03 Outubro 2022
No cenário de aquecimento de 1,5°C, a probabilidade de seca deverá triplicar no Brasil e na China, quase dobrar na Etiópia e Gana, aumentar ligeiramente na Índia e aumentar substancialmente no Egito.
A reportagem foi publicada por University of East Anglia e reproduzida por EcoDebate, 30-09-2022. A tradução e a edição são de Henrique Cortez.
Secas mais frequentes e duradouras causadas pelo aumento das temperaturas globais representam riscos significativos para as pessoas e ecossistemas em todo o mundo – de acordo com uma nova pesquisa da Universidade de East Anglia (UEA).
O estudo mostra que mesmo um aumento modesto de temperatura de 1,5°C terá sérias consequências na Índia, China, Etiópia, Gana, Brasil e Egito. Esses seis países foram selecionados para estudo no projeto UEA porque oferecem uma variedade de tamanhos contrastantes e diferentes níveis de desenvolvimento em três continentes que abrangem biomas tropicais e temperados e contêm habitats de florestas, pastagens e desertos.
As descobertas em ‘Quantification of meteorological drought risks between 1.5 °C and 4 °C of global warming in six countries‘, foram publicadas na revista Climatic Change.
O artigo, liderado pelo Dr. Jeff Price e seus colegas do Tyndall Center for Climate Change Researchna UEA, quantificou os impactos projetados de níveis alternativos de aquecimento global sobre a probabilidade e duração de secas severas nos seis países.
Price, Professor Associado de Biodiversidade e Mudanças Climáticas, disse: “As promessas atuais para a mitigação das mudanças climáticas, que ainda devem resultar em níveis de aquecimento global de 3°C ou mais, impactariam todos os países neste estudo.
“Por exemplo, com um aquecimento de 3°C, mais de 50% da área agrícola em cada país está projetada para ser exposta a secas severas com duração superior a um ano em um período de 30 anos.
“Usando projeções populacionais padrão, estima-se que 80% a 100% da população no Brasil, China, Egito, Etiópia e Gana (e quase 50% da população da Índia) estejam expostas a uma severa seca com duração de um ano ou mais em um período de 30 anos.
“Em contraste, descobrimos que cumprir a meta de temperatura de longo prazo do Acordo de Paris, que é limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, é projetada para beneficiar muito todos os países neste estudo, reduzindo bastante a exposição a seca severa para grandes porcentagens da população e em todas as principais classes de cobertura da terra, com o Egito potencialmente se beneficiando mais”.
No cenário de aquecimento de 1,5°C, a probabilidade de seca deverá triplicar no Brasil e na China, quase dobrar na Etiópia e Gana, aumentar ligeiramente na Índia e aumentar substancialmente no Egito.
Em um cenário de aquecimento de 2°C, a probabilidade de seca é projetada para quadruplicar no Brasil e na China; o dobro na Etiópia e Gana; alcançar mais de 90% de probabilidade no Egito; e quase o dobro na Índia.
Em um cenário de aquecimento de 3°C, a probabilidade de seca projetada para ocorrer no Brasil e na China é de 30-40%; 20-23% na Etiópia e Gana; 14% na Índia, mas quase 100% no Egito.
Finalmente, em um cenário de aquecimento de 4°C, a probabilidade de seca projetada no Brasil e na China é de quase 50%; 27-30% na Etiópia e Gana; quase 20% na Índia; e 100% no Egito.
Na maioria dos países, o aumento projetado na probabilidade de seca aumenta aproximadamente linearmente com o aumento da temperatura. A exceção é o Egito, onde mesmo pequenas quantidades de aquecimento global potencialmente levam a grandes aumentos na probabilidade de seca.
A professora Rachel Warren, líder do estudo geral do qual este artigo é uma saída, disse: “Não apenas a área exposta à seca aumenta com o aquecimento global, mas também aumenta a duração das secas.
“No Brasil, China, Etiópia e Gana, as secas de mais de dois anos devem ocorrer mesmo em um cenário de aquecimento de 1,5 ° C.”
Em um cenário de aquecimento de 2°C, a duração das secas projetadas em todos os países (exceto na Índia) deve exceder três anos. Em um cenário de aquecimento de 3°C, as secas são projetadas para se aproximarem de 4 a 5 anos de duração e em um cenário de aquecimento de 4°C, secas severas de mais de cinco anos são projetadas para o Brasil e a China, com seca severa a nova condição de linha de base.
Além disso, espera-se que a porcentagem de terra projetada para ser exposta a uma seca severa de mais de 12 meses em um período de 30 anos aumente rapidamente pelo cenário de aquecimento de 1,5°C no Brasil, China e Egito, e em áreas de neve permanente e gelo na Índia.
A Índia e a China têm grandes áreas atualmente sob cobertura de gelo e neve ‘permanentes’. No entanto, no cenário de aquecimento de 3°C, projeta-se que 90% dessas áreas enfrentarão secas severas com duração superior a um ano em um período de 30 anos.
Essas áreas formam as cabeceiras de muitos dos principais sistemas fluviais e, portanto, o abastecimento de água para milhões de pessoas a jusante. O aumento da probabilidade e duração de secas severas apontam para potenciais declínios no armazenamento de água no Himalaia chinês na forma de neve e gelo.
A seca pode ter grandes impactos na biodiversidade, nos rendimentos agrícolas e nas economias. Este estudo indica que todos os seis países precisarão lidar com o estresse hídrico no setor agrícola, potencialmente por meio da mudança de variedades de culturas ou por meio de irrigação, se houver água disponível. A quantidade de adaptação necessária para lidar com esse aumento na seca, portanto, aumenta rapidamente com o aquecimento global.
As áreas urbanas se saem um pouco melhor e geralmente mostram o mesmo padrão acima. Áreas ao longo de rios e córregos ou com reservatórios podem se sair melhor, dependendo da competição por recursos hídricos e nascentes.
O professor Warren disse: “O cumprimento dos Acordos de Paris pode ter grandes benefícios em termos de redução do risco de seca severa nesses seis países, em todas as principais classes de cobertura da terra e para grandes porcentagens da população em todo o mundo.
“Isso requer uma ação urgente em escala global agora para interromper o desmatamento (inclusive na Amazônia) nesta década e descarbonizar o sistema de energia nesta década, para que possamos atingir emissões líquidas globais de gases de efeito estufa zero até 2050.”
Probabilidade média mensal de uma seca meteorológica SPEI-12 de magnitude -1,5 em amplas categorias de habitat (da ESA CCI, 2015) em a) Brasil b) China c) Egito d) Etiópia e) Gana f) Índia. Consulte as Tabelas SM 1–6 para obter informações discriminadas por classificação mais precisa da cobertura da terra. Mediana baseada em 23 padrões GCM. DOI : 10.1007/s10584-022-03359-2
Price, J., Warren, R., Forstenhäusler, N. et al. Quantification of meteorological drought risks between 1.5 °C and 4 °C of global warming in six countries. Climatic Change 174, 12 (2022).
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No Brasil as secas severas devem aumentar mesmo com aquecimento de 1,5°C - Instituto Humanitas Unisinos - IHU