13 Janeiro 2024
"Por que acontece de ele parar sua peregrinação pelas ruas frias e sujas de São Paulo, e se aproximar de alguém que se encontra deitado na calçada, enrolado, com frio, com fome, invisível para quase todos? Qual o motivo dessa parada? Por que pessoas assim chamam a atenção do padre?", escreve Felipe Feijão, bacharel em Filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza (FCF), licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestrando em Filosofia, na Universidade Federal do Ceará e professor da rede pública municipal de Fortaleza.
Diante da proposta de instauração de uma CPI para investigar a atuação de ONGs atuantes na Cracolândia e supondo que um dos alvos da ideia dos ilustres políticos da cidade de São Paulo seja o trabalho do Padre Julio Lancellotti, seguem algumas interrogações que poderiam ocupar a mente dos vereadores:
De onde vem a comida que o padre distribui? Quem faz? Os ingredientes são de onde? De onde a massa do pão? E o recheio? O carrinho que o padre conduz, quem comprou ou doou? É um carrinho normal ou encomendado? Qual o material do carrinho? Quanto custou? E o avental usado pelo religioso? Por que o uso? Ganhou de algum integrante da paróquia ou comprou? Qual costureira fez a vestimenta? Por que o padre, às vezes, fala com um ou outro morador de rua e não fala com os demais? Ele, por acaso, conhece alguns? Se sim, de onde? Da rua mesmo? Ou da vida pregressa dos indivíduos?
Por que acontece de ele parar sua peregrinação pelas ruas frias e sujas de São Paulo, e se aproximar de alguém que se encontra deitado na calçada, enrolado, com frio, com fome, invisível para quase todos? Qual o motivo dessa parada? Por que pessoas assim chamam a atenção do padre?
Por que maltrapilhos, sujos, descabelados, viciados, podem chegar perto do padre e falar com ele? Ele não tem medo desse tipo de gente? Ele não tem consciência do que pode acontecer com ele ao manter proximidade com pessoas em tais condições?
Por que em suas homilias, o padre fala tanto de pobres, de justiça, de Jesus, de amor, de partilha? Por que ele chama os que estão na rua de irmãos de rua? Até posta em seu Instagram: Irmão de rua negligenciado... Irmão de rua falecido... Como assim irmãos? Irmãos de quem? Se estão na rua podem ser irmãos de quem tem casa, comida, boas condições de vida?
Por que durante a pandemia ele não parou a sua atuação cotidiana de ajuda aos miseráveis? Por que ele mesmo idoso teve coragem de continuar o seu trabalho?
Por que ele sai em defesa de que locais públicos não sejam hostilizados para os que dormem e passam boa parte do tempo nesses lugares? Por que nada pode atrapalhar a situação deplorável de quem não tem onde dormir, ou descansar dignamente?
Por que o Papa Francisco uma vez telefonou para ele? O que conversaram? Vai ser preciso pedir a quebra de sigilo telefônico e a gravação da chamada? Por que de vez em quando ele é perseguido por conservadores e direitistas? O que o Papa, que também é alvo desses grupos, queria com o padre?
Por que recentemente um bilhete com ameaça foi deixado na paróquia para o padre?
Por que existem ateus defendendo o padre e seu trabalho e católicos ou cristãos de outras igrejas condenando suas práticas?
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Padre Julio investigado. Artigo de Felipe Feijão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU