Por: Cesar Sanson | 26 Fevereiro 2013
Com 99,9% dos votos apurados, o Ministério do Interior italiano confirmou os temores dos mercados internacionais e das lideranças europeias, indicando um possível impasse eleitoral: a centro-esquerda, de Pier Luigi Bersani, venceu na Câmara dos Deputados, mas não obteve maioria no Senado.
A reportagem é da BBC Brasil, 26-02-2013.
Após a contagem da quase totalidade das urnas, a centro-esquerda conseguiu uma vantagem de 125 mil votos na Câmara, mas o Senado ficou dividido.
Segundo a imprensa italiana, a coalizão de centro-esquerda tem 31,6% dos votos na Câmara, contra 30,7% obtidos pela centro-direita, de Silvio Berlusconi, 23,8% do Movimento Cinco Estrelas, do comediante Beppe Grillo, e 9,1% do grupo liderado por Mario Monti.
No Senado, os últimos números divulgados apontam a conquista de 110 assentos pela coalizão de Berlusconi e 97 pela centro-esquerda.
O impasse força agora a negociação entre as forças políticas do país para tentar criar alianças que possibilitem a formação de um governo com maioria nas duas casas do Parlamento. Caso isso não ocorra, novas eleições poderão ser convocadas.
Como é necessário obter maioria em ambas as Casas para aprovar leis, a centro-esquerda vai precisar do apoio do Movimento Cinco Estrelas, do humorista Beppe Grippo, ou da centro-direita do ex-premiê Silvio Berlusconi, o que não é provável.
Grillo deixou claro durante a campanha que não formaria coalizões com nenhuma outra força política. Bersani descreveu a situação como "delicada" e analistas preveem um período de possível instabilidade política no país, o que pode agravar a crise econômica.
A votação italiana ocorreu em meio a uma recessão e à implementação de medidas de austeridade, após o governo tecnocrata de Mario Monti ter despertado o ressentimento do público com cortes de gastos estatais.
A bolsa de Milão subiu quase 4% nesta segunda-feira, quando as pesquisas começaram a sugerir uma vitória clara de Bersani, mas os ganhos se dispersaram à medida que novas projeções mostraram uma parcela considerável dos votos indo para Berlusconi. Os custos de títulos de dez anos da dívida italiana oscilaram e fecharam com leve alta, de 4,49%.
Pressão
Foi justamente a pressão do mercado, com o aumento acima de 6% sobre os custos da dívida italiana, que forçaram a renúncia de Berlusconi do cargo de premiê, no final de 2011.
Analistas dizem que os parceiros da Itália na zona do euro e o mercado financeiro anseiam por um resultado estável para o pleito italiano, que inclua um compromisso político com reformas fiscais e redução da dívida pública. O editor de Europa da BBC, Gavin Hewitt, explica que tanto a liderança europeia quanto a Alemanha (que tem financiado grande parte dos países endividados do continente) desejam um governo de coalizão formado por Bersani e Monti.
O temor é de que um resultado incerto leve a uma paralisia - semelhante à vivida pela Grécia - na quarta maior economia da zona do euro. Um dos líderes do partido de Bersani levantou a possibilidade de se convocar uma nova eleição para que se possa formar um governo estável.
Instabilidade
O controle de ambas as Casas do Parlamento é necessário para garantir a governabilidade e aprovação de reformas, segundo as regras da república italiana. Bersani prometeu dar continuidade às reformas iniciadas por Monti, mas sugeriu que a atual política de austeridade da Europa precisa fazer mais para promover a criação de empregos e o crescimento econômico.
A atual eleição foi convocada com dois meses de antecedência, depois que o partido de Berlusconi abandonou a coalizão governista de Monti.
O correspondente da BBC News no país, Alan Johnston, explica que a contagem de votos deve indicar um baixo comparecimento eleitoral, refletindo o desânimo dos italianos com o cenário político.
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Impasse eleitoral na Itália - Instituto Humanitas Unisinos - IHU