23 Setembro 2023
Tempestades como a que causou destruição e mortes na Líbia se tornaram até 50 vezes mais prováveis por causa da mudança do clima, concluiu estudo.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 22-09-2023.
Uma análise de atribuição divulgada nesta semana pela World Weather Attribution (WWA) concluiu que a forte tempestade que atingiu a Líbia e outros países do Mediterrâneo no começo de setembro se tornou até 50 vezes mais provável por causa do aquecimento global causado pelos seres humanos.
A passagem da tempestade tropical Daniel no norte da Líbia deixou mais de 10 mil mortos, com mais de 10 mil pessoas ainda desaparecidas. Além da Líbia, a tempestade Daniel também causou destruição e mortes em outros países da bacia do Mediterrâneo, como Grécia e Espanha, além da Bulgária.
De acordo com a análise, a precipitação extrema no período de 24 horas no norte do continente africano se tornou até 50 vezes mais provável de acontecer e até 50% mais intensa em um mundo 1,2ºC mais quente em relação aos níveis pré-industriais.
O estudo destacou a magnitude das chuvas no litoral líbio. Na cidade de Derna, que concentrou a maior parte da destruição, a precipitação acumulada foi de 250 milímetros em um período de poucas horas, e cerca de 414 mm em Bayda e 240 mm em Marawah. Os ventos de até 80 km/h também chamaram a atenção.
Mais do que a tempestade, o desastre na Líbia teve como catalisador a situação política dramática que vive há mais de uma década, mergulhado em uma guerra civil que dividiu o país em dois governos. O estudo ressalta que a fragilidade do estado líbio agravou os efeitos da tempestade, contribuindo para a falta de manutenção e deterioração da infraestrutura de barragens. Além disso, muitas dessas estruturas foram construídas na década de 1970 utilizando registros de precipitação relativamente curtos, que se mostraram incapazes de suportar a magnitude da tempestade Daniel.
“Esta catástrofe aponta para a necessidade de se conceber e manter infraestruturas não apenas para o clima do presente ou do passado mas também para o futuro. Na Líbia, isto significa ter em conta o declínio em longo prazo da precipitação média e, ao mesmo tempo, o aumento das precipitações extremas como este evento de chuvas fortes”, destacaram os autores.
A conclusão do WWA sobre as chuvas na Líbia foram abordadas por veículos como AFP, Associated Press, BBC, Bloomberg, CNN, Deutsche Welle, Folha, New Scientist, Reuters e Wall Street Journal.
Leia mais
- A relação entre eventos extremos como tempestade na Líbia e crise climática
- ‘O mar está constantemente despejando corpos’: teme-se que o número de mortos nas enchentes na Líbia possa chegar a 20.000
- Inundações na Líbia: Vigário apostólico de Trípoli: “falam de 3.000 mortes, mas os números serão muito maiores. Corpos de migrantes também encontrados"
- “Desastroso além da compreensão”: 10 mil desaparecidos após inundações na Líbia
- Inundações na Líbia: mais de 2 mil mortos e 5 mil desaparecidos
- Ciclone é tragédia socioambiental, não somente natural. Artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
- Aquecimento global é “questão candente de direitos humanos”
- Líbia, dossiê ONU: guarda costeira em conluio e em rede com os traficantes
- Patrulhas e expulsões no deserto da Líbia. “A Tunísia não quer os migrantes”
- “Os 500 desaparecidos barrados na Líbia”. As ONGs: as autoridades sabem tudo
- Líbia: faltou democracia
- “A visão comercial da natureza foi priorizada”: a crise de valores por trás das mudanças climáticas
- Crise climática é uma forma de violência contra crianças, diz CMI
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Mudança climática tornou tempestade mortal na Líbia 50 vezes mais provável - Instituto Humanitas Unisinos - IHU