18 Janeiro 2023
O Papa condena o ataque com mísseis no sábado passado na Ucrânia, "um episódio trágico" ao qual "não se pode ficar indiferente".
Mais uma vez, o Papa Francisco aproveitou a audiência de quarta-feira para condenar o ataque com mísseis na Ucrânia no sábado passado, que "fez inúmeras vítimas civis". Depois de endossar o "desolador luto dos familiares", apela a "todas as consciências", porque, perante "este trágico episódio", "não se pode ficar indiferente.
Em seu ciclo catequético, dedicado à paixão de evangelizar, refletiu sobre “a pessoa de Jesus, modelo insuperável de todo evangelizador”. Porque "o seu coração é pastoral… o seu coração pastoral bate sempre por quem está perdido, longe. E a nossa?" Para ter o mesmo coração, os cristãos, segundo o Papa, devem “sofrer” por aqueles que partem e “arriscar” para ir ao seu encontro. Claro, sem proselitismo, “porque proselitismo não é cristão”. Porque "não se trata de fazer proselitismo para que os outros sejam 'um de nós', mas de amar para que sejam felizes filhos de Deus".
A introdução acima é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 18-01-2023.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Na quarta-feira passada iniciamos um ciclo de catecismo sobre a paixão de evangelizar, sobre o zelo apostólico que deve animar a Igreja e cada cristão. Hoje olhamos para o modelo insuperável do anúncio: Jesus. O Evangelho do dia de Natal definiu-a como a "Palavra de Deus" (cf. Jo 1,1). O fato de ser o Verbo, isto é, a Palavra, indica-nos um aspecto essencial de Jesus: Ele está sempre em relação, em saída; a palavra, de fato, existe para ser transmitida, comunicada. Este é Jesus, a Palavra eterna do Pai que nos alcança. Cristo não só tem palavras de vida, mas também faz da sua vida uma Palavra: isto é, vive sempre orientado para o Pai e para nós. Sempre olhando para o Pai e para nós.
Com efeito, se olharmos para os seus dias, descritos nos Evangelhos, vemos que em primeiro lugar está a intimidade com o Pai, a oração, para a qual Jesus se levanta cedo, quando ainda está escuro, e vai a lugares desertos para rezar (cf. Mc 1,35; Lc 4,42). Todas as decisões e escolhas mais importantes são feitas depois de ter rezado (cf. Lc 6,12; 9,18). Precisamente nesta relação, na oração que o une ao Pai no Espírito, Jesus descobre o sentido do seu ser homem, da sua existência no mundo como missão para nós.
Para isso, é interessante o primeiro gesto público que Ele faz, depois dos anos de sua vida escondida em Nazaré. Jesus não faz um grande prodígio, não manda uma mensagem com efeito, mas se mistura com as pessoas que iam ser batizadas por João. Assim, Ele oferece-nos a chave da sua ação no mundo: despendendo-se pelos pecadores, solidarizando-se conosco sem distância, na partilha total da vida. Com efeito, falando da sua missão, dirá que não veio "para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10,45). Todos os dias, depois da oração, Jesus dedica todo o seu dia ao anúncio do Reino de Deus e aos homens, especialmente aos mais pobres e fracos, pecadores e doentes (cf. Mc 1,32-39).
Assim, se quisermos representar com uma imagem o seu estilo de vida, não teremos dificuldade em encontrá-la: o próprio Jesus no-la oferece, falando de si mesmo como o bom pastor, aquele que - diz - "dá a sua vida pelas ovelhas" (Jo 10, 11). Na verdade, ser pastor não era apenas um trabalho, que exigia tempo e muito esforço; era um verdadeiro estilo de vida: vinte e quatro horas por dia, vivendo com o rebanho, acompanhando-o ao pasto, dormindo entre as ovelhas, cuidando dos mais fracos. Em outras palavras, Jesus não faz algo por nós, mas dá sua vida por nós. O seu coração é pastoral (cf. Ez 34,15).
De fato, para resumir em uma palavra a ação da Igreja, muitas vezes é usado precisamente o termo “pastoral”. E para valorizar nosso cuidado pastoral, devemos nos comparar com o modelo, Jesus Bom Pastor. Antes de tudo, podemos nos perguntar: nós o imitamos bebendo das fontes da oração, para que nossos corações estejam em sintonia com o seu? A intimidade com Ele é, como sugere o belo volume do abade Chautard, "a alma de todo apostolado". O próprio Jesus o disse claramente aos seus discípulos: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 15, 5). Se você está com Jesus, descobre que seu coração pastoral bate sempre por quem está perdido, longe. E o nosso?
Ouvimos a parábola da ovelha perdida, contida no capítulo 15 do Evangelho de Lucas (cf. vv. 4-7). Jesus também fala sobre a moeda perdida e o filho pródigo. Se quisermos treinar o zelo apostólico, devemos ter sempre em mente o capítulo 15 de Lucas. Leia com frequência. Ali descobrimos que Deus não está ali para contemplar o recinto de suas ovelhas e nem as ameaça para que não saiam. Ao contrário, se alguém sai e se perde, não o abandona, mas o procura. Não diz: "Ele se foi, culpa dele, problema dele!"
O coração pastoral reage de maneira diferente: sofre e arrisca. Ele sofre: sim, Deus sofre por aqueles que partem e, enquanto chora por ele, ama-o ainda mais. O Senhor sofre quando nos distanciamos do seu coração. Sofra por quem não conhece a beleza do seu amor e o calor do seu abraço. Mas, diante desse sofrimento, ele não fecha, mas arrisca: deixa as noventa e nove ovelhas que estão salvas e se aventura pela única perdida, fazendo algo arriscado e também irracional, mas de acordo com seu coração pastoral, que tem saudades dos que já se foram; não raiva ou ressentimento, mas uma saudade irredutível de nós. É o ciúme de Deus.
E nós, temos sentimentos semelhantes? Talvez vejamos aqueles que deixaram o rebanho como adversários ou inimigos. Perdeu a fé, foi-se embora, vai para o inferno, costumamos dizer. Encontrando-os na escola, no trabalho, nas ruas da cidade, porque não pensar que temos uma bela oportunidade de testemunhar-lhes a alegria de um Pai que os ama e que nunca os esqueceu? Há uma boa palavra para eles e temos a honra e o fardo de carregá-la. Porque a Palavra, Jesus, nos pede isto: aproximar-nos sempre de todos com o coração aberto. Talvez tenhamos seguido e amado Jesus por muito tempo e nunca nos perguntamos se compartilhamos os sentimentos, se sofremos e arriscamos em sintonia com seu coração pastoral! Não se trata de fazer proselitismo para que os outros sejam “um de nós”, mas amar para que sejam felizes filhos de Deus. Proselitismo não é cristão. Peçamos na oração a graça de um coração pastoral, aberto, para sentir a saudade de Cristo. Porque, sem este amor que sofre e arrisca, corremos o risco de pastar apenas a nós mesmos. Pastores que pastoreiam a si mesmos.
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Papa Francisco reitera na catequese que “o proselitismo não é cristão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU