O testamento de Uday, palestino, que morreu no naufrágio: “Amai-vos porque a vida é muito breve”

Foto: Flávio Gasperini | SOS MEDITERRANEE

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24 Março 2023

A mensagem social do jovem palestino morto em Cutro: fujamos da guerra e da pobreza.

A reportagem é de Giuseppe Legato, publicada por La Stampa, 23-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Uday Abdel Fattah Aref Ahmed. (Foto: Reprodução)

Uday Abdel Fattah Aref Ahmed era o único palestino a bordo do barco Summer Love, que partiu de Esmirna em 22 de fevereiro e naufragou em um banco de areia em Steccato di Cutro, na costa italiana, quatro dias depois às 4h15 da madrugada. Ele tinha 27 anos. Seu testamento 2.0 foi postado pouco antes de subir naquele barco no porto turco que depois rumou para a Itália: “Muitos familiares, muitos amigos morreram na guerra da Palestina. Estamos fugindo da guerra, da pobreza. A vida não para, para ninguém, mesmo que lamentemos todas as nossas perdas. A vida é breve, amem-se” diz enquanto se filma ao telefone.

E entre as vítimas estará justamente ele que não queria mais viver em Gaza onde arriscava a vida todos os dias, entre "guerra e pobreza", como ele mesmo dizia. Fala sobre a guerra na Palestina dizendo que "ninguém morre de tristeza e dor pela morte de um familiar", mas “vivemos com dor e tentamos seguir em frente para mudar a nossa vida e viver felizes nesta existência". Seus familiares o procuraram por semanas. Também se dirigiram à Embaixada da Palestina. Eles escreveram para o site de informações “Crotone News”, que após o naufrágio de Steccato di Cutro, tornou-se ponto de referência para muitos familiares das vítimas e dos desaparecidos.

Enquanto isso, há dias entrou nos atos da investigação o vídeo de dois minutos e 56 segundos filmado pelo avião Eagle 1 da Frontex na noite anterior ao naufrágio por volta das 22h00 quando o barco dos migrantes está a mais de 40 milhas da costa italiana. Viaja a 6 nós em um mar não proibitivo e de fato no comunicado enviado para a Guarda de Finança, Guarda Costeira e 24 outros endereços de e-mail, se fala de "navegação normal". Mas há vários elementos suspeitos: “As manchas por onde se detecta uma forte resposta térmica (presença de pessoas abaixo do convés), apenas um homem no convés, ausência de coletes salva-vidas e um telefonema de um celular por satélite com alvo localizado na Turquia”.

Ontem à noite saíram de Crotone outros dois corpos de vítimas do naufrágio: uma menina de seis anos e uma mulher de 33, ambas de nacionalidade afegã. Serão recebidos em Bolonha por um familiar. A chegada está prevista para esta manhã no cemitério Borgo Panigale, em Bolonha. O funeral será amanhã em caráter privado, no mesmo cemitério, às 15 horas com rito islâmico, celebrado pelo presidente da Ucoii Yassine Lafram

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