Há dez anos, hoje, Pe. Jacob Muricken foi nomeado bispo auxiliar da Eparquia de Palai, no sul da Índia. Agora, ele está iniciando um novo capítulo de sua vida: como um eremita.

A reportagem é de Luke Coppen, publicada por The Pillar, 24-08-2022.

O que inspirou o bispo de 59 anos a dar o raro passo de deixar o cargo para seguir uma vida solitária de oração? The Pillar falou com o Pe. Joseph Alancheril, sacerdote da diocese de Palai, que o conhece bem.

Falando por telefone de Kerala na quarta-feira, Pe. Alancheril explicou que a jornada não convencional do bispo começou em 2017.

“Ele acordava às três horas da manhã e depois ficava orando por uma ou duas horas. Ele estava orando uma manhã quando de repente recebeu uma revelação, na qual Deus estava pedindo que ele levasse a vida de um eremita”, disse o padre.

O bispo Muricken pensou por vários dias sobre como poderia responder ao chamado à solidão, já que ele era um jovem bispo em serviço na Igreja Católica Siro-Malabar, uma das 23 Igrejas Católicas Orientais em plena comunhão com Roma.

“Ainda que esta seja uma revelação privada para ele e para ele não há problema, está afetando toda a diocese, já que ele é o bispo auxiliar”, pe. Alancheril observou.

Quando o bispo Muricken contou ao bispo Joseph Kallarangatt de Palai sobre sua experiência, seu superior o encorajou a refletir se ele realmente havia recebido um novo chamado ou se era apenas uma ideia que lhe veio à mente em oração.

“Não é tão possível”, disse Pe. Alancheril, “um bispo auxiliar de repente indo para uma vida ascética, deixando tudo e dando um ponto final em todo o trabalho de administração que está fazendo na diocese”.

Mas o bispo Muricken estava convencido de que Deus estava lhe pedindo que abandonasse seu ofício e se dedicasse à vida eremítica. Então o bispo Kallarangatt pediu-lhe para discutir seu desejo com o cardeal George Alencherry, chefe da Igreja siro-malabar.

Houve um debate sobre se tal movimento era mesmo possível dentro da lei da Igreja. Embora existam exemplos modernos de bispos deixando o cargo para se tornarem missionários, é difícil encontrar um precedente para um bispo se tornar um eremita.

Por fim, o bispo Muricken apresentou seu pedido ao Sínodo dos Bispos, que exerce autoridade suprema na Igreja siro-malabar. O Sínodo pediu-lhe que completasse 10 anos como bispo auxiliar, após os quais sua candidatura seria considerada novamente.

“Por isso esperou tanto tempo”, pe. disse Alancheril.

O padre descreveu o bispo Muricken como “a melhor pessoa”, um ativista social comprometido e dedicado aos pobres.

“Vi muitas vezes que ele está ajudando os pobres”, disse ele. “Muitas vezes, ele está visitando orfanatos e então está doando o que quer que esteja recebendo dos outros. E muitas vezes ele estava sentado com eles e servindo comida. E as pessoas têm a impressão de que ele está vivendo como um santo”.

O bispo é tão dedicado a servir aos outros que, em 2016, doou um rim a um hindu de 30 anos que foi forçado a vender sua casa para cobrir os custos do tratamento. A mídia local disse que ele foi o primeiro bispo em serviço a dar esse passo.

Enquanto Muricken espera há cinco anos para começar formalmente a viver como eremita, pe. Alancheril disse ao The Pillar que o bispo, em muitos aspectos, já vive como um eremita há algum tempo – ele consome apenas uma refeição por dia.

“Talvez ao meio-dia, ele faça uma refeição e depois disso, ele não fará nenhuma refeição pesada, mas ele estará bebendo um pouco de água. Isso é tudo. Ele não está usando leite. Ele não está comendo carne. Ele não está comendo ovos. Ele não está comendo peixe. Só vegetais”, disse ele.

O padre confirmou relatos de que algumas vezes em sua vida, o bispo andou sem sapatos.

“Em suma, podemos dizer que, desde o início, ele praticava a vida de eremita ou vida ascética”, comentou pe. Alancheril. “Isso [tornar-se um eremita] é apenas talvez um cumprimento do que já vem sendo praticado por ele há muitos anos”.

Pe. Joseph Alancheril, segundo da esquerda, com o bispo Jacob Muricken.

Foto: cortesia | The Pillar

De acordo com o padre, o bispo Muricken é rápido em encerrar qualquer conversa sobre ele ser um santo.

“Qualquer elogio ou qualquer coisa que estejamos dizendo sobre qualquer elogio, ele de repente o interromperá. Ele não gosta”, disse.

Acrescentou que o bispo sempre desaparecia alguns dias antes do dia do seu nome, para evitar o costume local de receber presentes e votos de felicidades.

UCA News informou que o bispo Muricken deixou a residência de seu bispo em 15 de agosto e se mudou para um eremitério. Ele disse que está disposto a “desempenhar os deveres de um bispo em caso de emergências” – por exemplo, quando nenhum outro bispo está disponível para presidir uma ordenação.

Ele viverá como um eremita a cerca de 32 quilômetros da Casa do Bispo em Palai, em um local frio e montanhoso chamado Nallathanni.

“É um lugar calmo. Não há muitas casas ou edifícios”, disse pe. Alancheril. “Ele é um cozinheiro muito bom. Ele sabe cozinhar as coisas muito bem”.

O padre disse que ele e um colega esperavam visitar o bispo em breve.

“Muitos acharam que ele não vai receber ninguém. Mas não é assim”, disse.

“As pessoas estão chegando. 'Se as pessoas têm o desejo de me conhecer, não vou deixá-las em desespero. Vou conhecê-los', diz ele. Ele é uma pessoa tão legal”.

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