Danças africanas na Basílica de São Pedro

Congoleses durante celebração na Basílica de São Pedro | Foto: Vatican Media

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05 Julho 2022

 

"A norma geral que exige, na África como em outros lugares, o celibato do presbítero da Igreja latina, choca-se com a mentalidade das pessoas e causa estranhamento com a estrutura eclesial", escreve Luigi Sandri, jornalista, em artigo publicado por L'Adige, 04-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini

 

Eis o artigo. 

 

Danças sagradas, ontem, na Basílica de São Pedro, onde o Papa celebrou missa para a comunidade congolesa em Roma, enquanto o Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, estava em Kinshasa, como mensageiro (e depois será no Sudão do Sul) daquela saudação que o pontífice, devidos a problemas no joelho, não pôde levar pessoalmente, adiando assim uma peregrinação que deveria começar ontem, passando pelos dois países africanos sobrecarregados por graves turbulências políticas e sociais.

 

 

É neste contexto que se insere o rito de domingo; mas, para enquadrá-lo, é preciso dar um passo atrás. No Concílio Vaticano II (1962-65), uma das vozes africanas de maior autoridade foi o Cardeal Joseph Albert Malula, arcebispo de Kinshasa: ele defendeu fortemente a causa da "africanização" da Igreja Romana em todo o continente africano. O início, naquela oportunidade, foi uma modificação significativa da liturgia, especialmente da Missa: nesta, de fato, foram introduzidos símbolos e gestos típicos da África, especialmente equatorial, entre os quais, justamente, as danças sagradas de homens e mulheres.

 

A palavra "dança", na nossa mente europeia, suscita um pouco de espanto, e até de escândalo, se ligada à "liturgia": uma atitude que é filha de uma tradição latina que, por várias razões, foi progressivamente desvinculada de uma forma de se expressar que antes era natural, em certas circunstâncias, no judaísmo: a Bíblia, de fato, narra que o rei Davi dançou com grande alegria diante da Arca da Aliança.

 

Por isso, a "Missa do Zaire" apropriou-se em parte dos costumes das etnias do Congo (= Zaire, cinquenta anos atrás). Mas essa "encarnação", no campo litúrgico, é apenas um primeiro e tímido passo para a "africanização": de fato, o "sacerdote", em alguns ritos ancestrais do continente africano, é um homem - e às vezes uma mulher - com uma família; é impensável que uma pessoa celibatária conduza essas cerimônias. Por isso, a norma geral que exige, na África como em outros lugares, o celibato do presbítero da Igreja latina, choca-se com a mentalidade das pessoas e causa estranhamento com a estrutura eclesial.

 

A diferenciação, nos vários continentes, da liturgia e da estrutura eclesial coloca naturalmente complicados problemas canônicos e práticos; mas é esse o caminho, se a Igreja Romana quer ter um futuro. Esse problema, várias vezes levantado por teólogos e historiadores, pesa também sobre o Sínodo dos Bispos que vai se realizar em outubro de 2023. De fato, nos "desiderata" que de vários países as respectivas Conferências Episcopais enviam à Roma tendo em vista aquele encontro, de muitos quadrantes pede-se uma modificação substancial da lei eclesiástica sobre o celibato obrigatório do clero latino, bem como a abertura dos ministérios para as mulheres.

 

Não é certo que as escolhas sejam as mesmas para todas as Conferências: algumas poderiam dizer "sim" enquanto outras reiteram "não". Espera-se, portanto, um pluralismo de escolhas que comportará abalos e contrastes: mas o caminho parece obrigatório, para responder aos desafios do tempo. Não apenas na África.

 

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