Do ideário grego à crítica dos afetos: reflexões sobre a democracia de nosso tempo

XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e XXI Simpósio Internacional IHU tem duas conferências nessa segunda-feira (07-11)

Assassinato de Júlio Cesar no Senado romano | Reprodução Gently Images

Por: João Vitor Santos | 07 Novembro 2022

Passada a eleição de 30 de outubro e com a vitória de Lula, muitos respiram aliviados por acreditar que o Estado democrático de direito está reestabelecido. De fato, espera-se que isso aconteça e que o governo eleito seja capaz de cessar com os arroubos totalitários que flertam ora com fascismo, ora com o nazismo. No entanto, os episódios dessa última semana, em que uma massa de reacionários tranca rodovias e promove atos tresloucados na frente de prédios com repartições das Forças Armadas, pelo simples fato de seus membros não aceitarem o resultado das urnas, revelam que nossa democracia não está lá muito forte. Aliás, diante de ato tão absurdos, chega-se a questionar se essa parcela da população realmente entende o que é democracia, o sistema de governo tido como um dos principais legados gregos aos Estados do Ocidente. 

 

Afinal, talvez o assassinato de Júlio Cesar em pleno senado romano (imagem no topo), uma herança direita da democracia grega, tenha bem mais a dizer sobre esse legado e os afetos que nos movem na política do que podemos imaginar. Nessa segunda-feira, em mais duas atividades do XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e XXI Simpósio Internacional IHU O Futuro da Democracia e o Novo Regime Climático – Ameaças (auto) críticas e potencialidades, os dois temas, o ideário grego de democracia e a política dos afetos, estarão presentes. 

 

O professor Eduardo Wolf, da Universidade de Brasília – UnB, discutirá justamente que legado grego é este e seus desafios. Ela proferirá a palestra “Democracias: ideais gregos e desafios contemporâneos”. A atividade ocorre ao vivo, às 10h, no formato live através do canal do IHU do YouTube, com reprodução em todas as redes sociais do Instituto Humanitas Unisinos – IHU

  

Saiba mais sobre Eduardo Wolf

É professor de Filosofia Antiga da UnB, professor do Programa de Pós-Graduação em Metafísica da Universidade de Brasília (PPG-Metafísica, UnB) e pesquisador da Cátedra UNECO-Archai sobre as origens do pensamento ocidental, além de membro do Grupo de Pesquisa em Filosofia Antiga da Universidade de São Paulo – USP

Eduardo Wolff 

Foto: Wikipédia

Também é bacharel em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, mestre em Filosofia pela mesma instituição, com estágio de pesquisa na USP. É doutor em Filosofia pela USP, com pesquisas na Universidade Ca’ Foscari (Veneza). É editor da revista Archai, editada pela Universidade de Coimbra e pela UnB

Afetos

Para alguns especialistas, os ataques à democracia podem não ter tanta relação com saber ou não os conceitos e ideias em profundidade, mas sim como as pessoas são afetadas por esse sistema de afetos. Afinal de contas, acredita-se que, em muito, os seres humanos se movem verdadeiramente pelos desejos e seus afetos. É mais ou menos nessa linha que o professor e semioticista Paolo Demuru, em entrevista recente concedida ao IHU, explica o esfacelamento do espaço político-democrático. Segundo ele, “a batalha pelo campo da política se joga também no campo dos afetos”.

Na mesma direção de reflexão vai Filipe Campello, que recentemente publicou Crítica dos afetos (Autêntida, 2022). No livro, ele chama à reflexão Rousseau e Hegel, com uma passada pela promessa liberal e pela tradição da teoria crítica, além de autores de teorias decoloniais para elaborar sua tese de que “as formas de que dispomos para sentir e narrar nossas experiências dependem de um vocabulário que nos antecede enquanto sujeitos e, portanto, não devem ser vistas nos termos de uma propriedade individual”. Para ele, “ao voltar o foco ao horizonte compartilhado que atravessa nossos afetos, podemos explicitar quais experiências podem efetivamente ser vividas e narradas. Isso nos faz ver não apenas que os afetos foram negligenciados em sua potência de crítica social, mas também que essa exclusão foi historicamente um problema de injustiça”. Por isso, chama essa perspectiva para refletir também sobre política e democracia. 

Livro de Campello, lançado em outubro de 2022

Foto: divulgação

Essa é justamente a temática que o autor abordará em mais uma conferência do XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e XXI Simpósio Internacional IHU que ocorre nesta segunda-feira, 07-11-2022. A partir das 20h, Campello proferirá a conferência “Democracia e Crítica dos Afetos”. A palestra também será em formato live, com transmissão pelas redes do IHU

  

Saiba mais sobre Filipe Campello

É professor adjunto no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, coordenador do Núcleo de Ética e Política desta mesma instituição e pesquisador do CNPq. É doutor em Filosofia pela Universidade de Frankfurt e foi pesquisador visitante da The New School for Social Research (Nova York), tendo recebido o Fulbright Junior Faculty Member Award, e nas Universidades de Perúgia (Itália) e Bergen (Noruega).

Filipe Campello

Foto: acervo pessoal

É membro da Red Latinoamericana de Estudios sobre el Reconocimiento e do núcleo de sustentação do GT de Teoria Critica da ANPOF. Escreveu Die Natur der Sittlichkeit: Grundlagen einer Theorie der Institutionen nach Hegel (Transcript, 2015), sendo coautor de Modernizações ambivalentes: perspectivas interdisciplinares e transnacionais (EDUFPE, 2016). 

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