22 Junho 2023
Estudo aponta que houve recuo no ensino presencial, aumento do EAD, mais negros na rede privada, redução de público jovem e alta procura de cursos de TI.
A reportagem é de Marcelo Menna Barreto, publicada por Extra Classe, 21-06-2023.
Direito e áreas voltadas para as ciências da Administração e Negócios ainda são as que registram o maior número de estudantes no ensino superior brasileiro. São 2,6 milhões de alunos matriculados nesses cursos no país. Correndo por fora e ainda não totalmente compreendida pelas nossas Instituições de Ensino Superior (IES), se apresenta a área da Tecnologia da Informação (TI). As informações são do 13º Mapa do Ensino Superior no Brasil, lançado na última terça-feira, 20, pelo Instituto Semesp.
O Semesp, nasceu originalmente em 1979 como Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo, mas atualmente tem abrangência nacional. O Instituto Semesp, responsável pelo Mapa do Ensino Superior, é o seu centro de inteligência analítica.
“É uma área de grande oportunidade, é a que mais emprega e a que mais vai crescer. Até agora a gente não surfou essa onda e temos medo de que isto acabe virando uma marolinha”, afirmou Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Instituto.
Setor onde hoje se apresentam em média os melhores salários, a TI entrou com foco especial no estudo que é elaborado pela organização que representa mantenedoras de ensino superior no país.
Não é para menos. Enquanto 6,1% é o índice de profissionais graduados em outras áreas que ganham mais de 10 salários, 8,6% dos profissionais de TI recebem de 10 a 30 salários. Uma parcela significativa, inclusive, sem concluir seus cursos superiores.
“O cara está no primeiro semestre e já começa a receber propostas de trabalho”, disse Capelato em sua apresentação.
Isso seria a potencial causa de índices significativos de evasão nos cursos superiores da área, onde a cada dez alunos, seis abandonam sem se formar.
Além de um mercado de trabalho aquecido, Capelato aponta o “desafio” de atualizar as grades curriculares “para que não haja desistência”.
Outro desafio do setor de TI é em relação à diversidade. Em 2021, apenas 16,5% das matrículas em cursos da área eram de mulheres, contra uma participação feminina de 60,7% nas demais áreas. Enquanto nas demais áreas a representatividade de alunos negros é de 8,7%, nos cursos de TI ela é de 8,1%. Estes cursos também atraem mais estudantes jovens, até 29 anos, do que as demais áreas: 70,8% contra 64,5%. “A questão é preocupante porque o prognóstico é que a área se torne uma das mais empregadoras no futuro, o que pode levar a uma exclusão de profissionais mulheres e negros, disse o diretor-executivo.
Arte: Instituto Semesp
A rede privada registrou um aumento de 10,5 pontos percentuais de alunos da cor preta de 2011 para 2021. Na rede pública, esse crescimento foi um pouco menor, 9,9 pontos percentuais, mesmo com os avanços proporcionados pela Lei de Cotas. Na rede privada, os estudantes que se autodeclaram pretos representam 7,6%; na rede pública, esse percentual é de 11,9%.
No âmbito geral, o Mapa apresenta o panorama das IES sob os impactos do segundo ano da pandemia, 2021.
É na rede privada que continua se concentrando as matrículas. São 76,9% do número de estudantes.
Foi verificado o recuo das matrículas presenciais, com um decréscimo de 5,5% após a queda de 9,4% em 2020. Já na modalidade à distância, o EAD, houve um crescimento de 19,7%.
Arte: Instituto Semesp
Em um recorte que acrescenta o primeiro trimestre de 2023, o estudo registrou o aumento do número de polos EAD que, de 2018, se ampliou 223% na rede privada e 70% na pública. O salto foi de 15,4 mil polos para 46,6 mil.
São índices que preocupam, na opinião de Capelato, pois apontam para a redução da presença de jovens na faixa dos 18 a 24 anos. Segundo ele, essa é a parcela da população mais presente nos cursos presenciais, enquanto no EAD se encontram estudantes mais velhos.
Mulheres predominaram nas matrículas no ensino superior em 2021, representando 58,4% das vagas (5,24 milhões de estudantes). Matriculadas em IESs privadas, 79,4%.
As privadas ainda tiveram 10,5% de aumento de alunos negros em uma década enquanto a rede pública, 9,9%.
A região Sul detém cerca de 18,0% das matrículas do ensino superior de todo o país. A região já possui mais matrículas no EAD do que nos cursos presenciais.
O número total de IES não corresponde à soma dos números de IES em cada estado porque uma mesma instituição pode oferecer cursos em mais de um estado. *Cursos Presenciais – Rede Privada + Rede Pública: Matrículas, Concluintes e Ingressantes em cursos presenciais – 2021; IES que oferecem cursos presenciais – 2021. **Cursos EAD – Rede Privada + Rede Pública: Matrículas, Concluintes e Ingressantes em cursos EAD – 2021; IES que oferecem cursos EAD – 2021 | Fonte: Instituto Semesp
Com apenas 4,5% abaixo do número de evasão da TI, a média de desistência nos outros cursos é um ponto que preocupa muito o setor. Afinal, reflete o estudo, é mais da metade dos alunos que entram em uma IES brasileira que abandona os cursos antes da graduação.
Capelato entende que a evasão nas IESs não é uma realidade apenas no país, mas no mundo todo.
Os motivos, em sua análise, é a aderência que os cursos tem em frente à expectativa dos estudantes. “Eles querem ter contato com o mundo do trabalho, gerar renda, ser mais independentes e acabam se frustrando com discussões teóricas”, fala.
A região Sudeste concentra o maior número de alunos, com 3.927.777 matrículas, 39,7% no EAD. Na sequência, Nordeste, com 1.855.626 matrículas (34,3% no EAD); Sul, 1.626.212 matrículas (51,0% no EAD); Centro-Oeste, 820.300 matrículas (41,7% no EAD) e Norte ,754.481 Matrículas (45,9% no EAD).
Em números absolutos, o Rio Grande do Sul ocupa a quinta posição, com 565.263 matrículas registradas. Abaixo respectivamente de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná.
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Mapa do Ensino Superior no Brasil aponta TI correndo por fora - Instituto Humanitas Unisinos - IHU