11 Janeiro 2024
"Querendo usar a linguagem eclesial, [casais que vivem de forma estável uma relação contraditória] estão em pecado e se invocar a bênção sobre elas, não se abençoa o seu pecado nem o se aprova. Pelo contrário, uma bênção é sempre um apelo, um chamado para louvar a Deus com a vida e com o comportamento", escreve Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, membro da comunidade Casa Madia, em artigo publicado por La Repubblica, 08-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há tempo a antropologia e sobretudo a visão da sexualidade e do seu exercício mudaram profundamente no nosso Ocidente. Infelizmente, a Igreja, diante da novidade, mais é uma vez, se intimidou e reafirmou as suas posições tradicionais, eventualmente endurecendo-as. Mas nos últimos anos as Igrejas do Norte da Europa – Alemanha, Holanda, Bélgica – vêm pedindo uma revisão do olhar eclesial sobre algumas realidades que hoje se impõem e pedem uma nova interpretação que não comporte mais a exclusão ou a marginalização da comunidade cristã para aqueles que as vivem.
Durante o itinerário do recente Sínodo, levantaram-se as vozes de bispos e conferências episcopais inteiras que pediram uma avaliação diferente e uma medida de misericórdia.
Os pedidos não estão em contradição com a mensagem evangélica nem com a grande tradição.
De fato, não se pede a possibilidade do sacramento do matrimônio para quem vive uma relação homoafetiva estável, mas simplesmente a possibilidade de uma bênção. Ora, na tradição cristã, a bênção é dirigida a Deus ou a homens e mulheres que se tornaram servos do Senhor e chamados pelo Senhor a uma missão de salvação.
As coisas que existem já são todas abençoadas, obra da bondade de Deus!
Na Bíblia não se abençoa uma coisa, mas se agradece a Deus que a criou.
Não há realidade que não seja abençoada e que depois muda de qualidade com a bênção. Além disso, é a doutrina dos rabinos: tudo pode ser abençoado porque isso significa agradecer e louvar o Senhor por aquilo que nos deu.
É por isso que acredito que seja possível uma bênção para os casais que vivem de forma estável uma relação contraditória como a homoafetiva.
Essas pessoas podem ser abençoadas porque como homens ou mulheres e como cristãs são muito mais do que a situação que vivem.
Querendo usar a linguagem eclesial, estão em pecado e se invocar a bênção sobre elas, não se abençoa o seu pecado nem o se aprova. Pelo contrário, uma bênção é sempre um apelo, um chamado para louvar a Deus com a vida e com o comportamento.
Concretamente, se uma mãe ou um pai tem um filho homossexual, talvez não o abençoariam? O será que recusarão a bênção que, segundo a Bíblia, é dever dos pais para com os filhos? Com a recente Declaração Fiducia suplicans sobre o sentido pastoral das bênçãos do Dicastério para a Doutrina da Fé, o Papa Francisco mostrou, mais uma vez, que quer ser mestre de graça e misericórdia. Mas imediatamente na igreja se levantaram muitos que se sentem chamados a um ministério de condenação, espiões dos pecados alheios para julgá-los. Sim, a profecia do Papa precede muitos bispos e também grandes parcelas do povo de Deus. É necessário fazer compreender que a tomada de posição de Francisco não muda aquilo que o Evangelho pede, mas mostra misericórdia. Pedro, o Venerável, dizia: “É melhor ir para o inferno por ter sido demasiado misericordioso do que ir para o paraíso sem ter conhecido a misericórdia de Deus”.
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É certo abençoar os casais homossexuais. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU