O algoritmo que demite os mortos. Artigo de Tonio Dell’Olio

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06 Outubro 2022

 

Estamos consagrando a anulação dos rostos e das relações. Desligamos a tomada da humanidade. Um deslizamento lento e aparentemente inexorável rumo à algoritmização da vida.

 

A opinião é de Tonio Dell’Olio, padre, jornalista e presidente da associação Pro Civitate Christiana, em artigo publicado por Mosaico di Pace, 05-10-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Eis o texto.

 

 

Caro Sebastian,

Glovo quer oferecer uma experiência ideal aos próprios entregadores, parceiros e clientes. Para manter uma plataforma saudável e justa, às vezes é preciso tomar medidas quando um desses usuários não se comporta de modo correto.

Lamentamos ter que lhe informar que a sua conta foi desativada pelo não respeito aos Termos e Condições.

Se você ainda tiver pagamentos em suspenso no fim do próximo período de faturamento, você receberá os detalhes da última ordem de faturamento.

Se você precisar nos contatar por qualquer motivo, utilize o formulário disponível no site dos entregadores.

Muito obrigado.
Saudações cordiais,
Glovo

 

O que mais precisa acontecer para entender que há muito tempo já tomamos (e estamos percorrendo) no pior caminho?

 

O que ocorreu com Sebastian Galassi, 26 anos, e com a sua família não é apenas uma desgraça com um final ainda mais trágico, mas o ícone perfeito da condição perversa que conseguimos estabelecer também nas relações de trabalho.

 

Sebastian, que trabalhava com entregas a domicílio para a Glovo, morreu enquanto fazia o seu trabalho de entregador, quando sua moto colidiu frontalmente com uma SUV. Logo após sua morte, a família recebeu um e-mail da empresa, em que se comunica que, por não ter respeitado as condições e os termos de trabalho assinados, sua conta foi desativada, ou seja, ele foi demitido.

 

As desculpas posteriores do empregador parecem piores do que o mal produzido: o sistema algorítmico aciona essa comunicação quando o trabalhador não faz as entregas ou não responde aos pedidos. É exatamente desse modo que consagramos a anulação dos rostos e das relações. Desligamos a tomada da humanidade. Um deslizamento lento e aparentemente inexorável rumo à algoritmização da vida.

 

Sebastian, perdoe-nos.

 

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