Tempestade na Igreja. Mas não é uma novidade. Artigo de Luigi Accattoli

Foto: Josep Castells | Unsplash

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01 Junho 2023

"Sempre houve tempestade na Igreja e sempre haverá. E amanhã talvez a tempestade seja maior que hoje. A saída do governo papal da Europa, que imagino ser duradoura, me faz temer uma acentuação dos conflitos. Mas junto com a tempestade sempre haverá um pouco de fermento que faz crescer toda a farinha. Portanto, vamos ficar de olho no fermento mais que no granizo", escreve Luigi Accattoli, vaticanista, em artigo publicado por Il Regno, 15-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Fala-se que há tempestade na Igreja, hoje mais do que nunca: mas penso que sempre houve tempestade, em volta e dentro do barco de Pedro. Digo que o único remédio é ficar de olho e passar pela tempestade.

São cinquenta anos que trabalho para o Regno e quando comecei já fazia cinco anos que escrevia sobre a Igreja para outros jornais: e sempre teve raios e trovões. Comecei a cobrir o Vaticano em 1968 para Ricerca, a revista da FUCI: era o ano da Humanae vitae, do maio francês, da ocupação das catedrais. Talvez seja essa vacinação inicial que me torna cauteloso em julgar os tempos atuais.

De 1969 é o Breve exame crítico do "Novus ordo missae" dos Cardeais Ottaviani e Bacci. Ouço dizer que nunca teria havido antes cardeais que contestassem os textos papais, como aconteceu em 2016 com as dubia sobre a Amoris laetitia (cf.Regno-doc. 21.2016.686s): a oposição daqueles dois cardeais à missa de Paulo VI foi muito maior.

As tempestades de granizo históricas dos dois referendos

De 1978 é a lei sobre o aborto; havia um comitê a favor do referendo composto por católicos e outro grupo de "católicos pelo não", e eu estava entre estes: foi uma tremenda tempestade e trouxe divisão em todas as paróquias. Porque fomos todos chamados a votar. As tempestades - já galopantes com o Concílio - seguiram-se depois implacáveis ao longo dos anos setenta, oitenta, noventa, até a virada do milênio. Até hoje.

Em 1973 chega a carta de Franzoni A terra pertence a Deus e em 1973 nasceram na Itália os Cristãos pelo socialismo. De 1974 é a conferência "sobre os males de Roma". A partir de 1975, Comunhão e Libertação começa a se afirmar no cenário político e chovem reclamações da direita semelhantes às que haviam vindo da esquerda.

Em 12 de maio de 1974, o referendo sobre o divórcio e em 17 de maio de 1981 sobre o aborto foram chuvas de granizo sazonais. À amargura do Papa Montini pelo primeiro, somou-se aquela do Papa Wojtyla pelo segundo.

O terrorismo, o caso Moro, Tangentopoli, o naufrágio da Democracia-cristã, o Projeto cultural de inspiração cristã do cardeal Ruini: quando é que houve paz no redil?

E se olharmos para fora da Itália: o Novo Catecismo Holandês e a Teologia da Libertação, as advertências papais a um e à outra; os manifestos de teólogos contra Roma e os casos Küng, Schillebeeckx e Sobrino. Padres guerrilheiros na América Latina. Trauma sem fim. O ciclone da pedofilia, maior que todos. E ainda estamos nele.

Afirma-se que Francisco hoje é contestado dentro da Igreja e isso seria um fato novo: mas não é verdade. Ataque a Ratzinger é um livro de 2010 de Paolo Rodari e Andrea Tornielli, onde se pode ler que "este ataque não se origina unicamente fora da Igreja, mas também nasce de dentro". Enquanto há protestos e discussões, as igrejas se esvaziam, os padres envelhecem.

A idade avança e começa-se a sentir frio. E, além disso, acontece que para uma conferência me atribuem o tema: "Por que ainda amar esta Igreja?".

Como jornalista que sempre sente um pouco de vergonha em afirmar ao invés que narrar, digo que amo a Igreja pela dupla razão da notícia do amor de Deus pela humanidade que me transmite e pelos sinais do amor de Deus entre os homens que me ajuda a reconhecer.

Falo ainda que esses sinais são tão frequentes hoje como sempre: o martírio desarmado, o acolhimento da vida por mulheres sozinhas e por mulheres ameaçadas por doenças graves, o perdão aos assassinos de parentes, a aceitação de um filho portador de deficiência, a reação à deficiência, a celebração eclesial da própria morte, o gênio da caridade em cada nova fronteira humana, o Evangelho anunciado aos últimos. A Igreja é esta: ama os abandonados, acolhe-os, convida-os à mesa do Senhor. Eu amo a Igreja por isso. Igreja hospital de campanha. Sinto crescer a objeção daqueles que me leem: “Essa é a Igreja de todos os dias. Mas a grande Igreja? É amável a grande Igreja de hoje?”.

E amanhã talvez a tempestade cresça

Por uma vez, aqui minha resposta é cortante: a Igreja não está nas grandes coisas e seu governo sempre decepcionará os governados.

Também estou convencido de que nunca antes houve entre nós tanta superestimação do fator governo. Para nos ajudar a amar a Igreja deveríamos fazer uma operação de reequilíbrio: diminuir a importância do fator governo, prestar atenção aos sinais do amor de Deus no mundo de hoje.

Sempre houve tempestade na Igreja e sempre haverá. E amanhã talvez a tempestade seja maior que hoje. A saída do governo papal da Europa, que imagino ser duradoura, me faz temer uma acentuação dos conflitos. Mas junto com a tempestade sempre haverá um pouco de fermento que faz crescer toda a farinha. Portanto, vamos ficar de olho no fermento mais que no granizo.

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