11 Dezembro 2023
Sempre se discute sobre como a violência é injusta e imoral. Nunca o suficiente sobre como a violência é inútil, contraproducente e, em última análise, estúpida.
O comentário é do jornalista, escritor e roteirista italiano Michele Serra, publicado por La Repubblica, 08-12-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Assumindo (e sendo amplamente reconhecido) que o Hamas é um movimento que professa o suprematismo religioso e a aniquilação violenta de Israel, o que nos autoriza a considerá-lo um movimento racista, prejudicial para a causa palestina, assim como um desperdiçador dos bilhões recebidos dos governos árabes, as perguntas que eu me faria, se fosse o governo israelense, seriam duas.
A primeira: é justo e legítimo, para combater o Hamas, arrasar Gaza, matar milhares de civis, destruir o precário abrigo que um povo prisioneiro e expropriado habita por obrigação, muito mais do que por escolha?
A segunda: foi levado em conta a óbvia repercussão de ódio e de vingança que essa guerra, punitiva para todos os palestinos da Faixa de Gaza e não apenas para o Hamas, irá produzir em curto, médio e longo prazo? O que vocês querem que um menino ou uma menina que sobreviveu aos bombardeios, as famílias forçadas a abandonar suas casas, perseguidas pelas bombas e pelas blitzes, pensem dos israelenses e da estrela de Davi?
Para cada líder ou militante do Hamas eliminado, pelo menos outros dois tomarão o seu lugar na Faixa de Gaza. A vocação ao martírio (àquilo que a jihad chama de martírio: morrer matando os impuros) encontrará um novo impulso. A corrente da violência acrescentará novos elos aos muitos já interligados.
Sempre se discute sobre como a violência é injusta e imoral. Nunca o suficiente sobre como a violência é inútil, contraproducente e, em última análise, estúpida.
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O preço da violência. Artigo de Michele Serra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU