08 Novembro 2022
O falcão estava comendo o pássaro. Pensei em seu voo, precipitando feito um projétil do céu, atrás de mim e em cima do meu telhado; na pontaria infalível com que o falcão pegou aquele pássaro, como se o tivesse escolhido enquanto ainda estava a uma milha de distância. E também compreendi o terrível fato de que alguns homens amam a guerra.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado por Il Sole 24 Ore, 06-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Intitula-se Os abismos infinitos do céu e é uma antologia de textos de um autor místico que conquistou até os leitores não crentes pela profundidade de suas reflexões e pela clareza cristalina de seu estilo. Estamos falando do estadunidense Thomas Merton, um monge trapista, que morreu em um acidente em Bangkok em 1968, aos 53 anos. A cena que propomos é quase uma representação dramática ao vivo. Em seu eremitério no Kentucky ele descobre, em uma clara manhã de inverno, o que talvez também nos tenha acontecido ver.
É a lei implacável da sobrevivência que se baseia na supressão dos mais fracos. Mas em nós humanos muitas vezes é algo mais macabro. É o gosto do domínio, da vitória sangrenta, da violência gratuita. A guerra também se coloca nesta linha com toda a sua retórica e o imenso rastro de morte que carrega consigo. Mas o pensamento também corre para o que acontece dentro das paredes domésticas com as brutalidades bestiais de tantos homens contra suas mulheres ou contra crianças. Na ONU, em 1961, John F. Kennedy exclamava: "A humanidade deve acabar com a guerra antes que a guerra acabe com a humanidade".
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#o falcão. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU