23 Agosto 2023
As Nações Unidas manifestaram preocupação com o que emerge dos testemunhos recolhidos pela ONG que acusa os guardas fronteiriços sauditas de terem matado, com ações "generalizadas e sistemáticas", centenas de pessoas, incluindo mulheres e crianças, que tentavam atravessar a fronteira. Os dados são de março de 2022 a junho de 2023.
A reportagem é de Antonella Palermo, publicada por Vatican News, 22-08-2023.
"Muita preocupação" é expressa pelo porta-voz da ONU em Nova York, Stephane Dujarric, que observa a gravidade das acusações contidas no relatório da Human Rights Watch, organização não-governamental internacional que lida com a defesa dos direitos humanos.
"Sei que o nosso gabinete está ciente da situação e teve contactos", sublinha Dujarric, especificando que, no entanto, "é muito difícil para eles confirmar a situação na fronteira" e acrescentando que, em geral, "impedir a migração com o cano de uma espingarda é intolerável". O relatório denuncia que também havia mulheres e crianças entre as vítimas que tentavam entrar na Arábia pelas montanhas do Iêmen. Mais de setenta páginas contêm os testemunhos de 38 migrantes etíopes entre março de 2022 e junho de 2023.
A Human Rights Watch diz que os ataques contra esses grupos de pessoas, que usam trilhas remotas nas montanhas para se deslocar do Chifre da África para o Golfo de Áden, são "generalizados e sistemáticos" e que "os assassinatos continuam". De acordo com estudos da ONU, cerca de 750.000 etíopes vivem na Arábia, muitos dos quais fugiram do brutal conflito em Tigray. As autoridades sauditas contestam os fatos relatados pela ONG, dizendo que as acusações "são infundadas e não se baseiam em fontes confiáveis", conforme relatado pela AFP. Os Estados Unidos, parceiro de longa data da monarquia do Golfo, pediram uma investigação. Os entrevistados falaram em "armas explosivas" e fogo à queima-roupa, com os guardas de fronteira sauditas perguntando aos etíopes "qual parte do corpo eles preferiam ser atingida".
ONGs acusam Riad regularmente de investir em grandes eventos esportivos e culturais para "desviar a atenção" de graves violações dos direitos humanos e da crise humanitária no Iêmen, na qual o exército saudita está envolvido. O assassinato "generalizado e sistemático" de migrantes etíopes pode constituir um crime contra a humanidade, segundo a HRW. Já no ano passado, especialistas da ONU relataram "alegações perturbadoras" de que "artilharia transfronteiriça e fogo de pequeno calibre pelas forças de segurança sauditas mataram cerca de 430 migrantes" no sul da Arábia Saudita e no norte do Iêmen durante os primeiros quatro meses de 2022. Em testemunhos recolhidos pela HRW, os migrantes descrevem cenas de horror: "Mulheres, homens e crianças espalhados pela paisagem montanhosa, gravemente feridos, esquartejados ou já mortos". "Eles estavam atirando em nós, era como uma chuva de balas."
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ONU: Relatório da Human Rights Watch sobre assassinatos de migrantes etíopes é preocupante - Instituto Humanitas Unisinos - IHU