Itamar Vieira Junior, autor de Torto Arado, fala sobre preconceito e racismo da crítica

Arte: Marcelo Zanotti | IHU (A partir da capa de Salvar o fogo, de Itamar Vieira Junior)

24 Junho 2023

Convidado desta semana no BDF Entrevista, escritor fala sobre seu novo livro, Salvar o Fogo e muito mais.

A entrevista é de José Eduardo Bernardes, publicada por Brasil de Fato, 20-06-2023.

Itamar Vieira Junior é escritor e geógrafo, com doutorado em Estudos Étnicos Africanos pela Universidade Federal da Bahia (Foto: Arquivo pessoal)

Itamar Vieira Junior se tornou um dos autores mais lidos do país, após o lançamento de Torto Arado, em 2019. O livro vendeu mais de 700 mil cópias e aproveitando o sucesso estrondoso na literatura, vai virar série para o streaming. A publicação faz parte de uma trilogia, que neste ano, ganhou seu segundo volume, com o lançamento de Salvar o Fogo, no último mês de abril.

Salvar o fogo, de Itamar Vieira Junior (Foto: Divulgação)

No livro, mais uma vez Itamar Vieira Junior transporta o leitor para o Brasil real: a luta de classes, os conflitos familiares, a escassez que atinge grande parte da população e a relação entre sociedade e religião, mais especificamente, o poder da Igreja Católica sobre um pequeno povoado do interior da Bahia.

Mais do que apenas retratar e dar voz a um povo silenciado, Itamar Vieira Junior conta que esta também é parte de sua história. Nascido em Salvador, o escritor passou ainda por Pernambuco e pelo Maranhão em sua adolescência, vivenciando na pele as dificuldades do interior do Brasil.

Quando adulto se formou geógrafo na Universidade Federal da Bahia e se tornou funcionário público do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Lá, viu de perto as agruras da luta pela terra no Brasil. “Tanto em Torto Arado quanto em Salvar o Fogo, esse meu olhar se volta para histórias que, para mim, eram muito familiares”, conta o autor.

“Estou pensando na minha perspectiva familiar mesmo, nos meus laços de parentesco, nas minhas origens, mas também estou pensando em tudo que eu vivi trabalhando com camponeses e camponesas ao longo do tempo. Então eu não diria que eu dou voz aos silenciados. Talvez eu estivesse mesmo entre eles, afinal, essa é minha origem também”.

Itamar Vieira Junior é o convidado desta semana no BDF Entrevista. Na conversa ele fala sobre o seu novo livro, mas também sobre outros tantos assuntos, como a importância da Reforma Agrária para garantir segurança alimentar dos brasileiros, racismo, o gosto precoce pela leitura e a maneira como recebe as críticas à sua obra - tema que ganhou as redes sociais nas últimas semanas.

Torto Arado, de Itamar Vieira Junior (Foto: Divulgação)

“Acho que nenhuma crítica pode soar como um interdito, porque isso aí eu já sei o que é, e não é crítica, de fato, é preconceito de classe, é preconceito de raça. Porque se ela diz que você não deve mais escrever, ou deixa isso muito claro nas entrelinhas, é porque ela não reconhece os leitores, não reconhece o público, não reconhece os prêmios e quer criar um interdito para te tirar desse espaço”, explica o escritor.

Apesar de uma mudança drástica no perfil dos autores premiados nos últimos anos no Brasil, ainda há, segundo Itamar Vieira Junior, uma ideia que circula entre críticos literários e júris especializados, de que autores devem escrever suas obras como “o europeu escreve. Mas a nossa estética é diferente”, diz o escritor.

Além de Itamar Vieira Junior, o prêmio Jabuti - a mais importante honraria literária do país - reconheceu e premiou uma série de autores negros e que tratam de temas marginais nos últimos anos como Jeferson Tenório, Eliana Alves Cruz e Luiza Romão.

“A gente tem feito um movimento para pensar isso e pensar de uma maneira decolonial, vamos dizer assim, porque a gente deseja que as pessoas sejam capazes de nos ler - aí eu estou falando dos prêmios dos júris, dos críticos - a partir da nossa perspectiva. Eu acho que é aquilo que o Antônio Candido, que nem viveu esse tempo, já falava: que a pessoa seja capaz de ler o que se escreve a partir do contexto, do meio social onde aquilo é escrito. Ou seja, essas mudanças refletem a nossa sociedade”, completa o autor.

Eis a entrevista.

Leia mais