31 Mai 2023
Há 12 anos que a Cáritas América Latina e Caribe é coordenada pelo padre Francisco Hernández, uma missão que chega ao fim durante o 20º Congresso da Cáritas América Latina e Caribe, que será realizado em Porto Rico de 31 de maio a 4 de junho.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
"Um espaço grande, maravilhoso, com muitas alegrias, algum cansaço, mas em geral muitas alegrias", insistiu o sacerdote, destacando "ter trabalhado com uma equipe de 60, 70 pessoas", de todo o continente, com quem diz ter formado uma família, muito afetivamente unida, criando uma relação de afeto com os referentes regionais, com as equipes, com os grupos. Esta dinâmica permitiu "trabalhar em questões substanciais e fundamentais para a região latino-americana, como a luta pelo respeito e formação em direitos humanos, a construção da paz, o processo de reconciliação, a defesa dos territórios, as dinâmicas de ecologia integral, o fortalecimento das grandes redes territoriais: REPAM, REMAN, REGCHAG, Rede CLAMOR.
Destaca ainda o Programa da Centralidade da Criança, juntamente com outros atores eclesiais e não eclesiais, o diálogo inter-religioso e ecumênico, as novas economias, centradas no processo da Economia de Francisco, o Pacto Educativo Global, as dinâmicas da sinodalidade e a Etapa Continental do Sínodo. A partir daí, destaca estas dinâmicas "nos territórios, nas bases, no mundo da paróquia, que é importante para nós e tem valido a pena o esforço".
Nesta perspectiva, o sacerdote costa-riquenho destaca a importância do fórum em que está a ser debatida a presença da mulher na vida da Igreja. Cita como exemplo o fato de "há 20 anos, ter uma mulher na liderança nacional da Cáritas era como um sonho, e hoje já temos sete ou oito mulheres a liderar a Pastoral Social da Cáritas a nível nacional", o que considera muito importante, e que se repete nas lideranças regionais com mulheres a liderar processos importantes, como é o caso do Centro de Programas e Redes de Ação Pastoral do Celam, com Jimena Lombana e Romina Gallegos, sinal de que "as mulheres têm encontrado espaços e protagonismo em espaços importantes de decisão".
O acompanhamento da Cáritas na COVID-19, uma situação desesperada que apanhou todos desprevenidos, o que, a partir da organização da Cáritas na altura, "nos permitiu dar uma resposta muito sincronizada, muito orgânica e com uma presença significativa". Também não esquece as dificuldades, provocadas por uma realidade de iniquidades, desigualdades, injustiças, violências várias, nomeadamente contra as mulheres, contra as crianças, sistemas econômicos que não ajudam, que o ser humano passe de condições menos humanas para condições mais humanas", reconhecendo que há muito a fazer e esperando que quem vai assumir "possa continuar processos que ajudem a gerar mais equidade".
Alguém que sempre trabalhou na dimensão social da evangelização, e estamos a falar de alguém que está prestes a completar 39 anos de sacerdócio, reconhece que "no início era muito complicado e éramos sempre vistos como estranhos, estes são da Teologia da Libertação, punham-nos de um lado". Perante isto, insiste que "não se está ali por nenhuma teologia, nem por nenhuma ideologia, mas para levar o Evangelho, tal como foi expresso por Jesus".
Perante isto, Chico Hernández faz uma leitura do que significou a chegada do primeiro Papa latino-americano à cátedra de Pedro, afirmando que "quando se encontra um pontificado onde isto é totalmente transparente, onde viver o Evangelho, em todas as suas dimensões, incluindo a dimensão social, como o Papa Francisco o expressa perfeitamente na Evangelii Gaudium, sente-se super apoiado, muito bem protegido, sabendo que não se é suspeito do Magistério da Igreja, ou de qualquer outra coisa, mas que se é apoiado pelo Magistério da Igreja", Vê isto refletido na passagem de Emaús, onde Jesus se aproxima e deixa claro que "para acariciar é preciso chegar perto, é preciso estar perto, não se pode acariciar de longe, é preciso acariciar de lado, onde se pode ter contato, pele a pele, com o ser humano que está a sofrer, que está realmente desanimado, desesperado".
Recordando as palavras do Papa Francisco, que define a Caritas como a carícia da Igreja, afirma que esta expressão "encoraja-nos a descobrir que é importante continuar a reforçar esta Caritas que se aproxima daqueles que de repente estão perdidos, desanimados, que perderam a esperança, que se deixaram ir, e voltar ao entusiasmo, voltar à força com a Palavra e com a celebração da fracção do pão, e voltar a restaurar a vida da comunidade".
A partir daí, insiste que "neste pontificado, senti-me pessoalmente muito fortalecido por um Magistério que exprime o que vivemos e o que queremos ser a partir de toda a nossa vida, a partir dos Atos dos Apóstolos, vendo como eles colocam as suas coisas em comum, como rezam juntos, como partilham os seus bens". Uma dinâmica que, nas palavras do sacerdote, "a certa altura perdemos de vista, que alguém ilogicamente quer colocar como algo negativo, e descobrimos que não é, que é a própria força, a própria vida do Evangelho".
Por isso, sublinhou que "sentimo-nos muito protegidos no Magistério de Francisco e na dinâmica de Francisco, para que possamos manter este processo". Neste sentido, assinala que "teremos de ver se o próximo pontificado continua a reforçar esta dinâmica de uma Igreja que sai à procura, que entra no mundo dos outros, que tenta compreender as suas dores, as suas lutas, que sabe também exprimir-se nas suas alegrias e nas suas esperanças". O Padre Hernández vê Francisco, o seu Magistério e o seu Pontificado como "uma fonte de água fresca no meio de tantas dificuldades, porque temos um pontífice que assumiu, nesta dimensão da ecologia integral, o cosmos e a humanidade, como parte desse cosmos".
Padre Francisco Hernández | Foto: Luis Miguel Modino
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Papa Francisco, “uma fonte de água fresca no meio de tantas dificuldades”, constata Francisco Hernández, coordenador da Cáritas América Latina e Caribe - Instituto Humanitas Unisinos - IHU