18 Março 2023
Assim como seus compatriotas católicos, os protestantes na Alemanha também estão se afastando de sua Igreja – em parte por razões internas, mas também devido ao secularismo desenfreado.
A reportagem é de Delphine Nerbollier, publicada em La Croix International, 17-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As Igrejas protestantes na Alemanha não estão imunes à crise que atingiu a Igreja Católica do país e a levou a lançar o Caminho Sinodal. Assim como seus compatriotas católicos, as 20 Igrejas luteranas, reformadas e unidas regionais – agrupadas sob a égide da EKD (Evangelische Kirche in Deutschland) – continuam perdendo membros.
Os números mais recentes de 2022 mostram mais uma vez a extensão do declínio. Com 19,1 milhões de membros, a EKD representa agora apenas 22,7% da população da Alemanha, uma baixa histórica. Ela perdeu meio milhão de membros em 2022. Cerca de 365.000 deles morreram, mas 380.000 se afastaram voluntariamente – um número 35,7% maior do que em 2021. Os 165.000 batismos registrados em 2022 não compensam a perda.
Annette Kurschus, presidente da EKD, descreveu a situação como “deprimente”. Mas, como outros apontam, a queda no número de membros não é nenhuma novidade.
“Durante décadas, a Igreja Protestante teve um número maior de deserções do que os católicos, com duas exceções – em 2010, quando os escândalos sexuais foram revelados na Igreja Católica, e em 2021, quando ocorreram escândalos na Arquidiocese de Colônia”, observou Detlef Pollack, que ensina Sociologia da Religião na Universidade de Münster.
“Agora estamos em uma situação diferente. A taxa de afastamento da Igreja Católica está alcançando a dos protestantes”, acrescentou.
Nos últimos 20 anos, a EKD perdeu 4 milhões de membros, contra 3,5 milhões da Igreja Católica.
Uma das principais razões para essa constante onda de saídas entre os protestantes é “sua relação mais distante com sua comunidade religiosa do que os católicos”, afirmou Petra-Angela Ahrens, do Instituto de Ciências Sociais da EKD.
“Isso se explica por uma socialização religiosa inicial menos forte. Há muito tempo, entre os protestantes, fala-se de um fenômeno de afastamento da Igreja”, disse ela.
Além disso, há problemas internos, incluindo a revelação de escândalos sexuais no rastro dos que afetam os católicos. Embora os casos estejam em uma escala muito menor (842 casos conhecidos desde 1949), eles enfraqueceram os órgãos de governo, que são criticados por sua falta de capacidade de resposta.
Cerca de 41% dos que abandonaram a Igreja Protestante em 2018 disseram ter sido motivados, entre outras coisas, por tais escândalos (contra 69% entre os católicos).
Quanto ao imposto religioso, que todo membro da Igreja deve pagar, ele também desempenha um papel nessas decisões, embora permaneça secundário e chegue apenas no fim de um longo processo de distanciamento.
“Quando prevalecem a indiferença para com a Igreja e a falta de conexão com a vida comunitária, a participação financeira muitas vezes não faz mais sentido”, disse Ahrens.
Mais amplamente, a Igreja Protestante e sua contraparte católica são afetadas por várias tendências subjacentes: o envelhecimento da população da Alemanha e a secularização desenfreada da sociedade. Desde o ano passado, protestantes e católicos representam agora menos da metade da população do país. Isso é inédito na Alemanha.
Pollack disse que o país atingiu um “ponto de inflexão”, que explica a aceleração no número de pessoas que abandonam sua Igreja. “Quando a maioria da sociedade pertence a uma Igreja, você tem que justificar sua saída. Mas, quando metade da população não pertence a nenhuma dessas Igrejas, a pressão social diminui, e fica mais fácil sair”, disse ele. “Em vez disso, agora você tem que justificar por que permanece em uma Igreja.”
Esse rolo compressor parece ser tão forte que tanto a Igreja Católica quanto a Protestante podem perder metade de seus membros bem antes de 2060, como havia sido inicialmente previsto.
Diante disso, as autoridades protestantes continuam defendendo mudanças. Eles lançaram um processo de “reformas futuras” em 2018, com toda uma seção voltada para a digitalização.
“A mudança permanente é uma das características essenciais da Igreja Protestante”, disse Kurschus, presidente da EKD. Na semana passada, ela anunciou que ela e outras lideranças querem rever as estruturas e reconquistar os jovens.
Uma iniciativa é o Dia Nacional do Batismo, que será realizado em junho. Mas isso reverterá a tendência? O sociólogo Pollack não acredita nisso. “A EKD vem se reformando constantemente há décadas, mas isso não está impedindo que as pessoas abandonem a Igreja”, disse ele.
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Número de protestantes alemães está em queda expressiva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU