04 Outubro 2023
A desigualdade da renda do trabalho subiu por cinco trimestres seguidos nas regiões metropolitanas brasileiras. Isso significa que o Brasil metropolitano de hoje é mais desigual do que aquele de um ano atrás, do ponto de vista da renda do trabalho. Em números, o “Boletim Desigualdade nas Metrópoles”, produzido em parceria pelo Observatório das Metrópoles, PUCRS Data Social e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), apontou que o coeficiente de Gini (quanto mais alto o valor, maior a desigualdade) subiu de 0,615 para 0,626 entre o segundo trimestre de 2022 e o mesmo trimestre de 2023. Já a razão entre a média de renda dos 10% mais ricos em relação aos 40% mais pobres variou de 29,7 para 32 vezes no mesmo período. Ou seja, no segundo trimestre de 2023 a renda dos mais ricos era 32 vezes maior que a dos mais pobres.
A reportagem é publicada por Observatório das Metrópoles, 03-10-2023.
Os dados levantados pelo Boletim mostram que, enquanto a renda dos mais ricos subiu quase 10% no último ano, a dos mais pobres avançou menos de 2%. Conforme um dos coordenadores do estudo, Andre Salata, essa diferença na recuperação dos rendimentos explica a tendência de alta das desigualdades. "Parte desse movimento é explicado, de um lado, por uma recuperação econômica que tem criado vagas de trabalho concentradas no setor informal, de baixa qualidade; e, por outro, pela recomposição salarial dos estratos mais altos após as perdas sofridas no processo inflacionário", explica Salata. Segundo ele, após a enorme queda sofrida durante a pandemia de Covid-19, a renda dos mais pobres se recuperou até meados de 2022, retornando a um patamar semelhante ao de 2019. Mas, desde então, a tendência tem sido de estagnação. “No caso dos mais ricos, a queda da renda foi menos brusca durante a pandemia, e sua recuperação ainda está em andamento”, pontua.
“Não é nem mesmo um cenário onde todos ganham, mas os que estão em cima ganham mais”, afirma Salata.
O cenário descrito pelos dados levantados no estudo é de aumento da média de renda do trabalho ao longo do último ano, mas com crescimento proporcionalmente maior para os estratos mais altos, levando ao aumento das desigualdades no período. Segundo Salata, enquanto alguns estratos mais baixos chegaram a ter queda de 3,6% na média de renda, camadas mais altas ganharam quase 10%. “Ou seja, não é nem mesmo um cenário onde todos ganham, mas os que estão em cima ganham mais. Na verdade, na parte de baixo da pirâmide chegamos a ter mesmo perdas reais”, afirma.
Sobre o percentual de pessoas morando em domicílios com renda per capita do trabalho de até ¼ do salário-mínimo, este número subiu para 24,2% no segundo trimestre de 2023. Conforme o estudo, trata-se da retomada de patamar em relação ao registrado no trimestre imediatamente anterior à pandemia, mas ainda distante do nível encontrado no início da série histórica, de 2012 até 2014, quando aquela razão variava entre 17% e 19%.
No segundo trimestre de 2023, o número de moradores de domicílios com rendimento de até ¼ do salário-mínimo correspondia a 20,5 milhões de pessoas, superior aos 18,9 milhões registrados no mesmo trimestre de 2019.
Saiba mais sobre o "Boletim Desigualdade nas Metrópoles nº 14".
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Cresce a disparidade na renda do trabalho nas metrópoles brasileiras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU