26 Abril 2023
Aqueles que afirmam que o mundo sempre será como foi até agora contribuem a tornar realidade o objeto de sua predição.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 23-04-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
É o controlado Immanuel Kant – no breve ensaio sobre a filosofia da história intitulado Em que consiste o progresso da humanidade para melhor?, publicado postumamente em 1914 - que critica com um toque de ironia uma categoria de pessoas sempre às voltas com suas reclamações sobre a invencível iniquidade dos tempos. Quem se resigna já de saída, convencido de que não pode incidir nos resultados da história, abandonando-se a um apático fatalismo, é imediatamente destinado a confirmar a sua desconsolada (e cômoda) predição. Não é à toa que o mesmo verbo “resignar-se” é utilizado para indicar quem “resigna”, se demite, desistindo do empenho assumido.
É surpreendente que nos nossos dias, em que parece prevalecer a lei do sucesso a todo o custo, da eficiência e da hiperatividade, um grande número de pessoas, muitas vezes jovens, desista ao primeiro obstáculo, ceda imediatamente ao esforço, capitule diante das responsabilidades, prefira a rendição à resistência. Seu refúgio é a inércia; seu alimento é a reclamação; sua autodefesa é aquele mesquinho "eu avisei", que não é sinal de realismo, mas apenas de ignávia.
Não há coragem neles, há apenas um nebuloso cinzento que os impede de se mexer e lutar por um futuro diferente. Uma variante oposta dessa categoria é aquela daqueles que, ao contrário, se deleitam em grandes sonhos e aspirações irrealistas que lhes são impossíveis para depois chegar a uma autoabsolvição. Eles idealizam projetos ambiciosos e além de suas capacidades para justificar no fim seu improdutivo quieto viver.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
#resignados. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU