08 Setembro 2022
Encontrar as palavras não é fácil, porque desta vez, em primeiro plano, não está a habilidade autoral, mas uma figura que domina tudo, que arrasta homens de fé e não, que coloca em crise as regras do poder eclesiástico: "Tudo o que o Papa diz, do início ao fim, pertence a mim. Seus discursos são universais, aqueles que nossos políticos deveriam aprender a fazer." Na Mostra, onde em 2013 ganhou o Leão de Ouro com Sacro G.R.A., Gianfranco Rosi apresenta (fora da competição) sua nova obra em andamento, In viaggio (a partir de 4 de outubro nos cinemas, pela 01 Distribution), dedicada àquelas peregrinações pelo mundo sobre o qual o Papa Bergoglio construiu, ao longo de 9 anos, uma parte fundamental do seu pontificado.
A reportagem é de Fulvia Caprara, publicada por La Stampa, 06-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Gianfranco Rosi afirmou: "Fiquei impressionada com a sua abordagem, o fato de ser um guia pastoral, que nunca faz proselitismo. Descobri a capacidade específica do Papa de se expressar com gestos, com palavras, e muitas vezes também com silêncios, como acontece, por exemplo, nas Filipinas, quando encontra as vítimas do desastre que perderam tudo. A sua linguagem dirige-se aos crentes e também àqueles que, como eu, sempre estiveram distantes desse mundo”. A multidão o aclamam: “É mesmo um papa pop.”
"In viaggio", de Gianfranco Rosi
A empreitada, ressalta o autor, não está terminada, pelo contrário, está destinada a continuar, talvez “com as imagens da viagem a Kiev já aventada, se o Papa a fizer, estarei lá para filmar. O filme é aberto, deve continuar, não sei se Bergoglio sabe que fiz este documentário, mas sei que é seu costume não assistir às projeções de coisas que lhe dizem respeito”. A experiência já ensinou muito, talvez além das expectativas do próprio diretor: "Fazer In Viaggio foi um ato de humildade, uma descoberta intelectual, ainda me sinto um espectador deste filme porque não o vivi em primeira mão, na fase de busca de imagens e da evolução do projeto, e devo dizer que sofri vendo certos vídeos feitos pelas emissoras de TV, mal filmados e pensando em como eu os teria feito. Tive absoluta liberdade para selecionar, dos 800 originais, 200 horas de material do qual, após um ano de trabalho de montagem, tirei os 80 minutos do filme”.
Os temas candentes que Bergoglio abordou estão todos ali, e seus frequentes "mea culpa" públicos pelos crimes de pedofilia, pelo que "os missionários fizeram aos nativos", marcam as passagens mais tocantes dos noticiários: "É um Papa que pede desculpas também por si mesmo, eu me perguntei o que acontece, depois de sua partida, nos lugares onde ele escolheu parar e fiquei impressionado ao vê-lo, sem escolta, nos países africanos onde a guerra civil está acontecendo”. Depois de Fuocoammare, Bergoglio pediu para conhecer Rosi e os dois se encontraram em Malta: "Ali mesmo, observando as imagens de sua oração na Gruta de São Paulo, quando, depois de rezar, ele se levanta levemente claudicante, vi emergir sua solidão". A Via Sacra pelos continentes, os abraços, os olhares olho no olho, os sorrisos trocados com as crianças, não apagam a impressão de um Papa que embarcou numa empreitada talvez impossível: "O filme descreve um homem de boa vontade, mas a pergunta que fica em aberto é ‘o quanto podemos fazer nós, por este homem?’"
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"Em viagem" com o Papa pop Francisco: "Um pontífice livre, solitário e corajoso" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU