28 Fevereiro 2023
A dominância do tema pandemia da Covid-19 em 2020 provocou uma sobrecarga de informação e saturou audiências, assim que grande parte do público argentino parou de consumir notícias. É esse o quadro que mostra pesquisa recente realizada pelo Núcleo de Estudos em Comunicação e Cultura, da Universidade de San Martín, de Buenos Aires.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista. 26-02-2023.
Atualmente, apenas uma em cada quatro pessoas afirmou se informar diariamente em portais digitais, e uma em cada duas pessoas nunca lê jornais nem sintonia emissoras de rádio. Quanto ao meio televisão, 22% responderam que assistiam programas de notícias todos os dias, 29,2% às vezes, mas 39,4% nunca.
Dados do Observatório de Meios da Universidade Nacional de Cuyo, Mendoza, em março de 2020 quase 90% do noticiário dos meios digitais argentinos estavam voltados à pandemia. “Ao excesso de informação e à saturação somava-se um efeito de desinformação, pois as versões encontradas sobre um tema tão delicado quando à saúde, mesmo de fontes legítimas como a Organização Mundial da Saúde, eram conflitantes”, relatam as repórteres Brenda Focás e Marina Moguillansky, no site da Revista Anfíbia.
A estudante de Psicologia da Universidade de Buenos Aires, de nome Natália, contou às repórteres que nos primeiros meses de 2020 ela consumia todo tipo de notícias. “Depois parei porque isso estava me deixando doente. Havia tanta morte e tanto ódio na televisão que eu pensei: acho melhor eu ler um livro, assistir a uma série”.
A pesquisa indagou quais fontes de informação eram mais confiáveis na pandemia: 38% apontaram os meios nacionais, 24% os meios internacionais, 15% os cientistas, 13% o governo e 10% as redes sociais. A relação de confiança mostrou-se mediada pela identidade política da pessoa entrevistada.
A saturação de notícias não se restringe à Argentina. Relatório global da Reuters detectou o fenômeno no Brasil, onde a evasão seletiva dobrou, passando a 54%, e no Reino Unido, com 46%, nos últimos cinco anos. Pessoas relataram que notícias geram um efeito negativo em seu estado de ânimo. O que prevalece nos dias de hoje é o consumo incidental de informações.
Um percentual significativo de jovens e pessoas com nível de instrução baixo indicaram que evitam acesso às notícias porque elas são, muitas vezes, difíceis de acompanhar ou entender. A pesquisa também detectou contrastes no nível de confiança no noticiário, dependendo da posição política do leitor, ouvinte, telespectador. Dos entrevistados, 46,9% disseram que os meios de comunicação estavam muito politizados, e que tomavam partido ou contra ou a favor das recomendações do governo federal, o que representou um viés à cobertura informativa.
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Para argentinos, pandemia da covid-19 saturou o noticiário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU