20 Junho 2023
"Creio que o Dom Mario Enrico Delpini, com sua homilia e estilo seco de celebração, tenha seguido o único caminho possível, certamente em coerência com o seu estilo, mas também na constatação da inutilidade de censurar, reiterar ou tomar posição na morte".
O artigo é de Enrico Parazzoli, pároco da igreja de Santa Maria Bianca della Misericordia al Casoretto, publicado por VinoNuovo, 17-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A 'liturgia' de gestos e obséquios, cortejos e lutos, coros e bandeirolas, silêncios e desfiles que se seguiu à despedida de Silvio Berlusconi provocou em mim muitos pensamentos e gerou muitos questionamentos. Em particular, o que vimos acontecer no Duomo de Milão.
Em primeiro lugar, no que diz respeito à oportunidade de disponibilizar a catedral, e talvez também a oportunidade para o arcebispo se expor pessoalmente. Pesava sobre tudo talvez o fato de que, em relação ao Cavaliere, a Igreja italiana sempre brincou um pouco de esconde-esconde, imagino que por conveniências e temores e talvez também por oportunismo (mas isso vale em geral para a relação entre política e igreja na Itália). Em troca de um prato de lentilhas ou dois, não faz diferença, uma boa parte do mundo eclesial italiano fechou olhos e inteligência diante das palavras, dos gestos públicos, das escolhas políticas de Berlusconi. Ainda hoje não faltam católicos e eclesiásticos que lhe tecem louvores.
Creio que o Dom Mario Enrico Delpini. com sua homilia e estilo seco de celebração. tenha seguido o único caminho possível, certamente em coerência com o seu estilo, mas também na constatação da inutilidade de censurar, reiterar ou tomar posição na morte. Ele declarou com seu estilo (não explícito, talvez demasiado discreto, sapiencial e 'poético') o horizonte de vida das pessoas, o estilo de vida de Berlusconi, e reiterou a única coisa que (minimalistamente? pouco corajosamente?) é preciso ter em mente: entre todos os juízos, entre todos os acontecimentos, entre todas as conquistas, fracassos, contradições, no final você se encontra diante de Deus como um homem e ponto.
Claro, entregar tudo a Deus também é simples. Causa-me surpresa que no texto do sermão não apareça uma única vez a palavra Jesus Cristo. Talvez, exagero na benevolência, para simplificar o pensamento daqueles que não estão familiarizados com o fato cristão…
Também me impressiona a ausência dos nomes dos filhos, única referência afetiva estável ao longo do tempo para o homem Silvio; Delpini é essencialmente um homem de sabedoria, e talvez não tenha pensado nisso. No geral, a Igreja poderia ter dito ou feito diferente? Talvez sim, mas não tenho ideia dos equilíbrios, dos pedidos, das pretensões. Claro, gera em mim inquietação e tristeza uma Igreja que não sabe dizer palavras proféticas e incômodas, lendo a realidade justamente à luz da Palavra. Escrevemos sobre parrésìa e depois não somos habitados por ela. Muito ruim pelo que perceberam as pessoas de fé e de inteligência interior, que talvez esperassem por um sinal, mesmo pequeno.
Santo Ambrósio não deixou o imperador Teodósio entrar na igreja após o massacre de Tessalônica. Era outro tempo, outro contexto, outra maneira de conceber a fé e a sociedade. Mas também hoje - na misericórdia que não condena para sempre, mas esclarece e ilumina - seriam necessários um olhar e uma palavra que ajudassem a reencontrar o fio do que é bem e do que não é e não pode ser bem - especialmente na coisa pública. Pelo menos quando você afirma (ou exibe) uma afiliação cristã e quando a fé não é simplesmente uma escolha devocional.
Berlusconi está diante de Deus, as orações se ergueram por ele, seu tempo se cumpriu.
Agora é melhor acertar as contas com o que a Igreja quer dizer e quer ser, a respeito do Evangelho, no devastado panorama social, político e moral da Itália.
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Um Evangelho emudecido? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU