21 Julho 2022
Se em nosso mundo o clima está cada vez mais em risco e há sinais claros do derretimento das geleiras (não apenas as árticas, mas as da nossa casa, e devemos chorar por aqueles que perderam a vida) a arte do cinema reflete sobre um mundo que virá, em que o apocalipse já aconteceu, até várias vezes, e o homem é chamado a um novo começo.
O comentário é de Marco Staffolani, padre passionista italiano, publicado por Settimana News, 20-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma das provocações mais recentes nesse sentido é Perdidos no Espaço, lançado na plataforma de streaming Netflix de 2018 a 2021 em três temporadas. A contínua piora das condições de vida do nosso planeta leva os seres a fugir da catástrofe fazendo viagens para as estrelas. O destino do grande grupo de colonizadores será um planeta do sistema Alpha Centauri.
A nave-mãe reúne em si muitas naves espaciais menores, cada uma habitada por um núcleo familiar. Os eventos da série se concentram na família Robinson. Mãe e pai (Maureen e John) e os filhos (Judy, Penny e Will) enfrentarão os perigos do espaço e farão crescer seu vínculo contra todos os tipos de provações.
A tarefa conjugal e parental é árdua. A relação entre Maureen e John é marcada por vários desentendimentos que viveram antes de deixar a Terra. Somente "em órbita", forçados pela precariedade das situações e pela necessária ajuda mútua, encontrarão o entendimento que os tornará guias para o novo mundo de seus três filhos.
Não se nasce irmãs, torna-se irmãs. Judy e Penny vivem uma forte competição. A inveja surge entre Judy, quase uma menina prodígio, filha apenas de Maureen e não de John que a adota, e Penny filha biológica de ambos, atormentada pelo complexo de inferioridade em relação às características de inteligência da irmã adquirida. Serão as palavras dos pais a permitir que as duas filhas vejam mutuamente suas riquezas escondidas.
Muito verissímil também é o personagem mais novo da família, Will. Seus problemas e capacidades evoluem ao longo da série e passam do estado de infância ao da adolescência, mostrando como os primeiros fiascos que colocaram em risco a vida de outros integrantes são apenas uma lembrança distante do trabalho realizado em favor de toda a comunidade colonizadora, em particular, tecendo uma relação amigável com o robô alienígena (bom), fundamental para continuar a viagem para o novo mundo.
As aventuras da família espacial, que nunca carecem de suspense e originalidade, mostram um contato próximo, mas respeitoso com a natureza graças a cenários espetaculares que dão muita credibilidade aos exoplanetas visitados.
Finalmente, gostaríamos de ressaltar como o papel das mulheres é central. A chefe da família é definitivamente Maureen, que incentiva os filhos a serem autônomos e empreendedores; planeja os resgates transformando a nave espacial em um casco que singra os mares do mundo cobertos de água, e consegue salvaguardar a unidade da família ditando os passos do motim da nave-mãe Resolute para o bem de toda a tripulação.
Seu marido John corre o risco de ficar em segundo plano, adaptando-se aos planos de sua esposa, mas também tem seus momentos de destaque como o resgate de Maureen do "frio cósmico" quando ela é literalmente expulsa da Resolute pelas perseguições do comandante, equipada apenas com o traje espacial.
A outra categoria celebrada é a das crianças e dos adolescentes. Podemos ler uma tentativa de derrubar o estereótipo clássico da família patriarcal (em que o poder decisivo estava nas mãos de homens adultos) em favor de um reequilíbrio das tarefas e da dignidade de todos os membros. Os novos "filhos da tecnologia" têm, portanto, realmente algo a ensinar aos adultos... sem desdenhar, no entanto, aprender sua antiga sabedoria!
As cenas que nos fazem pensar são os resgates que as crianças fazem de seus pais. Emblemática é a cena em que Judy emprega todo o seu potencial salvando o pai que acabou no fundo de um poço. Com risco de vida, ela enfrenta o ataque iminente de raptor alienígenas (estilo Jurassic Park), encontrando coragem nas lembranças da infância, quando o pai adotivo a fazia sentir-se segura com sua presença, permitindo-lhe superar o medo de cair da bicicleta.
A terceira (e última) temporada confirma a fórmula vencedora da família que sobrevive ao apocalipse: a luta contra os robôs alienígenas (e sua má programação) termina a favor dos humanos graças ao trabalho em equipe e à humanidade que cada um manifesta. A colônia de Alpha Centauri é assim salva da invasão robótica, e os Robinsons encontram trégua depois de ter vagado por anos no espaço dentro de uma nave espacial: finalmente as famílias podem se encontrar celebrando em frente a uma mesa (não em órbita) com comida de verdade.
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“Perdidos no Espaço”: a família e o apocalipse - Instituto Humanitas Unisinos - IHU