12 Agosto 2022
A reportagem é publicada por Religión Digital, 11-08-2022.
O Santuário de Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, foi cenário, neste domingo, 7 de agosto, do evento de lançamento da campanha " #ParaCadaUma", promovida pela Organização do Nações Unidas, através da iniciativa global “Verified” que trata da violência doméstica e familiar contra a mulher.
Na atividade, foram feitas projeções no monumento do Cristo Redentor, uma das sete maravilhas do mundo moderno e Patrimônio Mundial da UNESCO, com nomes de mulheres e os tipos de violência previstos na regulamentação. Houve também um ato inter-religioso que contou com a presença do Arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, e do Secretário da Comissão Arquidiocesana para o Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso, Diácono Nelson Águia, e representantes de oito religiões diferentes. Também estiveram presentes Luzia Lacerda, coordenadora do Instituto Expo-Religião, e Izaías Carneiro, presidente da Missão Somos Um.
Os representantes religiosos que participaram foram: Paulo Maltz, diretor de Assuntos Inter-religiosos da Federação Judaica do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ); o monge budista Dokan Sensei; o babalorixá Pai Márcio de Jagun, do candomblé; Alexandre Pereira da Silva, diretor de Assuntos Inter-religiosos do Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro; Agda Floriano de Oliveira, diretora do Conselho de Igrejas Cristãs do Estado do Rio de Janeiro e da Missão Somos Um; Kunti Devi Dasi, de Hare Krishna; e Daniela Francisca Urzúa, diretora do Departamento Educacional da Sociedade Benevolente Muçulmana do Rio de Janeiro.
“Bem-vindo ao morro do Corcovado neste momento especial de integração, de diálogo, que não é ocasional, mas constante através de encontros semanais, enfatizando cada vez mais a cultura da paz, que tanto faz bem à sociedade. O tema do combate à violência contra as mulheres é de grande importância, com repercussão em todo o país. O Cristo Redentor acolhe e abençoa a todos em sua paz", disse o reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo, na abertura do evento.
Cardeal Orani, Arcebispo do Rio de Janeiro (Foto: Vatican Media)
A campanha #ParaCadaUma, conforme explica a antropóloga Beatriz Accioly, representante do Instituto Avon e que também foi mestre de cerimônias, visa abrir conversas e caracterizar cada uma das formas de violência que atingem as mulheres e as relações nos espaços domésticos e familiares.
“ Acreditamos que transformação e informação são as chaves para a mudança. Cada pessoa é convidada a identificar situações de abuso e estupro e assim contribuir como rede de apoio e acolhimento para mulheres em situação de violência, e que cada uma seja dona de si história", disse o antropólogo.
"Quando sabemos nomear e identificar uma experiência, fazemos com que ela exista e abrimos a porta para a ação. Por que falar? Aprendemos muito com as religiões , o que também é uma experiência de cura. Juntos vamos mais longe", acrescentou Beatriz Accioly, e destacou que a campanha conta com o apoio do Instituto Avon, que atua em defesa dos direitos fundamentais das mulheres.
Evento inter-religioso para abrir a campanha pela erradicação da violência contra a mulher (Foto: Vatican Media)
O objetivo da campanha #Paracadauma do projeto "Verificado", conforme explica Roberta Caldo, em nome do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (Unic-Rio), é tornar cada um dos cinco tipos de violência contemplados no Maria da Penha - psicológica, moral, patrimonial, sexual ou física - são identificadas e nomeadas, abrindo espaço para o enfrentamento de cada uma delas.
"Trazer o assunto à tona também é conscientizar as pessoas de que qualquer tipo de violência contra a mulher não só é inaceitável, como é crime. Informação é poder e o poder de alertar e denunciar a violência contra a mulher está em nossas mãos, também no sindicato. de todos”, disse Caldo.
O ato foi animado pelo cantor e compositor brasileiro Kell Smith, que interpretou as músicas "Era Uma Vez", "Respeita as Mina", "Seja Gentil" e "Vivendo".
Participantes do lançamento da campanha "#Paracadauma" (Foto: Vatican Media)
Em sua mensagem, em nome da Igreja Católica, o Cardeal Orani parabenizou a iniciativa da ONU e o apoio do Instituto Avon, agradeceu a escolha do Santuário Cristo Redentor para o lançamento da campanha em nível nacional e espera que tenha repercussão em todo o mundo. Ele também deu as boas-vindas aos representantes das diferentes religiões presentes e que todos “se sentem unidos às outras religiões que procuram viver e valorizar o diálogo, a fraternidade e a paz”.
O arcebispo considerou que o evento foi uma oportunidade para “pensar sobre as situações de violência que ocorrem longe no mundo, como as guerras e invasões, mas também as que estão próximas, como a violência verbal e digital”. “Havia uma certa ideia de que nossa casa era um lugar seguro, mas há situações que acabam mostrando o contrário quando, por exemplo, as mulheres sofrem violência e perseguição em sua própria casa, em sua própria vida familiar”.
Orani expressou que a Lei Maria da Penha, que inclusive exigia intervenção internacional para ser aprovada, deve ser valorizada, divulgada e respeitada. “É preciso esclarecer, educar e falar sobre o assunto para que as situações de violência sejam revertidas, para que o respeito seja dado a partir de casa, já que é um dos lugares mais sagrados”, disse.
Para destacar a dignidade da mulher, o arcebispo lembrou, segundo a doutrina católica, que "Deus quis viver entre nós e para isso escolheu uma mulher, Maria, que se tornou mãe de Jesus, que é Deus, portanto, Mãe de Deus. Algo impensável e aparentemente impossível para nós, mas que manifesta a dignidade da mulher”.
Ao mesmo tempo, o arcebispo destacou: " Estamos longe de praticar a fraternidade, o respeito, o amor mútuo . No entanto, devemos continuar pregando o amor a Deus e o amor ao próximo, e ao próximo, seja ele quem for, qualquer religião ou ideologia.Todas as pessoas merecem respeito, especialmente as mulheres.
Orani lembrou que as autoridades devem ser solicitadas a desempenhar as funções que lhes são confiadas, "para que haja espaço para a denúncia, investigação e condenação daqueles que não cumprem as leis". Além disso, devem também “promover a educação, começando pelas escolas e pela mídia”.
Ao final de sua mensagem, o arcebispo ressaltou que as religiões e a sociedade civil também têm a responsabilidade de viver, pregar o respeito e defender as mulheres, já que “foram escolhidas para serem sinal de fecundidade, nascimento e maternidade no lar, e um sinal de amor na sociedade". Para que as situações de violência acabem e se produza um mundo melhor, o arcebispo lembrou que é preciso participar da campanha #Paracadauma. "Não se pode ficar do lado do silêncio. Calar seria favorecer o violento, o agressor."
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#Paracadauma: campanha pelo fim da violência contra a mulher no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU