26 Outubro 2022
No encontro com 1.500 jesuítas e estudantes de escolas católicas para enfrentar o desafio global das mudanças climáticas, o ativista ambiental e escritor Bill McKibben não estava apenas falando com eles. Ele também estava se dirigindo aos mais velhos.
“Os jovens fizeram seu trabalho”, disse McKibben à plateia em 22 de outubro no 25º Seminário Anual da Família Inaciana para a Justiça, referindo-se às greves e protestos liderados por jovens nos últimos anos que alçaram a importância do Novo Regime Climático na consciência nacional e internacional – uma questão que definirá suas vidas mais que qualqer outra.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada por EarthBeat, caderno do National Catholic Reporter, 25-10-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Fico um pouco preocupado, no entanto”, continuou ele, “porque às vezes ouço pessoas da minha idade, e estou com 60 anos agora, dizer: ‘Bem, cabe à próxima geração resolver esse problema’. O que parece ignóbil e também parece impraticável. Porque, por mais inteligente, idealista e enérgico que você seja, você não tem o poder estrutural para fazer isso sozinho. Você também precisa de pessoas mais velhas”.
McKibben, fundador do grupo global de defesa do clima 350.org, que liderou protestos internacionais e campanhas de desinvestimento em combustíveis fósseis, disse que os jovens trazem energia e “uma autoridade moral” para a crise das mudanças climáticas. Mas as gerações mais velhas, como aquelas com mais de 60 anos que fazem parte de sua nova campanha “Terceiro Ato”, acrescentou ele, podem aumentar isso com o poder financeiro e político acumulado ao longo da vida – com os baby boomers e a Geração Silenciosa juntos representando 70% dos ativos financeiros do país.
“Você sabe o que os idosos fazem? Os idosos votam... Então, se vocês querem enfrentar o Congresso ou querem enfrentar Wall Street, é bom ter alguns idosos apoiando”, disse ele à multidão, composta principalmente por adolescentes e jovens de até 20 anos, exortando-os a incentivar seus avós a se envolverem.
“Vocês têm a possibilidade de construir um novo mundo extraordinário. Mas vocês devem fazer isso – nós devemos fazer isso – rápido. Esta é uma prova cronometrada”, disse ele.
“Depois de derretermos o Ártico, ninguém tem um plano para congelá-lo novamente. Portanto, precisamos de ação rápida”.
McKibben, colaborador do The New Yorker e autor de mais de uma dúzia de livros, incluindo seu mais recente, “The Flag, the Cross e the Station Wagon” (“A bandeira, a cruz e a Kombi”, em tradução livre), fez as observações durante a palestra de abertura do encontro anual da família inaciana “Teach-in for Justice” (“Educar pela Justiça”, em tradução livre).
O “Educar pela Justiça” deste ano marcou um quarto de século do encontro anual, que surgiu como uma resposta aos assassinatos de seis padres jesuítas e dois companheiros em El Salvador em novembro de 1989. O encontro é considerado o maior evento anual de justiça social católica nos EUA.
Depois de trazer estudantes para Fort Benning, na Geórgia, para demonstrar fora da Escola do Exército dos EUA – onde os soldados envolvidos nos assassinatos dos jesuítas foram treinados – ela se mudou em 2010 para a capital do país para se concentrar na advocacia legislativa. Dois dias de sessões de conferência foram seguidos por muitos dos grupos de estudantes que se dirigiram ao Capitólio para envolver seus membros do Congresso nas questões que importam para eles, incluindo imigração e meio ambiente.
Em seu discurso, McKibben conectou a mudança climática ao aumento da migração em todo o mundo, inclusive na fronteira sul dos EUA. Ele lembrou que em 2020 o Atlântico viveu sua maior temporada de furacões já registrada. Naquele ano, os furacões Ada e Iota causaram danos extraordinários na América Central, destruindo estradas, pontes e fazendas e levaram muitas pessoas a sair de casa e seguir para o norte.
“Não posso dizer qual será o status legal deles [quando chegarem à fronteira dos EUA], mas posso dizer qual é o status moral deles: eles não causaram o problema de que estão sofrendo agora. Eles liberam cerca de um décimo quinto da quantidade de carbono de um estadunidense ao longo do ano”, disse McKibben, que professa a fé metodista.
O que separa a mudança climática de outras questões políticas importantes é o relógio, disse ele, de modo que mesmo vencer lentamente pode ser uma perda se forem superados os pontos críticos e irreversíveis que colocam em movimento as consequências mais desastrosas de um mundo em aquecimento.
As temperaturas globais médias já aumentaram cerca de 1 grau Celsius desde os tempos pré-industriais, e muitos dos efeitos das mudanças climáticas que os cientistas projetaram décadas atrás começaram a se manifestar, desde chuvas extremas e tempestades mais fortes, até temperaturas crescentes, secas persistentes e incêndios florestais maciços. Os cientistas afirmaram que a desaceleração do aquecimento global ainda é possível por meio de reduções maciças nas emissões de gases de efeito estufa nesta década e atingindo emissões líquidas zero em meados do século.
“Esse 1 grau vai se tornar 3 graus Celsius, 5 ou 6 graus Fahrenheit, no decorrer de sua vida. E se deixarmos isso acontecer, então não teremos civilizações como as que estamos acostumados”, disse ele.
Oferecendo conselhos aos estudantes, McKibben disse que imaginava que com cientistas e escritores fornecendo dados e evidências sobre as mudanças climáticas – que estavam acontecendo, causadas por atividades humanas e representavam ameaças cataclísmicas ao planeta – seria suficiente para convencer e influenciar as lideranças a tomarem as medidas necessárias. Mas ele subestimou o papel do dinheiro e do poder de empresas como a indústria de combustíveis fósseis.
Essa revelação o levou a passar de escritor a ativista e, em 2009, fundou a 350.org com sete estudantes universitários no Middlebury College, de Vermont, onde ainda leciona.
Além de organizar grandes protestos climáticos em todo o mundo, a 350.org foi uma das principais catalisadoras do movimento de desinvestimento em combustíveis fósseis que, até o momento, viu mais de 1,5 mil instituições, representando mais de 40 trilhões de dólares, retirarem investimentos dos combustíveis fósseis. Isso inclui muitas instituições religiosas, incluindo sete escolas católicas dos EUA.
Joseph Miscimarra, um dos líderes da Fossil Free Marquette e membro do Voluntariado Jesuíta do Noroeste dos EUA, disse ao EarthBeat que o esforço bem-sucedido desse grupo para pressionar a Marquette University a desinvestir não teria ocorrido sem o apoio de organizações como a 350.org e a Catholic Divestment Network.
“A 350.org deu um guia completo online sobre como iniciar uma campanha, como contar histórias, como recrutar pessoas, como centrar as pessoas mais afetadas pelas mudanças climáticas”, disse ele.
Embora o presidente Joe Biden tenha assinado recentemente uma lei de mais de 300 bilhões de dólares para lidar com as mudanças climáticas – o maior investimento desse tipo na história do país – McKibben previu que mais ações do Congresso não ocorrerão tão cedo, especialmente se os republicanos assumirem o controle após as eleições de novembro. Isso chamará a atenção para os governos estaduais e locais, bem como para as instituições financeiras que continuam a financiar os combustíveis fósseis.
Uma nova campanha, “Go Fossil Free” (“Livre-se do petróleo”, em tradução livre), da 350.org tem como alvo quatro dos maiores financiadores da indústria de combustíveis fósseis: Chase, Citi, Wells Fargo e Bank of America.
Durante uma sessão de acompanhamento com mais de 200 pessoas, McKibben respondeu a uma pergunta sobre como ele evita o esgotamento e a exaustão na defesa do clima, incentivando todos a passar tempo ao ar livre. “É um bom lembrete de por que fazemos o trabalho”, disse ele.
Samantha Castro, caloura da St. Peter's University, Nova Jersey, apreciou o foco de McKibben nas gerações mais velhas caminhando ao lado da sua.
“Sinto que somos constantemente impulsionados a avançar e convocar para ação”, disse ela ao EarthBeat.
Miscimarra, da Marquette University, concorda:
“Muitas vezes vemos as gerações mais jovens assumindo a liderança e liderando tudo relacionado à justiça climática”, disse ele. “Então, estou feliz que ele, como alguém de uma geração mais velha, esteja implorando a outras pessoas de sua idade para seguir nossa liderança”.
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EUA. Em encontro de jesuítas pela justiça, o ativista Bill McKibben pede aliança de jovens e idosos pelo clima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU