13 Outubro 2022
"A sinceridade dessa confissão abre um capítulo ainda na sombra do ministério do bispo hoje: o esforço de exercer todas as responsabilidades e todos os papéis ligados ao ofício: juiz, administrador, prefeito, reitor, padre, confessor, comissário, etc. O que, no foro civil, se distribui numa dezena de responsabilidades para igual número de pessoas, na Igreja está compactado no bispo", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 12-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Até os bispos sofrem de burnout, uma forma de depressão ligada sobretudo às profissões de assistência e acompanhamento. Em 10 de outubro pediu demissão do governo pastoral da diocese de Lugano o Mons. Valério Lazeri.
Na comunicação pública por ocasião da nomeação do administrador apostólico, Alain de Taemy, bispo auxiliar de Lausanne-Genebra-Friborg, o bispo Lazzeri explicou as razões de seu pedido ao papa. Nenhuma dificuldade nas relações pastorais, nos deveres de culto e no acompanhamento dos pobres.
E, no entanto, sobretudo nos últimos dois anos - é bispo desde 2013 - “um cansaço interior foi crescendo dentro de mim, que gradualmente me roubou o entusiasmo e a serenidade necessários para guiar adequadamente a Igreja que está em Lugano. Com o passar dos anos, os aspectos públicos de representação, de governança institucional e de gestão financeira e administrativa, que sempre estiveram distantes de tudo aquilo a que as inclinações naturais e o ministério me haviam levado a cultivar anteriormente, tornaram-se insustentáveis para mim, apesar da presença de colaboradores válidos e competentes, a quem expresso desde já toda a minha gratidão.
Muitas vezes a necessidade de exercer uma autoridade, que também não pode prescindir de instrumentos jurídicos e disciplinares para assegurar o bem comum em determinadas circunstâncias, tem colocado a dura prova a forma mais espontânea e natural de me relacionar com as pessoas.
Sempre fiz o possível para não me eximir de minhas responsabilidades como bispo, mas percebi que o esforço e a tensão contínua que isso me impunha me levaram internamente cada vez mais para longe do que sou e, em parte, também daquilo que eu continuo acreditando ser minha verdadeira tarefa como pastor e como padre.
Digo-lhes de coração aberto: não consigo mais me imaginar na posição que até agora tentei sinceramente e com todo o meu coração fazer minha; não consigo ver uma forma de interpretar e viver a missão do bispo em Lugano que seja autêntica e sustentável para mim e, consequentemente, verdadeiramente profícua para todos”.
"Entristecido por todo o incômodo, a decepção, o sofrimento que possam surgir deste meu passo, mas também sereno e convencido diante do Senhor de que não posso agir de maneira diferente em consciência, ouso contar hoje também com a vossa compreensão, com o afeto e a comovente proximidade que muitos de vós me reservaram durante estes anos de episcopado”.
A sinceridade dessa confissão abre um capítulo ainda na sombra do ministério do bispo hoje: o esforço de exercer todas as responsabilidades e todos os papéis ligados ao ofício: juiz, administrador, prefeito, reitor, padre, confessor, comissário, etc. O que, no foro civil, se distribui numa dezena de responsabilidades para igual número de pessoas, na Igreja está compactado no bispo.
Isso, mesmo no caso de um jovem bispo, pode se tornar intolerável. Nascido em 1963, Lazzeri tem 59 anos. Ele é bispo há nove anos e teria outros 16 antes do se tornar emérito. Formado primeiro no seminário de Freiburg, mais tarde se diplomou na universidade local.
Foi ordenado padre em 1989 e estudou no Teresianum em Roma. Após um período de ensino, foi chamado à Congregação para a Educação Católica. Depois retornou a Lugano como pregador e professor de teologia. Ingressou no corpo acadêmico e, no final de 2012, foi ordenado bispo. Ingressou na diocese em 2013. São seis as suas cartas pastorais.
Em 2014 nomeou o novo reitor da faculdade teológica de Lugano. Em 2017, assinou o acordo sobre o ensino de religião com o cantão. Em 2018 ele foi obrigado pela crise econômica a fechar o Giornale del Popolo (uma decisão que alguns não perdoaram), para depois enfrentar a pandemia e uma série de problemas agudos entre o seu clero.
Um pároco é acusado de ter roubado 600.000 francos dos bens paroquiais, outro é acusado de comportamento inadequado com uma mulher em uma discoteca e, posteriormente, também acusado de dirigir sob o efeito de álcool, um terceiro por um caso de abusos e, finalmente, outro padre é acusado de conviver com uma mulher.
Ele é acusado de pouca capacidade de gestão e de não ter lançado prontamente instrumentos de prevenção dos abusos. Tudo isso agravado por alguns problemas de saúde. O resultado foi sua renúncia, que o papa aceitou.
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Suíça: Também bispos sofrem burnout - Instituto Humanitas Unisinos - IHU