25 Outubro 2022
"Com sua chegada à Presidência, de certa forma, ele tornou a psicopatia socialmente aceitável e como uma normalidade. Cercou-se de pessoas com as mesmas tendências – quem não as têm foi excluído – e incentivou muitas pessoas a soltar o lobo raivoso e destruidor que existe dentro delas. Fez vir à tona, aflorar, condutas antissociais e amorais dos ressentidos na sociedade, condutas misóginas, racistas, discriminadoras e violentas que antes estavam fervilhando sob a superfície do controle social".
O artigo é de Hans A. Trein, pastor emérito da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).
A sociedade brasileira teve quase quatro anos para conhecê-lo. O ponderado político cearense Tasso Jereissati disse que o problema dele é mental. A psicóloga, psicanalista e sexóloga Marta Suplicy afirmou que ele é psicopata. Os primeiros sinais apareceram publicamente em 2019, pois antes era quase desconhecido. De lá para cá ficaram muito evidentes. Veja abaixo as características da psicopatia, pesquise, e tire suas conclusões.
A psicopatia é um distúrbio mental caracterizado pelo desprezo por outras pessoas. É um transtorno de personalidade também conhecido por sociopatia ou condutopatia.
A definição de psicopatia no dicionário Oxford Languages:
“Distúrbio mental grave em que o enfermo apresenta comportamentos antissociais e amorais sem demonstração de arrependimento ou remorso, incapacidade para amar e se relacionar com outras pessoas com laços afetivos profundos, egocentrismo extremo e incapacidade de aprender com a experiência.”
O psiquiatra forense Dr. Guido Palomba diz que a psicopatia está entre os distúrbios mentais mais difíceis de diagnosticar e detectar. O psicopata pode parecer normal e até mesmo ser encantador. “Não apresenta sentimentos superiores de piedade, compaixão e altruísmo... não há culpa nem remorso... culpa a vítima... tem desejo anormal... Os condutopatas nascem, se desenvolvem e morrem condutopatas.” A psiquiatria distingue entre casos leves, moderados e graves de psicopatia. A psicopatia é uma doença refratária a tratamento. Tratamento psicoterápico pode ajudar, mas a enfermidade é crônica: pode durar anos ou a vida inteira. A psicopatia não tem cura: é um modo de ser.
Fazendo um levantamento, ele tem todos os indícios de psicopatia. Vejamos alguns:
- Empatia inexistente. Ele não sofre com o sofrimento alheio. Ele não entende o sofrimento alheio. “E daí?”
- Culpa a vítima, como foi o caso de Bruno Pereira e Dom Phillips, assassinados esse ano.
- É um homem permanentemente vaidoso que só pensa nele mesmo e, no máximo, em familiares mais próximos. Sua pretensão messiânica extrapolou tanto que, nos primeiros anos, era presidente e antipresidente, ao mesmo tempo.
- Os fins justificam os meios. Nada é sagrado, não há limites para instrumentalizar religião, Deus... a ética é utilitarista, ou seja, são apenas meios que servem aos seus próprios interesses.
- Advoga a liberdade sem limites, inclusive a liberdade de mentir e de ser violento. O efeito já é verificável nas estatísticas.
- Não aguenta o contraditório. Ele não aguenta alguém que discorde. Ele elimina essas pessoas da sua vida, do seu governo, de onde for, pois a pessoa dá trabalho, por discordar de suas ideias.
- Ele é compulsivo, fala qualquer coisa. Arrota ignorância como se fosse sabedoria. Não tem controle nenhum, nem da consequência. Diz qualquer coisa, dias depois desdiz, tempos depois afirma que nunca disse, apostando na falta de memória e ofendendo a inteligência de cidadãos e cidadãs, apesar de estar tudo gravado. Transformou a cadeira da Presidência numa mesa de bar.
- É turrão e tosco nas palavras. Fala o que vem na cabeça. Seus asseclas elogiam como “sinceridade” e “autenticidade”, entretanto.
- Quando o valor das palavras é banalizado, a ponto de o pior poder ser dito por um candidato à Presidência da República, como se fossem apenas palavras ao ar, perdemos a noção de que estamos escrevendo, com elas, nossa história. Palavras corrompidas são como balas perdidas; um dia acharão corpos, os mais vulneráveis! (Eliane Brum)
- É afeito a exageros positivos para si mesmo (“melhor do mundo”), negativos para quem pensa diferente (“pior da humanidade”), por ele declarado como inimigo a ser eliminado.
- Ele não sente culpa de nada, e isso revela um traço muito sério do psicopata. Quando alguém faz algo errado, geralmente sente culpa. Ele não. Ele consegue dormir. Ele se acha absolutamente certo, e quem não acha... fora!
- O psicopata tem uma crueldade muito grande. É uma pessoa maligna mesmo, transgressora, sem limites. A vida inteira ele foi um transgressor. O psicopata é cruel, porque sente prazer na dor alheia, isso lhe dá satisfação. Isso o nutre, isso lhe dá segurança. E quanto mais inseguro ele fica, mais ele humilha, mais ele ofende covardemente as minorias.
- Ele não é um psicopata simples. Ele tem paranoia, vê coisas onde não existem.
Com sua chegada à Presidência, de certa forma ele tornou a psicopatia socialmente aceitável e como uma normalidade. Cercou-se de pessoas com as mesmas tendências – quem não as têm foi excluído – e incentivou muitas pessoas a soltar o lobo raivoso e destruidor que existe dentro delas. Fez vir à tona, aflorar, condutas antissociais e amorais dos ressentidos na sociedade, condutas misóginas, racistas, discriminadoras e violentas que antes estavam fervilhando sob a superfície do controle social. Imagine-se gente seguindo o líder e replicando as características da psicopatia na sociedade! Basta olhar o padrão de comportamento de seus seguidores, principalmente nas redes sociais – ali ainda protegidos por um manto de anonimato – e também de alguns mais fanáticos no cercadinho do Palácio da Alvorada, nos comícios e até mesmo no Santuário de Aparecida.
Uma última observação: as tragédias pessoais dos poderosos tornam-se muito perigosas quando elas se transformam em políticas públicas. Aí está o peso do seu voto!
Vídeo de entrevista com Marta Suplicy, acesso em 15.10.2022.
Vídeo de entrevista com o psiquiatra forense, Dr. Guido Palomba, acesso em 15.10.2022.
BRUM, Eliane. Cem dias sob o domínio dos perversos. El País, de 12 de abril de 2019. Acesso em 18.10.2022.