12 Setembro 2023
O artigo é de José María Vigil, teólogo espanhol naturalizado nicaraguense, publicado por Religión Digital, 10-09-2023.
Para nos contar sobre a situação atual da religião no Chile, desta vez chamamos um padre, pároco em Santiago. Com ele a palavra:
"Sou chileno e nasci durante o Concílio Vaticano II. Testemunhei os esforços da Igreja Católica, com sucessos e retrocessos, para aplicar o concílio à realidade chilena. Fiquei grato pelo papel que, em geral, a Igreja desempenhou durante a ditadura de Pinochet, mostrando-se samaritana e corajosa na defesa dos direitos humanos. Foram anos em que a Igreja gozou de amplo reconhecimento e prestígio nacional e internacional.
Ordenado padre, fui para a África do Sul, para compartilhar o Evangelho com comunidades negras pobres e marginalizadas, no início da era pós-apartheid.
Quando retornei ao Chile, após meus 20 anos de experiência africana, o apreço e a adesão à Igreja chilena haviam despencado. Dou uma simples anedota, como símbolo: na primeira semana de meu retorno ao Chile, fui aos escritórios do Arcebispado de Santiago e presenciei uma situação que me chocou profundamente: um homem de meia-idade pediu para fazer o processo de apostasia.
O que aconteceu naqueles 20 anos? A análise completa daria origem a um estudo que não cabe aqui, mas quero mencionar alguns fatores decisivos:
Ora, essa tendência de queda é antiga: se em 1930 um total de 97,7% dos chilenos se dizia católico, quando me mudei para a África, em 1998, esse número já havia caído para 72% (em quase 70 anos, a queda representava 25%). Mas, agora, o colapso se acelerou: desses 72%, caiu para os atuais 48%, em apenas duas décadas! Pela primeira vez, a Igreja Católica caiu dos 50% de membros psicologicamente relevantes.
E não é só a Igreja Católica que passa por isso. Nos anos 90 (pós-ditadura) as igrejas evangélicas de corte pentecostal cresceram muito. Era comum que, quando um católico saísse da Igreja, fosse a uma delas. Hoje isso não acontece mais, e eu já vi isso com muita gente: quando um católico sai da Igreja Católica, ele não vai mais para outra, mas fica sem nenhuma igreja institucional. Os números confirmam isto: no Chile, a queda da filiação religiosa (ou seja, a queda daqueles que pertencem ou se sentem próximos a uma religião) triplicou nas últimas duas décadas (ou seja, desde 2000).
Celebrando Santo Padre Hurtado (Foto: Religión Digital)
É claro que aqueles que deixam as igrejas não se tornam necessariamente agnósticos, nem ateus... mas engrossam as fileiras daqueles que "acreditam sem pertencer". Especialistas dizem que isso é tipicamente indicativo de um processo de secularização ainda em andamento. E mostra: há um novo e robusto 30% da população chilena que hoje se encontra no grupo dos "sem religião - agnóstico - ateu". 70% acreditam em Deus. Mas não está claro que Deus é... Para descobrir, as pesquisas teriam que ser ajustadas.
Assim, vê-se que esse panorama de crenças e pertences religiosos está iniciando uma etapa diferente, de grande magnitude. Os paliativos pastorais (reformas eclesiais do tipo sinodal, por exemplo) têm sua importância, mas me parece que a tendência indicada continuará seu curso. São novos desafios. Terão de ser aceitos, compreendidos e respondidos em conformidade, com coragem e criatividade.
O santo chileno mais popular, o padre Alberto Hurtado, escreveu um livro altamente polêmico há mais de 80 anos, intitulado "O Chile é um país católico?" Hoje a resposta é claramente não.
Mapa de la religiosidad: ¿Cuán religiosos somos los chilenos?
Encuesta Nacional Bicentenario UC 2022.
¿Chile postsecular? La necesidad de una exploración comparada.
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Chile: secularização inacabada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU