16 Mai 2023
Os motoristas de São Paulo entregaram uma carta no escritório da Amobitec, escrita por um grupo de trabalhadores que não se organiza em sindicato. Nela, apresentam reivindicações para quatro “exigências” relacionadas a “valorização dos motoristas”, “melhoria na segurança”, “transparência” (o que inclui a demanda pela divulgação de dados como incidentes de violência e assédio) e “melhor suporte”.
A reportagem é de Gabriela Moncau, publicada por Brasil de Fato, 15-05-2023.
Nesta segunda-feira (15) motoristas de aplicativos em ao menos 15 cidades do país paralisaram o trabalho para pressionar as empresas Uber e 99 por melhor remuneração. Os trabalhadores demandam o valor mínimo de R$ 10 por corrida e R$ 2 por km rodado.
Os motoristas também se queixam da porcentagem que as empresas abocanham do valor pago pelo passageiro. Segundo eles, a quantia é variável, com um critério nebuloso, chegando a 60%. Na mobilização, defendem que as empresas fiquem, no máximo, com 20% do que é pago pelo cliente a cada corrida.
Adesivos com os logos da Uber e da 99 com os dizeres: “Mínimo de R$ 10 ou eu cancelo - #UberLixo” ou “Descaso com os motoristas #Não dá mais” foram colocados em automóveis que protestaram em carreatas em diversas capitais do país.
O Brasil de Fato apurou que houve mobilização no Rio de Janeiro (RJ), em São Paulo (SP), Campinas (SP), Goiânia (GO), Fortaleza (CE), Salvador (BA), Porto Alegre (RS), Teresina (PI), Curitiba (PR), Brasília (DF), Florianópolis (SC), Recife (PE), Aracaju (SE), Manaus (AM) e Natal (RN). Com duração prevista de 24h, a paralisação está marcada para terminar às 4h desta terça-feira (16).
“Hoje o motorista mal consegue pagar o seu custo operacional”, descreve Luiz Corrêa, presidente do Sindicato dos Prestadores de Serviços Por Meio de Apps do Rio de Janeiro (Sindimob).
“Os motoristas já não aguentam mais ser explorados pela Uber, pela 99. As empresas têm gastado em festas para funcionários em outros estados, para fazer o lobby no governo federal para que nenhum projeto que favoreça os motoristas venha a entrar, subjugando cada vez mais a classe”, diz Corrêa.
“A gente está lutando contra essa precarização do trabalho e esperamos que o governo federal tome uma atitude e faça uma regulamentação que atenda à dor da categoria”, cobra Luiz. “Que não vise somente os interesses das empresas, que de fato coloque barreiras para as empresas, coloque nosso ganho mínimo e direitos. Porque hoje a gente não tem direito nenhum”, salienta.
No Rio de Janeiro, os motoristas saíram em carreata do aeroporto Santos Dumont e, acompanhados por um carro de som do sindicato, foram até o escritório da Uber, na av. Presidente Vargas.
Em São Paulo, a concentração aconteceu no estádio do Pacaembu e o ato foi até a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), no bairro do Itaim Bibi. A entidade reúne as principais empresas de trabalho por plataforma atuantes no país: Uber, 99, iFood, Lalamove, entre outras.
Os motoristas de São Paulo entregaram uma carta no escritório da Amobitec, escrita por um grupo de trabalhadores que não se organiza em sindicato. Nela, apresentam reivindicações para quatro “exigências” relacionadas a “valorização dos motoristas”, “melhoria na segurança”, “transparência” (o que inclui a demanda pela divulgação de dados como incidentes de violência e assédio) e “melhor suporte”.
Em algumas capitais – como em Fortaleza (CE) e Manaus (AM) - os protestos aconteceram também com o apoio de entregadores de app, com motos. A mobilização acontece em momento em que viraliza um vídeo que compara, de um lado, um entregador sentado na calçada e, do outro, uma pessoa mostrando as equipadas e descoladas instalações do escritório do iFood. Incluem comida e bebida liberada, videogame, sala cheia de pufes, entre outras comodidades.
Carina Trindade, presidente do Sindicato dos Motoristas de Transporte Privado Individual de Passageiros por Aplicativos do Rio Grande do Sul (Simtrapli-RS), avalia que cerca de 70% da frota aderiu à paralisação em Porto Alegre nesta segunda (15).
“A gente se reuniu em frente ao Beira Rio, fomos até a sede da 99. Chegamos lá, estava fechada. Abre todos os dias às 9h. Hoje resolveu não abrir para não receber os trabalhadores. Entramos lá e colocamos nosso documento fixado na porta, achamos um absurdo”, relata Carina.
Em seguida, os motoristas na capital gaúcha foram ao Tribunal Regional do Trabalho, onde tiveram uma reunião agendada e, depois, para o escritório da Uber. “Fomos recebidos pela gerente do espaço Uber de Porto Alegre, onde ela recebeu nossas demandas mais uma vez e ficou de repassar para a direção de São Paulo”, diz Carina.
Ao Brasil de Fato, a Amobitec informou que “respeita o direito de manifestação” e que “as empresas associadas mantêm abertos seus canais de comunicação com os motoristas parceiros, reafirmando a disposição para o diálogo contínuo, de forma a aprimorar a experiência de todos nas plataformas”.
Confirmando a variabilidade e a falta de critério nítido sobre a porcentagem por corrida que fica com a empresa, a Uber disse que essa taxa deixou de ser fixa em 2018. Foi quando, diz a plataforma, “a Uber aprimorou seu modelo para equilibrar as variações entre o preço pago pelo usuário e os ganhos do parceiro”. Assim, informa a nota, “existe uma oscilação natural para cima e para baixo”.
Em todas as viagens, afirma a Uber, “o motorista parceiro sempre fica com a maior parte do que é pago pelo usuário”. Por fim, a plataforma informou que “a média global da taxa de intermediação no quarto trimestre de 2022 ficou abaixo de 20%”.
Já a 99 respondeu que se o motorista faz ao menos 10 corridas na semana, a empresa incorpora 19,99% do valor pago pelo passageiro. É o que chamam de “taxa garantida”.
Ambas as empresas e a Abomitec foram questionadas sobre as reivindicações da greve. O assunto, no entanto, não apareceu em nenhuma das respostas.
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Motoristas de app fazem greve nacional nesta segunda: “Mínimo de R$ 10 ou eu cancelo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU