30 Agosto 2022
"A abordagem de Francisco acabou irritando o governo de Kiev em várias ocasiões, que novamente esta semana reclamou depois que o Papa dirigiu um pensamento misericordioso, quase uma oração, a Dugina", escreve Franca Giansoldati, em artigo publicado por Il Messaggero, 26-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Provavelmente São Francisco está com o coração partido porque o Papa escolheu seu nome". Um comentário mordaz desse tipo, público e amplamente divulgado nas redes sociais, nunca havia sido feito por um político europeu de autoridade. Quem postou esse juízo muito severo foi Donald Tusk, ex-presidente do Conselho Europeu de 2014 a 2019 e ex-primeiro-ministro polonês de 2007 a 2014, um conservador moderado, não um político grosseiro e tresloucado. A provocar tanta decepção foi justamente a frase pronunciada de improviso na quarta-feira, 26 de agosto, pelo pontífice, durante a audiência geral, sobre a guerra russo-ucraniana que, de fato, colocou vítimas e carrascos, agressores e agredidos no mesmo plano. Francisco mencionava o atentado contra Daria Dugina, filha daquele que é considerado o ideólogo do presidente russo Putin, Aleksandr Dugin, que morreu na explosão de seu carro em 20 de agosto, quando retornava a Moscou, ela mesma uma firme defensora das ideias de seu pai por meio de artigos, intervenções, livros. “Penso na pobre jovem que morreu na explosão de uma bomba debaixo do banco de um carro em Moscou. Os inocentes pagam pela guerra, os inocentes", disse o pontífice.
Até agora, Francisco denunciou fortemente a guerra na Ucrânia, mas sempre tentou manter uma porta aberta ao diálogo com Moscou, evitando condenar a Rússia e Putin ao falar sobre isso publicamente. Sua abordagem, no entanto, acabou irritando o governo de Kiev em várias ocasiões, que novamente esta semana reclamou depois que o Papa dirigiu um pensamento misericordioso, quase uma oração, a Dugina. O fato de ter incluído Dugina como "uma pobre jovem" morta por um carro-bomba em Moscou entre os "inocentes" que foram vítimas da "loucura da guerra" causou a reação em cadeia até do embaixador ucraniano na Santa Sé, Andrii Yurash, que definiu essas palavras "decepcionantes" porque de fato equiparam "agressor e agredido, estuprador e estuprado". Em um tuite, ele perguntou como era possível para Francisco citar uma "ideóloga do imperialismo como vítima inocente".
As palavras do Papa Francisco sobre Dugina estão inflamando não apenas as pessoas na Ucrânia, mas também na Polônia, onde não faltaram duras críticas. No principal jornal Gazeta Wyborcza, por exemplo, e em outro jornal muito popular no país, o Gazeta, que colocou a manchete, beirando a ofensa: "O idiota útil de Putin". Na pátria de São João Paulo II, nenhum pontífice jamais havia sido ridicularizado ou criticado de maneira tão flagrante. Ao Papa Bergoglio, a opinião pública polonesa atribui uma linha demasiado pró-russa, lembrando quando, desde os primeiros dias do conflito, foi visitar o embaixador russo (e não o ucraniano), e colocou no mesmo plano durante a Via Sacra no Coliseu ucranianos e russos, confiando a cruz de Cristo a duas mulheres.
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De “idiota útil de Putin” a “São Francisco se envergonharia”: na Polônia, ferozes críticas a Bergoglio pelas frases sobre Dugina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU