas por outra razão. Existem padres que, por qualquer motivo, não observam o celibato e estabelecem um relacionamento com uma mulher ou se tornam pais. Isso muitas vezes significa um grande sofrimento para eles, suas parceiras e seus filhos. Ou vivem uma vida secreta de dupla moralidade ou enfrentam a decisão de escolher. Se escolherem a família, a Igreja perderá padres comprometidos e competentes", justifica.
Uma ética renovada da sexualidade A partir daí, é preciso entender o que ele pretende com esta nova obra, ciente de que pode enfrentar novas dificuldades como professor de teologia moral. "Mas não deixarei que esse medo me paralise. Eu me vejo como um teólogo moral e um sacerdote religioso que faz parte da comunidade da igreja e que, segundo meu entendimento e consciência leais".
"Gostaria de continuar pensando nesta visão de uma ética renovada da sexualidade, dos relacionamentos e do casamento, seguindo a linha do Concílio Vaticano II, e também incorporar perspectivas das ciências naturais, humanas e sociais, incluindo os estudos de gênero. Trata-se de apoiar as pessoas como Igreja para que descubram e aceitem sua identidade sexual, sejam reconhecidas por ela e pratiquem e vivam uma abordagem responsável de sua sexualidade. Considero que a moralidade eclesiástica de proibições e mandamentos não ajuda em uma ética de relacionamentos que sirva à vida", conclui.