09 Dezembro 2022
Após os mandados de busca nos mosteiros ortodoxos, a acusação: ter transformado locais de culto em "células de propaganda". Sacerdote de Lysychansk condenado a 12 anos por "passar informações".
A reportagem é de Giacomo Gambassi, publicada por Avvenire, 08-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A acusação é a de ter transformado as igrejas ou os mosteiros da Ucrânia em "células de propaganda russa". Há dez nomes de bispos e sacerdotes incluídos na "lista negra" de colaboracionistas assinada pelo presidente Zelensky. Todos da Igreja Ortodoxa ligada ao patriarcado de Moscou. A decisão foi tomada no dia da condenação a 12 anos de prisão do padre líder da Igreja Ortodoxa Russa de Lysychansk, sob a acusação de ter fornecido informações a Moscou sobre os deslocamentos das tropas de Kiev.
A principal comunidade religiosa do país está há semanas no centro das buscas e investigações do SBU, o serviço secreto ucraniano, que acusa uma parte da Igreja Ortodoxa na Ucrânia de ser uma espécie de "infiltrado" de Moscou. E de ter transformado as batinas numa cobertura para os 007 do Kremlin no território agredido.
Os dez suspeitos de "atividades subversivas" são figuras destacadas do panorama eclesiástico do país que exercem ou exerceram o seu ministério nas zonas conquistadas pelos militares russos. Existem os metropolitas de Simferopol e Crimeia, Shvets Rostislav Pylypovich, de Teodosia e Kerch, Udovenko Volodymyr Petrovych, ou seja, de áreas voltadas para o Mar Negro; e também o Metropolita de Izyum e Kupyansk, Oleg Oleksandrovich Ivanov, cidades que permaneceram nas mãos dos russos até setembro; o metropolita de Buryn, Oleksii Oleksandrovich Maslenikov, distrito ao norte da capital que o exército russo controlou no primeiro mês do conflito.
E ainda quatro bispos e um padre. E, sobretudo, Petro Dmytrovych Lebid, à frente das dioceses de Vyshgorod e Chernobyl, na região de Kiev, e vigário da Santa Dormição no mosteiro das Grutas, coração do monaquismo ortodoxo no centro da capital. Segundo os serviços de segurança, a maioria deles ainda se encontra nas zonas ocupadas ou no exterior. As acusações são idênticas: ter "colaborado com as autoridades de ocupação", "promover narrativas pró-russas" da guerra, ter "justificado a agressão militar". Contra eles foi decretado o bloqueio dos bens, juntamente com uma série de restrições econômicas.
A lista de proscrição, com as sanções estabelecidas pelo Conselho de Segurança Nacional, chega poucos dias depois do início do processo legislativo para banir na Ucrânia a Igreja Ortodoxa, que tem suas origens em Moscou. Um percurso acompanhado por repetidas blitz nos locais de culto para combater as "atividades ilegais em detrimento da soberania estatal". As ações de "contraespionagem" que, repetem as autoridades nacionais diante de certos temores internos e das perplexidades internacionais sobre a liberdade fundamental de religião, respeitam o "princípio da imparcialidade para com qualquer confissão religiosa tal como definido pela Constituição".
A SBU relata em seus relatórios o rosto de uma "Igreja ligada a Moscou". Os agentes falam de textos com "ensinamentos sobre satanismo" e "símbolos nazistas" referentes à Ucrânia descobertos à sombra dos campanários nas regiões de Transcarpática, Rivne e Zhytomyr. Explicam que dentro do mosteiro de São Nicolau, no distrito de Khust, havia "folhetos louvando os invasores russos". Informam que nas igrejas foram encontrados "volumes de literatura pró-russa e milhões em dinheiro". Na mira o Seminário Pochaev, a eparquia de Ivano-Frankivsk e as freiras de um mosteiro na Transcarpática que invocavam "o despertar da Mãe Rússia".
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Ucrânia. Bispos e padres da Igreja de Moscou na “lista de proscrição” de Kiev - Instituto Humanitas Unisinos - IHU