A jornada de um profeta não se caracteriza pela previsão de eventos que ocorrerão. Definitivamente, um profeta não olha para o passado, nem para o futuro distanciado da sua realidade ou utilizando artefatos que lhe dão pistas. O profeta sente o terreno que pisa, escuta e observa quem e o que lhe fala, e sente e guarda o cheiro daquilo que está sendo emanado ao seu redor. De forma mais concreta, o profeta é sensível aos sinais dos tempos, capta o que em sua órbita causa a destruição e a morte, interpreta mas não alarda só para o medo, e sim, anuncia a Novidade a chegar.
Neste turbulento século XXI, Bruno Latour ousou ser o primeiro a denunciar e a anunciar o que muitos percebem, investigam, mas ainda temem de fazer. O planeta está transformado, não há ponto de retorno, está instituído um Novo Regime Climático, de secas e enchentes, queimadas e furacões, escassez e derretimento. As formas de habitar este planeta não poderão ser as mesmas, nem é possível interpretá-lo com as ciências tradicionais, nem se organizar com a política e a economia liberalizadas ou planificadas, ou, até mesmo, refletir a fé com a teologia cindiu a vida dos homens da vida comum.
Bruno Latour, em 2010
Foto: Jean-Baptiste Labrune / Encyclopedia Britannica | Creative Commons
Bruno Latour nasceu em 1947, na cidade de Beaune, na Borgonha, França. Na sua juventude participou da Juventude Estudantil Cristã, despertando o seu interesse para o estudo da Filosofia e da Teologia. Obteve doutorado na década de 1970 em Teologia Filosófica, na Universidade de Tours, com a tese Exegese e ontologia, sobre o Evangelho de Marcos. Trabalhou na Costa do Marfim, onde se aproximou da Antropologia, e da temática ambiental, de raça e dos movimentos pós-coloniais. Na França, foi professor por duas décadas da École des Mines, em Paris, e depois da Sciences Po, o Instituto de Estudos Políticos de Paris. Latour escreveu dezenas de artigos e livros sobre os mais diversos temas de suas pesquisas. Recebeu o título de doutor honoris causa de oito universidades europeias, além de prêmios das academias belga, britânica, estadunidense, francesa e japonesa. Latour faleceu em 9 de outubro de 2022, aos 75 anos.
Embora seja amplamente destacado na comunidade acadêmica mundial, Bruno Latour nunca foi consenso ou lido como clássico nas universidades. O jornal francês Libération o destacou no dia da sua morte como o "filósofo que desconstruiu a ciência". O italiano La Repubblica destacou que morreu "o pensador da crise ecológica". O New York Times o adjetivou como "controverso autor da crítica à base social da ciência".
No Brasil, a Folha de S.Paulo o chamou de "filósofo da natureza". Sendo filósofo, antropólogo e sociólogo – e também teólogo –, Latour rompe com as fronteiras da ciência moderna, o que gera alguma confusão ao discurso comum. Ele próprio se diferencia de alguém que pensa somente a natureza.
Bruno Latour
Foto: Pedro Coutinho Miller | Museu do Amanhã
A construção de novos modos de habitar este mundo é um desafio que permanece em construção. Latour aprofundou muitos dos seus tópicos nos últimos anos, fundindo o que outrora fora cindido e trazendo novos conceitos para a ciência do século XXI. Nesta página, procuramos reunir as publicações de Bruno Latour no Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Confira a coletânea de artigos, entrevistas, comentários e eventos sobre Bruno Latour.
Neste artigo produzido no começo da pandemia de covid-19, Bruno Latour propõe aos leitores um exercício de reflexão sobre os passos de renúncia e transformação no modo de viver a vida no período pós-pandêmico. O artigo publicado em português pelo IHU, foi incluído na versão brasileira do livro Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno.
Latour reflete como os pequenos gestos cotidianos da vida em sociedade que foram sendo deixados individualmente pelos bloqueios da pandemia podem ser verdadeiros "interruptores da globalização", somando-se da individualidade à sinergia social em uma verdadeira transformação do modo de produção.
As perguntas de Latour aos leitores:
1) Quais são as atividades atualmente suspensas que desejaria que não fossem retomadas? 2) Descreva: a) as razões pelas quais considera essa atividade prejudicial/supérflua/perigosa/incoerente; b) em que seu desaparecimento/colocada em espera/substituição converteria outras atividades que prioriza como mais fáceis e mais coerentes (escrever um parágrafo diferente para cada uma das respostas incluídas na lista feita na pergunta 1); 3) Que medidas você defenderia para que os operários/empregados/agentes/empreendedores que não pudessem continuar sua atividade vissem facilitada a transição para outras atividades? 4) Quais são as atividades atualmente suspensas que desejaria que fossem desenvolvidas/retomadas ou aquelas que deveriam ser inventadas em substituição? 5) Descreva: a) por que considera essa atividade positiva; b) como essa atividade contribui para que sejam mais fáceis/harmoniosas/coerentes outras atividades que, sim, favorece; e c) permitem combater aquelas que você avalia como desfavoráveis? (escrever um parágrafo diferente para cada uma das respostas incluídas na lista feita na pergunta 4); 6) Que medidas defenderia para ajudar os operários/empregados/agentes/empreendedores a adquirir as capacidades/meios/renda/instrumentos que permitam retomar/desenvolver/criar esta atividade? |
Reconhecido como pensador da ecologia do século XXI, Latour explica como as transformações na habitabilidade causadas pela pandemia de covid-19 falavam à humanidade sobre as mudanças climáticas.
Para o autor a pandemia poderia ser um teste para a capacidade de organização contra as emergências, no entanto as mudanças climáticas implicariam em uma alteração crucial: o homem não se protegeria de um vírus, mas de si próprio. "Para essa guerra, o Estado nacional está tão mal preparado, tão mal calibrado, tão mal projetado quanto possível, porque as frentes são múltiplas e atravessam cada um de nós. É nesse sentido que a 'mobilização geral' contra o vírus não prova, em hipótese alguma, que estaremos prontos para a próxima. Não são apenas os militares que estão sempre atrasados para uma guerra. Mas, enfim, nunca se sabe, um tempo de quaresma, mesmo laico e republicano, pode levar a conversões espetaculares", escreve Bruno Latour.
Militante e teólogo católico durante a juventude, Bruno Latour foi mais um europeu da sua geração a passar a se identificar com a religião apenas identitariamente. No entanto, Latour voltou a pensar e fazer teologia a partir da encíclica Laudato Si', de 2015, a qual afirma ser a "maior virada na história da teologia política" e "ecologicamente revolucionária, mas não reacionária ao mundo moderno" (comentário disponível em inglês neste link). Diante da sua afinidade com o pensamento ecológico do Papa Francisco, Latour passou a se manifestar com maior frequência sobre a religião.
Neste artigo, Latour estabelece uma relação entre a crise ecológica com a crise da religião cristã. Segundo o autor, o Novo Regime Climático implica em uma nova cosmologia, capaz de aproximar todos os seres, tal qual a fé cristã necessita ao modelo do Bom Samaritano. Ser e estar junto a todas as criaturas implica em uma nova narração da vida e da teologia. As mudanças climáticas são então o fator de urgência de compreender essa nova habitabilidade entre as criaturas terranas, e implica a um bom cristão a necessidade de cuidado, caridade e amparo entre estas que mais sofrem com as transformações.
"A encarnação nos mergulha em uma história de interconexão com os seres vivos, cuja salvação já depende em grande parte dos atos de caridade que nós seremos capazes de não adiar mais, com a justificativa de “outro mundo”. É agora ou nunca mais. É aqui ou em nenhum outro lugar. Se os cristãos perderem essa bifurcação, isso significaria que eles preferem manter a projeção cosmológica a que estão acostumados e sacrificar a mensagem do Evangelho que, contudo, eles têm a tarefa de recuperar", escreve Latour.
A descrença dos modernos com as possibilidades de vida na Terra, até mesmo porque ela está se esgotando, conduz a uma fetichização da exploração infinita de onde já não há ou não se sabe se há vida: Marte. A pulsão pela produção incessante, sem o tédio dos ecologistas ou demais movimentos terceiro-mundistas, decoloniais, feministas, os quais sustentam uma pseudoliberdade ocidental torna a morta Marte o devir de esperança da modernidade. "Marte excita, a Terra entedia", resume Latour neste artigo. Para ele, a burguesia já se movimenta na "nova luta de classes geossocial", enquanto a esquerda segue perdendo de compreender o grande evento do Antropoceno.
Latour compreende que já se vive um processo descivilizacional, oposto ao processo civilizador do qual Norbert Elias debruçou-se em sua carreira acadêmica. Se a civilização moderna fora conduzida pela burguesia, a destruição da Terra e o sonho espacial implica no fim da civilização. Mas Latour entende esta como a possibilidade de uma classe geossocial pivô que nos faça "aterrar", nos "recivilizar" sob esta base em que vivemos. "Ela tem uma chance de escapar da tragédia da Totaler Produktion, mas deve encontrar uma maneira de como se dirigir àqueles que foram traídos, oferecendo-lhes outro destino, outra definição de abundância e identidade. Só a esse preço que ela poderá agregar em torno de si e ambicionar esse papel de pivô que desencadeará um processo de recivilização. À beira do abismo. Na urgência da mudança climática", escreve o antropólogo.
Para Latour o desafio está em se compreender como um novo tipo de classe, seus movimentos e sua reorientação (para desocidentalizar). "Se a classe emergente da ecologia tem tanta dificuldade para se orientar, é porque há um conflito não apenas entre as classes, mas também um conflito sobre o tipo de classe e, portanto, de classificação, de localizações, de alianças, que se trataria de usar. Em um caso, buscamos nos colocar em continuidade com as classes definidas pelas relações de produção; em outro, a ecologia se define porque está em descontinuidade com as classes tradicionais sobre a questão-chave da produção".
Bruno Latour explica nesta entrevista o significado de um dos conceitos mais influentes na sua trajetória intelectual: Gaia. Desenvolvida por James Lovelock, a teoria de Gaia foi uma transformação na forma de pensar a biologia e toda composição da vida na Terra no século XX. Latour detalha que tal disrupção com o pensamento moderno clássico gerou confusões até mesmo entre os cientistas, que reproduzem um senso comum de que a Terra sendo Gaia é um ente vivo autônomo. Latour corrige afirmando que "Gaia não é uma coisa holística, um organismo benevolente, que age a favor dos seres humanos, mas também não é algo que compactua com o argumento darwinista. Gaia tem mais a ver com o que chamo de composicionismo. O mundo precisa ser composto. O feito de Lovelock é ver que nós, humanos, somos feitos e compostos por todos os outros organismos. Ele compreende a inter-relação entre todos os organismos vivos".
Na entrevista concedida ao jornal O Globo e reproduzida pelo IHU, em 2014, por ocasião da sua passagem no Brasil, Latour destaca a necessidade de aproximar as pessoas do entendimento da crise ecológica, de construir uma sensibilidade comum em relação às mudanças climáticas. "Aproximei-me da arte para lidar com isso, pois é preciso criar instrumentos que nos sensibilizem e que nos levem a pensar, algo que ligue as 'estatísticas da ciência' e formas de sensibilização ao que elas indicam. Não há muita gente trabalhando para que nos tornemos mais sensitivos ao que ocorre com Gaia. Temos de reconstruir a nossa sensibilidade. É preciso dramatizar, considerar o fim do mundo, e então desdramatizar, para analisar criticamente a questão. Na arte, você pode fazer os dois, dramatizar e desdramatizar", relata o autor.
Em um dos seus últimos livros, "Onde Aterrar?", Bruno Latour argumenta sobre um sentimento comum de perda do mundo causado pela crise ecológica. As respostas às crises são diversas, mas a guerra de classes se reacende com novas hipóteses. Para Latour as classes são geossociais, sendo indissociável a condição econômica da condição geográfica das populações. Evidência dessa guerra é o surgimento da extrema-direita nos mais diferentes cantos do mundo nos formatos negacionista ou hiperaceleracionista.
Nesta entrevista, Latour explica como a negação da mudança climática é fruto da falta de sensibilidade da inter-relação dos seres, tendo figuras como Donald Trump, que fecham as fronteiras e encerram acordos por não perceberem a relação ecológica na habitabilidade; por outro lado, há o aceleracionismo moderno, uma investida em maior desenvolvimento da técnica para fugir da crise constituída, seja por meio espacial ou virtual. Em ambos casos, são os super-ricos quem governam e lideram os projetos isolando os pobres da esperança de uma salvação ou de um Terra por onde habitar.
Porém, para ele, faz-se urgente conciliar o sentimento coletivo de "perda do mundo" para soluções comuns, porque os projetos hipermodernos ou fascistas são ilusões, delírios sobre o que já não se sustenta. "Se aterrissarmos no terrestre, poderíamos começar a definir um mundo comum. Então já não poderíamos nos permitir dizer que não há mudança climática, que os problemas de saúde não nos dizem respeito, que a reprodução das abelhas não é nosso problema. Voltaríamos a discutir entre civilizados", conclui Latour.
Em uma longa entrevista concedida à revista jesuíta Civiltà Cattolica, e traduzida ao português pelo IHU, Bruno Latour dialoga com Antonio Spadaro sobre recosmologização da política, da vida e da teologia. Tendo como ponto de partida da conversa a encíclica Laudato Si', Latour defende a sensibilidade do Papa Francisco em unificar em sentido cristão "o grito da Terra e o grito dos pobres" como chave de transmissão crucial para transmitir a urgência da questão climática e da questão social, que configuram o Novo Regime Climático.
"Se fizermos a conexão entre as questões sociais clássicas da desigualdade e a questão cosmológica no sentido que acabamos de definir, não há saída. Quando se falava de cosmologia, as questões sociais eram questões não correlatas, podiam ser consideradas um pouco secundárias. Mas, se fizermos a conexão com a nova situação cosmológica, encontramo-nos em um espaço inteiramente definido, mantido pelos viventes. E, consequentemente, este é o grande tema do Antropoceno: os seres humanos industrializados ocupam um lugar extraordinário nessa história. Portanto, a questão fundamental dos pobres muda completamente de significado, porque não é mais um problema residual", afirma o Latour.
Em uma leitura filosófica e teológica, Latour considera o apocalipse como uma questão de espaço e não temporal; isso é, o limiar da humanidade é agora, e agora está ocorrendo porque não há concretamente outro espaço para se deslocar a tempo, porque, reafirmando o título de um dos seus principais livros, "Jamais fomos modernos, e agora que estamos sendo descobrimos que isso destrói a Terra".
O Novo Regime Climático reconfigura a sociedade e seus indivíduos e grupos, acentuando desigualdades econômicas e ambientais. Por isso, Bruno Latour constrói uma nova categoria dentro luta de classes do tempo atual e futuro: as classes ecológicas. A impossibilidade de manter os sistemas de produção que foram base do desenvolvimento capitalista cria novas configurações da luta de classes, pautada não apenas na economia, mas na forma de habitar o planeta.
Nesta entrevista, Latour destaca a necessidade de uma nova forma de fazer política, um novo discurso, que não seja meramente anticapitalista, mas que congregue as populações da Terra para o desafio do bem comum nas dimensões mais essenciais da vida humana. Por isso, aponta que a esquerda que surgirá neste tempo de transição será distinta da clássica do século XX. "Esta esquerda é completamente impotente, mas continua acreditando neste ideal de substituir o mundo por um outro mundo. Mas a política não é isso: não se trata de substituir, mas de encontrar a Terra, o que não é a mesma coisa! E esse é também um dos problemas dos ambientalistas na política: há um problema de tom", explica o antropólogo.
Como exegeta na juventude e católico praticante, Bruno Latour nunca se desprendeu de pensar a teologia, e confessa que "gostaria de ter sido um pregador". Para ele, o Novo Regime Climático implicou em uma oportunidade para que a Teologia e as religiões possam transmitir novamente a mensagem de salvação. O avanço da modernidade ofuscou o discurso religioso, que deixou de ser compreensível para as gerações atuais.
Nesta entrevista, Latour reforça o pensamento de que vivemos um fim espacial, uma escatologia própria do espaço em que vivemos, não mais do tempo em que virá. Para ele, hoje "não necessariamente vivemos o Apocalipse, mas estamos em uma era escatológica, no sentido próprio do termo. Mas a escatologia não é um tema temporal. É antes de tudo um tema espacial. Tem havido um exagero em massa sobre a dimensão do tempo da escatologia. Não é o fim dos tempos, mas o fim do espaço em que nos encontramos. A escatologia não é para depois: é agora".
Por isso, Latour reforça a gravidade de o discurso religioso ser intransmissível hoje: "É gravíssimo que, em nossa sociedade, o religioso tenha se tornado incompreensível. Isso significa que as pessoas correm o risco de não mais se sentirem capazes de salvação! Você está salvo, você é eterno. Algo está definitivamente acontecendo no tempo em que estamos. Assim como o povo eleito foi escolhido, ele e não outro", aleta.
Com o intuito de analisar as principais obras de Bruno Latour, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU promoveu o Ciclo de Estudos "A (In)existência de um mundo comum. Pensamento vivo e mudanças possíveis à luz de Bruno Latour", com a participação de pesquisadores de todo o Brasil. Foram sete livros discutidos de forma aberta e gratuita em conferências online, ocorridas em 2021. Os materiais sobre o pensamento de Bruno Latour estão disponibilizados abaixo.
"Jamais fomos modernos"
(Original de 1991, publicado no Brasil pela Editora 34, 2013).
O Prof. Dr. Fernando Silva e Silva, trouxe sua leitura de um dos livros considerado como um dos clássicos de Bruno Latour: "Jamais fomos modernos: Ensaio de antropologia simétrica" (São Paulo: Editora 34, 2019).
"Esse texto é um clássico capaz de nos introduzir questões bastante complexas da sociologia, da antropologia, das ciências, mas que ao mesmo tempo não é representativo do que é o pensamento desse pesquisador hoje", afirmou Fernando Silva e Silva.
A transcrição da palestra em formato de entrevista está disponível neste link.
O vídeo da conferência está disponível abaixo:
"Políticas da Natureza: Como associar as ciências à democracia"
(Original de 1999, publicado no Brasil pela Editora UNESP, 2019).
A Profa. Dra. Letícia Cesarino, da UFSC, apresentou os desafios presentes no livro "Políticas da Natureza. Como associar as ciências à democracia" (São Paulo: Unesp, 2019). Para Cesarino, o livro de Latour remonta a desafios antigos da ciência moderna, da cisão de natureza e cultura, mas acentua-se hoje com as crises políticas e econômicas. “Não me parece possível voltar a uma configuração onde há cientistas representando o mundo não humano, políticos representando os humanos e cada um do seu lado, onde cada representante ‘fala’ pelos seus, chega-se a um acordo e a coisa ‘funciona’. É preciso reintermediar, há um processo de crises das representações e das expertises, mas é preciso, reitero, reconstruir as mediações, sob pena de cairmos em um estado de guerra de novo. Para finalizar, proponho uma questão um pouco mais especulativa, mas é interessante pensarmos não somente sobre as políticas da natureza, mas sobre a natureza da política”.
A transcrição da palestra em formato de entrevista está disponível neste link.
O vídeo da conferência está disponível abaixo:
"Investigação sobre os modos de existência: Uma antropologia dos modernos"
(Original de 2012, publicado no Brasil pela Editora Vozes, 2019).
O Prof. Dr. André Lemos, da UFBA, fez a análise da obra Investigação sobre os modos de existência: uma antropologia dos modernos (Vozes, 2019). Para o professor, a obra surge como continuidade e resposta a "Jamais fomos modernos", com o objetivo de "denunciar a racionalidade que é aplicada de forma absoluta, o que não seria, na própria concepção do Latour, racional porque apagaria as transformações e mediações em rede".
A transcrição da palestra em formato de entrevista está disponível neste link.
O vídeo da conferência está disponível abaixo:
"A fabricação do direito: um estudo de etnologia jurídica"
(Original de 2002, publicado no Brasil pela Editora Unesp, 2019).
A Profa. Dra. Andressa Lewandowski, da Unilab, fez a análise da obra A fabricação do direito: um estudo de etnologia jurídica (Unesp, 2019).
O vídeo da conferência está disponível abaixo:
"Reagregando o social: uma introdução à teoria Ator-Rede"
(Original de 2005, publicado no Brasil pela Editora UFBA, 2012)
O Prof. Dr. Rodrigo Petronio, da FAAP, proferiu a palestra o "Texto e a Rede: Latour e suas referências", retomando conceitos-chave do pensamento do autor e suas influências.
"Podemos pensar em Latour como um construtivista que trata da desnaturalização da natureza, da crítica ao conceito de natureza. Nessa postulação teórica, todos os seres existentes no sistema agem e são atores. Por isso Latour usa o conceito de ator. Este é um conceito muito potente porque qualquer ser pode ser ator. O ator é um actante, aquele que age; ele não é necessariamente uma figura humana ou não humana. O clima tem se tornado um grande ator. A mutação climática talvez seja um protagonista dessa narrativa que estamos vivendo hoje. Uma catástrofe como a de Brumadinho ou um rio que começa a secar também são atores, uma agência não humana que está atravessando e convocando os humanos a terem outra percepção dessas múltiplas agências", explica Petronio.
A transcrição da palestra, em formato de entrevista, está disponível em duas partes. Confira a primeira parte e a segunda parte.
O vídeo da conferência está disponível abaixo:
"Diante de Gaia: oito conferências sobre a natureza do Antropoceno"
Original de 2015, publicado no Brasil pela Ubu Editora, 2020
O Prof. Dr. Rodrigo Petronio também apresentou o livro Diante de Gaia: oito conferências sobre a natureza no Antropoceno (Ubu , 2020). Na conferência, Petronio explica que Latour figura entre os chamados "colapsologistas", um grupo de biólogos, antropólogos, engenheiros ou climatologistas que investigam a mudança de época em curso a partir da inter-relação de três conceitos centrais: Gaia, Antropoceno e natureza, os quais sustentam a discussão presente nas conferências publicadas no livro.
A transcrição da palestra, em formato de entrevista, está disponível neste link.
O vídeo da conferência está disponível abaixo:
"Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno"
(Original de 2017, publicado no Brasil pela Editora Bazar do Tempo, 2020).
A Profa. Dra. Alyne Costa, da PUC-Rio e UFRJ, e a Profa. Dra. Tatiana Roque, da UFRJ, apresentaram o livro Onde aterrar? Como se orientar politicamente no antropoceno (Bazar do Tempo, 2020).
Alyne Costa, revisora e autora do posfácio da versão brasileira do livro, também concedeu uma entrevista ao IHU sobre a obra de Latour. Ela reforça o entendimento de que a disputa dos grupos negacionistas não é contra o fato da mudança climática, mas em assegurar seus privilégios mesmo neste novo regime. "Eles entenderam muito bem, e há muito tempo (pelo menos meio século), a ameaça representada pelas mudanças climáticas; no entanto, interessados em assegurar seus privilégios a todo custo, investem na negação dos fatos para dificultar a adoção de medidas regulatórias, optando deliberadamente por transferir para os outros existentes – sobretudo as populações humanas e não-humanas mais vulneráveis – o alto preço do 'retorno da Terra'", destaca a professora.
O vídeo da conferência está disponível abaixo: