Jesus subversivo. Artigo de Marcos Sassatelli

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07 Outubro 2022

 

"Na proposta de Jesus, todos e todas somos chamados e chamadas a viver como irmãos e irmãs, partilhando tudo o que somos e temos: é o 'comunismo' ou 'comunitarismo' radical", escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção-SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG, 05-10-2022.

 

“Achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo” (Lc 23,2)

 

Companheiros e companheiras, irmãos e irmãs de caminhada – depois de ouvir o vídeo (toda a Igreja convocada por bispos e padres) – em consciência sinto a necessidade de fazer, com toda firmeza, uma denúncia: o vídeo citado é baseado na mentira e na hipocrisia do começo até o fim; trata-se de um vídeo repugnante.

 

 

Dizem os autores do vídeo: ”Somos mais de 8.000 padres conservadores”. Que pena!

 

O vídeo “pede voto para o presidente Jair Bolsonaro (PL) e prega contra ‘o candidato que defende o comunismo ateu’, em suposta alusão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não é nem comunista e nem ateu”.

 

Irmãos e irmãs, lembremos a acusação que os fariseus e mestres da Lei fizeram contra Jesus quando foi preso e condenado à morte na cruz: “Achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo” (Lc. 23,2).

 

Os “fariseus e mestre da Lei“ de hoje – disfarçados até de “padres e bispos” – fazem a mesma acusação que fizeram a Jesus contra todos aqueles e aquelas que, mesmo com seus limites humanos e com seus erros, se colocam de corpo e alma:

 

  • ao lado e do lado dos “pequeninos” do Evangelho: os pobres, marginalizados, oprimidos, excluídos e descartados do nosso “sistema econômico iníquo” (Documento de Aparecida, 385), perverso, desumano, antiético e anticristão;

  • contra os poderosos e opressores do povo, que são os esteios desse modelo econômico e dessa nossa sociedade baseada na violação institucionalizada dos Direitos Humanos, na injustiça estrutural e na desigualdade gritante, que mata milhões de pobres pela fome e a falta de condições mínimas para uma vida humana digna;

  • e contra os “fariseus e mestres da Lei” de hoje, que – mentindo descaradamente – falam o nome de Deus em vão, deturpam o Evangelho (a Boa Notícia de Jesus de Nazaré) e o usam para naturalizar e legitimar a iniquidade e a perversidade de nossa sociedade capitalista neoliberal.

Meditemos: Hoje, no mundo temos 828 milhões de pessoas passando fome; destas, mais de 33 milhões somente no Brasil. As 8 pessoas mais ricas do mundo possuem tantos bens quanto a metade da população mais pobre (3,6 bilhões de pessoas). As 5 pessoas mais ricas do Brasil têm um patrimônio igual à renda da metade da população mais pobre (106,3 milhões de pessoas). Somente na grande Goiânia-GO, o número de pessoas em situação de pobreza extrema é atualmente de mais de 500 mil pessoas. É esse o pecado social (estrutural) institucionalizado e legalizado que os padres conservadores do vídeo defendem e querem hipocritamente legitimar em nome do Evangelho!

 

Ouçamos as palavras do Papa Francisco aos Movimentos Populares e à Igreja, que continuam plenamente atuais.

 

Dirigindo-se aos Movimentos Populares, Papa Francisco afirma: “Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas mãos de vocês, na capacidade de vocês se organizarem e promoverem alternativas criativas na busca diária dos ‘3 T’ (trabalho, teto, terra), e também na participação de vocês como protagonistas nos grandes processos de mudança, regionais, nacionais e mundiais”.

 

Dirigindo-se, pois, à Igreja, Papa Francisco constata: “Soube que são muitos na Igreja aqueles e aquelas que se sentem mais próximos dos Movimentos Populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada Diocese, em cada Comissão ‘Justiça e Paz’, uma colaboração real, permanente e comprometida com os Movimentos Populares”.

 

E convida: “Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos (cristãos e cristãs em geral), juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais, a aprofundar este encontro” (2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra – Bolívia, 09/07/15).

 

Será que a Igreja está atendendo ao convite do papa? Em sua grande maioria, infelizmente não!

 

Por fim, podemos afirmar com certeza que a proposta de vida de Jesus de Nazaré é a mais revolucionária que existe (muito mais que todas as propostas de vida socialistas e comunistas que tivemos até agora). Na proposta de Jesus, todos e todas somos chamados e chamadas a viver como irmãos e irmãs, partilhando tudo o que somos e temos: é o “comunismo” ou “comunitarismo” radical.

 

Sejamos seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré!

 

No segundo turno, votemos 13, o candidato que, hoje, mais se aproxima do Projeto de Vida de Jesus!

 

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